quinta-feira, dezembro 30, 2004

O que tem de Novo no ano?

Tche, as veis fico me perguntando o que tem de novo nesse ano que vai entrar amanhã? Pues que além do 5 nos 2000, o resto não tem nada de novo. Bagé continua sendo a rainha da fronteira, Viamão a capital do Rio Grande, Três de Maio a cidade origem do capando touro a unha e por fim, Ijuí continua dominando o mundo. A percanta tá cada vez mais linda com aquelas crinas avermeiadas, mi hermano curador vai casar, o castrador vai cuida do piá que vai nascer, e o maneador, bueno, o maneador é novo chino, um amante latino...
Mas bueno, feliz troca de numerozinho...
Quebra-costela
Do interior do Rio Grande...

terça-feira, dezembro 28, 2004

Já faz um tempito...

Já faz um tempito que o Capando está na Web. O que é mais curioso é que essa iniciativa começou de arreganho, e o pior, é que deu certo. Éramos três, depois quatro qüeras muito interessados na cultura do nosso pago. Cada um com seu estilo acho que fizemos do Capando um mosaico mui capeiro coloriado de pitanga, guabijus, maçanilha... Nossos visitantes, creio que são tão plurais quanto nossotros e isso é bueno uma barbaridade. Se não fossem os chasques dos patrícios, talvez, não postassemos com tanta regularidade. A todos nosso muito obrigado. E aos meus amigos e cumpadres do Capando deixo meu abraço fraterno e a mais sincero sentimento de que esta lida se prolongue por longos anos.

Porto Alegre, cheia de dezembro.

sábado, dezembro 25, 2004

Feliz Natal!

Que neste Natal Jesus possa renascer em nossos galpões trazendo paz, esperança e salvação. Que este menino-Deus nos mostre o sentido da vida verdadeira como somente as crianças podem ensinar. Termino este com alguns versos do D. Jaime. Que Dios os bendiga.


E o Nazareno que vem,
Das bandas de Nazaré,
Chasque divino da fé,
Rastreando a luz de Belém,
Ele que vai morrer também,
Pra cumprir as profecias.
É Natal - nasce o MESSIAS,
Salve o Menino Jesus!
Mas o que fogem da luz,
O matam todos os dias.

Presentes - "Papais Noéis",
Um ano esperando um dia,
Quando a grande maioria,
Sofre destinos cruéis.
O amor pesado a "mil-réis",
E mortos vivos que andam,
Instituições que desandam,
Porque esqueceram JESUS,
O que precisa, é mais luz,
No coração dos que mandam!

Que os anjos digam amém,
Para completar a prece,
Do gaúcho que conhece,
As manhas que o tigre tem.
Não jogo nenhum vintém,
Mesmo sendo carpeteiro,
Mas rezo um Te-Déum campeiro,
Nessa Catedral selvagem,
Pra que faça Boa Viagem,
O enteado do Carpinteiro!

Rio Grande, crescente de dezembro.

domingo, dezembro 19, 2004

Despedida

Que tristeza lhe encheu os olhos naquela manhã em que bombeou o piazito pela última vez. Sabia que era a derradeira, não por planos ou previsão, mas porque o desgraçado destino o tinha traçado assim. O guri acenava com a mesma certeza no semblante e uma lágrima sestrosa veio molhar-lhe o nariz. O dia nem bem raiava, mas este, parecia tão escuro como noite de lua nova. Montando no mouro, as encilhas puídas e uma queixa mui amarga no peito. Porque tinha que partir? Porque!? O restante da gurizada dormia, se não dormia deixaram-se ficar nas camas para não vê-lo partir. Apenas o piazito tivera a coragem de dar-lhe adeus. Sempre que olhava para este o sabia mui valente e se orgulhava. Segurou firme nas rédeas, apertou o barbicacho e cutucou nas ancas do mouro, este saio num trotezito entonado. O taura já não olhava para traz, talvez porque não quisesse ver o filho chorar, talvez por não querer que lhe visse chorar. Assim partiu, rumo as barras do dia novo que lhe preparavam as mais amargas venturas.
Porto Algre, cheia de dezembro.

quinta-feira, dezembro 16, 2004

ARTIGOS DE FÉ DO GAÚCHO

Diretamente de Contos Gauchescos de Simões Lopes Neto, pra provar pros calavera que nóis também somo uns homê de muita fé!

"Muita gente anda no mundo sem saber pra quê: vivem porque vêem os outros viverem.Alguns aprendem à sua custa, quase sempre já tarde pra um proveito melhor. Eu sou desses.Pra não suceder assim a vancê, eu vou ensinar-lhe o que os doutores nunca hão de ensinar-lhe por mais que queimem as pestanas deletreando nos seus livrões. Vancê note na sua livreta:
1º. Não cries guaxo: mas cria perto do teu olhar o potrilho pro teu andar.
2º. Doma tu mesmo o teu bagual: não enfrenes na lua nova, que fica babão; não arrendes na miguante, que te sai lerdo.
3º. Não guasqueies sem precisão nem grites sem ocasião: e sempre que puderes passa-lhe a mão.
4º. Se és maturrango e chasque de namorado, mancas o teu cavalo, mas chegas; se fores chasque de vida ou morte, matas o teu cavalo e talvez não chegues.
5º. A maior pressa é a que se faz devagar.
6º. Se tens viajada larga não faças pular o teu cavalo; sai ao tranco até o primeiro suor secar; depois ao trote até o segundo; dá-lhe um alce sem terceiro e terás cavalo para o dia inteiro.
7º. Se queres engordar o teu cavalo tira-lhe um pêlo da testa todas as vezes da ração.
8º. Fala ao teu cavalo como se fosse a gente.
9º. Não te fies em tobiano, nem bragado, nem mela-do; pra água, tordilho; pra muito, tapado; mas pra tudo, tostado.
10º. Se topares um andante com os anelos às costas, pergunta-lhe - onde ficou o baio?...
11º. Mulher, arma e cavalo do andar, nada de emprestar.
12º. Mulher, de bom gênio; faca, de bom corte; cavalo de boa boca; onça, de bom peso.
13º. Mulher sardenta e cavalo passarinheiro... alerta, companheiro!...
14º. Se correres eguada xucra, grita; mas com os homens, apresilha a língua.
15º. Quando dois brincam de mão, o diabo cospe vermelho...
16º. Cavalo de olho de porco, cachorro calado e homem de fala fina? sempre de relancina...
17º. Não te apotres, que domadores não faltam...
18º. Na guerra não há esse que nunca ouviu as esporas cantarem de grilo...
19º. Teima, mas não apostes; recebe, e depois assenta; assenta, e depois paga...
20º. Quando 'stiveres pra embrabecer, conta três vezes os botões da tua roupa...
21º. Quando falares com homem, olha-lhe para os olhos, quando falares com mulher, olha-lhe para a boca... e saberás como te haver...
...................................................................................................................................................
Que foi?Ah! quebrou-se a ponta do lápis?Amanhã vancê escreve o resto: olhe que dá para encher um par de tarcas!... "

Dos interior da Provincia, dezembro de 2004

Uma mandinga das forte...

Andam nos questionando Rio Grande a fora porque que só o maneador não se arregla com nenhuma china, bueno, depois de muito matuta chegamo a conclusão no último churrasco, o homem tá com olho grande. Entonces, resorvemô "bosteá" uma mandinga das forte pra espantar mal olhado:

MANDINGA CONTRA OLHO-GRANDE
Banhos De Ervas:
- arruda macho (a arruda fêmea tem folhas negativas);- alfavaca-levante.
Pode-se comprar as folhas secas e botar em infusão na água quente. Deixar esfriar para tomar o banho de manhã cedo - da cabeça aos pés.Outro modo de preparar o banho é macerar as folhas com as mãos dentro d'água até a água ficar escura. Deixa-se descansar e toma-se o banho - sempre frio - dá cabeça aos pés - pela manhã.

No caso do Maneador, o negócio é toma banho com água escaldando...quebra-costela, hermano!
Dos interior da Provincia, dezembro de 2004.

Retovando as porvadeiras....

Buenas indiada,

Depois de uns atrasos graças a um capão que se desgarrou, tamo aí de novo pra "bosteá" um chasque de fundamento. Queremo dizer que temo a crença de que o tal de mundo é uma porção de terra ao redor do Rio Grande, mas também arreglamo a idéia de que nasceram alguns gaúchos fora do Rio Grande. Em especial, aquela turma buena lá de Lages..um retovado quebra-costela...pra indiada, em especial pra Dna.Cláudia "Tirana", que aprecia a cachorrada aqui do Capando...
Dos interior da Provincia, Dezembro de 2004.

Peçuelos Entesourados


O Sonho do Carreteiro
Luiz Menezes
Carreteou anos a fio.Conhecia palmo a palmoas estradas da querência;Sabia onde dava passo- no tempo das enxurradas -aquele arroio sotretacemitério de carretadisfarçado em água mansaVira nascer muitos ranchosnesse corredor sem fim.Sabia que na picadalogo depois do lagoão,o umbu do enforcadodera lenda prás estóriasdos bolichos, das ramadas.Sabia bem todo o causoda tapera do repecho:A maula traíra o guascae este sem dó nem piedade,cortara junta por juntao belo corpo morenodaquela indiazinha loucaque se engraçara num piá ...Mas além, no Passo-feiovira morrer um tal Juca.Eram três contra o rapaz.E como morrerra lindoaquele guasca sem medo ...A estória ficou em segredopois diz que o tal de mandanteera mui relacionado,e até contraparentede um graudaço do povo.Conhecia palmo a palmoas estradas da querência,sempre fora carreteiro.Envelhecera na lidasem conhecer outra vidasem ter outra ocupação.Tinha por seu ganha-pãoa velha carreta amigacompanheira de cantigadaquele piazinho vivoque era, alegria e motivode seu final de existência.Pois ficaram bem solitosmais amigos do que antesdes?que a finada se fora ...Por isso sempre de noitea meia luz do candieiroficava horas inteirasmostrando prá seu piazinhoas letras do ABC.E o piá com muita memóriadecorava uma por umaas letras que galopeava,ou por outra, engarupavanas palavras do jornal.Como era esperto o guri:Foi duas, três paletadasjá sabia mais que o pai ...E foi numa dessas noitesque o velho e bom carreteiroteve um sonho de repente.E quasi num gesto loucogritou prás quatro paredesenfumaçadas do rancho:Meu filho há de ser doutor!Não há de ser carreteiro,pois estas mãos calejadasdo peso-bruto, da enxada,hão de sangrar no trabalhoprá que este piazinho feioviva melhor do que eu ...Pura e santa ingenuidade!O arroio-sociedadeprá o pobre nunca dá vau!!No outro dia cedinhoenveredou para o povo ...Voltava a velha carretaA resmungar nas estradasna viajada da esperançacarregadinha de sonhos.E o pobre e bom carreteiroia falando de tudocom seu piazinho faceirodentro da bombacha nova.Não esquecia de nadanos seus conselhos de pai:Se lá no povo à tardinhao piá sentisse saudade,bombeasse prá o horizonte,que alguém solito decertomeio tristonho é verdade,mateando assim com saudadeestaria a lhe esperar ...Que importa se demorasse,pois nunca ouvira dizerque a tal saudade matasse.Mas nesse dia por certoQuando voltasse doutortudo havia de mudar.Até o céu com certezamorada das almas purasouviria com ternurauma indiazinha chorar.E as estradas da querênciaque conhecia demais,lhe viram passar felizcom novo brilho no olhar.Mas lá no povo - cuê-puxa! -Bateu em todas as portasclamou por todos os santosrecorreu todos os amigos- muitos dos quais ajudara -andou quase mendigando,Prá dar escola pra o filhomas ninguém quis lhe escutar... E a esperança foi mermandofoi mermando ... e se apagou.Botou a carreta na estradao Piazinho dentro delatocou de volta outra vez.A noite então já chegara.Naquela enrugada carade gigante das estradasuma lágrima teimosaveio molhar-lhe o nariz ...Olhou o filho com carinho,mas com muito mais carinhoCom mais amor do que antese uma queixa derramou:Quem nasce lutando buscaa morte por liberdade!Mentira! A tal de igualdadenão existe por aqui... Que adianta se amar aos outrosse os outros não dão amor?Pega a picana, piazinhoe acorda esse boi manheiro,pois filho de carreteironunca pode ser doutor!!

Porto Alegre, minguante de dezembro.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Ginete

"Cutuca na picanha!", gritava junto ao alambrado o patrão. Homem mui sério, dono de um vasto bigode, um corpanzil que apesar da idade inda se mostrava forte e um vozeirão, que num rompante, fazia a peonada tremer. "Dá-lhe rédea.", "esporeia" bradava eufórico o patrão. E o pobre ginete se via apertado. O vermelho corcoveava, escarciava e mudava de direção abruptamente e o homem, como que feito de mola, ia de um lado ao outro sem cair do lombo do maula. Que polvadeira levantou. Parecia até que eram dezenas de cavalos e não apenas um que corcoveava. Eram dois tauras peleando. Cada qual com seus objetivos: um pela liberdade; outro pelo soldo, pelo nome, pelo patrão. Quando estava no alto, no ápice do corcovo, o índio bombeava e via lá longe a estância e perdia-se num pensamento: Maria Rita. A filha linda daquele patrão que ralhava e gritava com ele. Estaria agora com o terço na mão, desfiando lentamente numa lamúria, pedindo a Virgem que protegesse aquele peão. Ah, Maria Rita, quanto desvelo, quanto afeto para te dedicar! E o ventena não desiste em seu entono de redomão. O ginete que por mirar a estância se perdera num sonho, volta a grudar-se nas rédeas e trata de fincar as esporar neste infame.
Com a cara vermelha, lambuzada pela terra que os corcovos levantavam e que no rosto se misturaram ao suor, parece até um índio ancestral. Desses que habitavam estes rincões antes de qualquer outro. Parecia que as gotas de suor que escorriam da testa e desprendiam-se do corpo na ponta do queixo eram sangue da terra, do homem e do cavalo. Foi quando num repente, o maula atracou-se na cerca da mangueira. Cuê Pucha! E o ginete olhos esbugalhados, veias saltadas pela força que empreendia, vira o malino atracar-se na cerca em desespero vira, também, o chão, a terra... e quando tentava levantar vira duas patas erguidas no ar, olhos como de um demônio e uma estocada na fronte. O céu tingiu-se de rubro e em meio a este rubror pode ver Maria Rita, na frente do oratório terço na mão, mãos mui brancas e delicadas, que virava para ele e lhe estendia os braços em abraço.
Desfaleceu sorrindo, os olhos abertos enquanto o patrão e a peonada se benziam.
Porto Alegre, nova de dezembro.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Bonito umas quantas veis...

Tche, agora sim tá bueno, o chinaredo tá alvoraçado de agarra nosotros pelas ruas a fora...Bendita hora que "bostearam" esta foto no blog. Tamo facero, unas quantas veis, também uns tauras destes...mas bah...
Se preparem que para o ano de 2005 teremos unas novidades...e entonces, hasta la vuelta, hermanos....

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Retrato dos Bunitos

Suspiro de muié é um som lindo por demás, para incentivar tal ato, coloco essa foto dos quatro macanudos que escrevem nesse blog campeiro pra mais de metro.


quarta-feira, dezembro 08, 2004

Envaretado

Tchê, hoje é um daqueles dias que o índio acorda de guampa torcida e, Deus o livre, de alguém se atravessar na frente. Isso é potencializado quando se é um qüera mui tranqüilo, como yo. Bueno, depois de uma manhã de calmaria, a tarde foi de descogatar qualquer um e da noite nem se fala: um filmezinho holywodiano desses com uma moral puritana e pra arrematar, avaliação. Fico pensando que a faculdade me faz, as vezes, perder ulgumas faculdades importantes, principalmente a calma. Mas, o que fazer!? O jeito é agüentar, já que, o ano está terminando. Patrícios, peço escusas pelo envaretamento é que de vez em quando o saco é pequeno para tanta baboseira. Faço votos que amanhã seja um pouquito melhor.

Porto Alegre, minguante de dezembro.

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Letraiada Redonona

Hoje as letras estão redomonas. Não hay quem as embuçale. Se largaram a la cria, e eu cá neste petiço cansado já não as trago no laço como antes. Como o campo idéia é mui largo se bandearam pro rumo do capão e não tem vivente que tire essa tropilha de letras daí de dentro. O petiço é sestroso e já vem esgualepado de um dia de lida. Que fazer? Desencilho na beirada do capão e espero que saiam. Enquanto não vêm, cevo um mate faço um foguito e pito para espantar a musquitama que se alvorota. Que lida bem braba seu! Ficar embretado por causa de umas letrinhas. Como não hay solução o jeito é esperar, quem sabe a sorte mude e depois da sesteada essa tropa marvada pra mangueira consiga levar. Me lembro certito de cada uma delas: as malhadas são "us", as salinas "as" e assim por diante todo o "abc". Mas de que adianta lembrar se esse praguedo se toco no mato e não há quem tire. Como não ideio nada, é melhor encilhar tocar pro rumo das casa e amanhã madrugadita volto pra, de novo, tentar engarupar uma a uma essa tropilha de letras
.
Porto Alegre, cheia de dezembro.

terça-feira, novembro 30, 2004

Carancho

T... tinha a incerteza na alma daqueles que plantam e espera mui larga daqueles que colhem. Mirava a ressolana que castigava a lavoura. Um campito detrás do rancho meia dúzia de pés de milho, mas que eram muito importantes. Havia galinhas no pátio cacarejando pedindo bóia, um matungo judiado que também ganhava milho, filho e a mulher. Nem imaginava ter que pedir de novo uns cobres pro coronel. Por causa dessa sandice perdera o campo do fundo no começo do mês. O que mais lhe sangrava no peito eram os piazitos mui magros que tenteavam de bodoque as perdizes no capoeral. Essa safra o Patrão do céu vai ser bueno comigo, deve mandar a chuva para a lavoura vingar. Pura e santa ingenuidade. A chuva não veio, o campo se fez morte e não vida e um dos piazitos, por fraqueza, não cruzou o inverno brabo. Uma mágoa queixosa bateu-lhe nos alhos e a chuva que não veio nas lágrimas se mostrou. E o sal que lhe molhava o rosto, deixando a boca em fel lhe fez erguer os olhos e clamar para o céu. Que Deus olhasse para sua desgraça e mandasse ventura ou olhe dizimasse a raça.
Na madrugada campeira não foi T... que chorou mas o céu - morada das almas puras - que mandou água e esperança para este rancho de um carancho que cismava em acreditar e sonhar.
Porto Alegre, cheia de novembro.

sábado, novembro 27, 2004

A Lua que posso tocar

Quando mirei a lua redonda, não no céu, mas seu reflexo no lagoão, senti que o mundo era bueno uma barbaridade. E eu que vinha a trote, do povo para a estância, parei num repente e fique ali bobeando aquela lua mui linda que vez por outra se mexia, pelas maretiadas dos biguás. Compreendi, então, porque muitos a transformaram em deusa. Grande, redonda com aquelas manchas escuras cheias de segredos. Além do mais, és Lua, nome bonito de china que enfeitiça tanto quanto aquela do Jarau. Mas teu encanto é diferente, não é a plata que consome o índio por dentro, é o teu segredo a melodia do teu nome. Quem sabe um dia tu foste mulher, de carne e osso, que pucha! A mais bela entre as outras devias ser. Terias cabelos negros de noite, olhos mui negros, também, estes, doces e escuros como a guabijú e de pele morena... sim morena, porque a deusa dos meus sonho tem a pele morena como cuia, como terra. Eras tão bela que nosso Patrão te quis junto dele e mais, te quis como deusa, como mistérios, como um querer que não se alcança. Apeio, levo a mão para tocar o teu reflexo e o que encontro é a água fria, morta do lagoão. Que pealo, pensar que as deusas poderiam habitar entre paisanos tão rudes e tão simples. Lavo a cara e as lembranças, pé no estrivo dou uma última mirada como que num adeus e a trote largo me bandeio para a estância onde a Lua também é morena e nessa sim, posso tocar.

Porto Alegre, cheia de novembro.

quarta-feira, novembro 24, 2004

Temô de Volta

Enfim a tranqüilidade! Pois é patrícios, hoje desatei a soga do gateado, lavei o lombo suado e o soltei no pasto. Quanto a mim, estendi o baxero os peleguitos e me atirei debaixo da figueira para uma buena sesteada. Foi-se a lida empeçada, ficou o cansaço e a esperança de que ela não fora em vão. No mais ando tocando cavalo. Fim de ano é sempre uma galopeada em disparada, mas já estou contando os dias pras féria, e daí, me toco pro meu interior. Gado, campo, minha Florecita pra matear nas manhãnitas do pago, isso que é vidão. De agora em diante o velho Curador volta ativa, e os que já estavam pensando em deixar de visitar o Capando por falta de peçuelo, podem ir desistindo. Bueno, patrícios por hoje é isso, to bem esgualepado e a cabeça anda pedindo traveseiro, entoces, hasta la vuelta.

Porto Alegre, crescente de novembro.

sexta-feira, novembro 19, 2004

Hemanos, loco de especial...

Como lhes disse hoje eu meu cumpadre Marcador estivemos em Viamão charlando com um pessoal loco de especial. Gente simples, mas de alma nobre. Foi por demais poder passar o pouco que sabemos para eles. Pessoas interessadas em compreender o porquê das coisas, rever valores e conceitos. Podemos tocar, conversar e aprender muito com estes hermanos. Não éramos melhores nem, tão pouco, superiores mas aprendizes. Vivências trocadas nas experiências mais singelas daqueles que muito viveram. E que têm muito para ensinar. São nestas coisas simples da gente que percebo o quanto o Patrão tem nos abençoado. Da convivência sobraram buenos regalos que, de fato, não merecemos, mas que vêm com chuva boa em meio ao estio. A estes patrícios fica o meu mais sincero muito obrigado.
Porto Alegre, crescente de novembro.

quinta-feira, novembro 18, 2004

Ainda não foi desta vez...

Bueno patrícios, ustedes devem estar sentindo falta dos posts, ainda ando abichornado por causa da prova que vou fazer na semana que vem. Contudo, dei uma cruzada pra avisá que tô vivo e intero. Amanhã eu e meu patrício Marcador vamos até Viamão dar uma palestra sobre "O Negro na Fundação Étnica do Gaúcho" além de prosiá com os índios vamos tocar alguma côsa. No mas, todo de mi flor. Aos que têm entrado na comunidade do ingurte um bienvenido e aos que ainda não entraram fica o convite.
Termino com um regalo: "Quando o pai que foi gaiteiro, desta vida se ausentou. O negro piá solitário, tal como pedra rolou. E se fez homem prosiando, com a gaita que o pai deixou.

Porto Algre, nova de novembro.

sábado, novembro 13, 2004

Explicações aos patrícios

Bueno patrícios, como ustedes já devem ter percebido número de postes do Capando tiveram uma séria queda nas últimas duas semanas. Embora, o Maneador já tenha se desculpado, este é sempre muito preocupado com nossos patrícios, resolvi também explicar o quê está acontecendo.
Empecei uma lida das mais vaqueanas e que tem exigido de mim muito esforço e tempo e por causa disto não tenho postado. Isso ainda vai durar mais umas duas semanas, se o Patrão de nossotros todos permitir, e daí a lida toma o seu rumo normal.
Mais uma coisa, agora o Capando possui uma comunidade no Orgurte querendo podem se filiar.

Porto Alegre, minguante de novembro.

quinta-feira, novembro 11, 2004

Na época em que os bichos falavam...

Quem se criou na campanha conhece os mais diferentes tipos de habitantes dos nossos capões de mato e do campo. Pois bem, vai que a muito tempo atrás esses bichos falavam e é nesta época que se situa o que quero contar.
Num grande capão de mato bem próximo a um lagoão vivia uma família de bugios. Uma família não, uma comunidade de bugios. Todos eles viviam faceiros da vida com aguada e comida farta, poucas eram as preocupações e os desentendimentos. Quem comandava essa bugiozada toda era o mais velhos dentre eles chamado: Antenor "o inflexível". Era conhecido por este epíteto por causa de suas decisões sempre firmes e arbitrárias, as quais, todos acatavam com uma confiança infantil.
A vida ia as passo tranqüilo: Antenor mandava e os outros obedeciam. Um dia depois de uma forte tormenta de inverno, os bugios responsáveis por coletar a comida encontraram algo diferente no setor norte do capão. Eram bugios, também, só que de pelagem e cara negra. Voltaram a trote largo para a comunidade e foram relatar a notícia para o inflexível Antenor, este ficou mais do que preocupado e em uma reunião de emergência com o serviço de inteligência - que de inteligência não tinha nada, pois eram um bando de paus mandandos - resolveu-se que deveriam espionar o tal grupo.
Mais do que depressa montou-se a força tarefa e rumaram para o setor norte. Ficaram muito impressionados com o que viram: a comunidade dos bugios negros já estava muito adiantada em suas construções, viam-se escolas, igreja, uma espécie de estádio sem o campo no meio e menor, as famílias pareciam muito felizes e todos conversavam entre si amigavelmente. Como não eram bons espiões foram logo descobertos e ao invés de serem atacados, foram chamados para uma charla. De primeiro estes estavam sestrosos, mas entre um mate e outro, acabaram se tornando menos arredios. E entre uma conversa e outra descobriram que estes não possuíam chefe, tampouco um líder e que a comunidade era direcionada por um conselho e as propostas aprovadas em assembléia.
Voltaram para a sua comunidade abismados com tamanhas novidade e bem no fundo sentiram uma pontinha de inveja. Ao relatarem o visto para seu líder este baixou um decreto na mesma hora: "Todos estão proibidos de ir até o setor norte e de ter qualquer contato com os bugios daquele setor". A maioria acatou sem questionar, alguns dos que haviam estado entre os bugios da outra comunidade fugiram e passaram a morar com eles. Quando soube disso Antenor promulgou leis ainda mais severas e cerceando a liberdade de seus "súditos". Uma missão de paz, neste ínterim, foi enviada pelos bugios do norte, mas nem sequer foram recebidos. Diante de tal situação o povo acabou se dividindo em duas alas: os que eram pró diálogo e os que eram partidários do Antenor. Como eram a minoria os liberais - assim foram chamados mais tarde - foram facilmente calados ou apagados.
O setor norte acabou por se tornar para alguns sinônimo do inferno e para outros uma realidade inatingível. Como um sonho bom, ou uma daquelas velhas histórias que se contam em tardes de chuva onde há felicidade e liberdade para todos.

Porto Alegre, minguante de novembro.

sábado, novembro 06, 2004

Que bicho...

A chuva mansa que molha o campo refazendo esperança. O berro do terneiro de lombo molhado ao lado da rês. E o quero-quero que se esconde sestroso n'alguma tronqueira esperando que a chuva matreira vá mermando até se acabar. Num clarão de algum relâmpago uma perdiz assustada bate asas na direção da ramada. Encostado no oitão o cusco também mira a chuva, não só mira como sente na pele seus respingos que insistem em fazê-lo passar frio. Não vê luzes no rancho e nos ouvidos atentos só o tilintar das gotas batendo no chão. Vez por outra um berro de touro ou um estrondo de relâmpago corta a quietude. A colita entre as pernas, os tremores que o assaltavam e uma queixa no olhar. Que bicho é esse chamado homem que deixa seu amigo na chuva morrendo de frio? Que bicho é esse chamado homem que faz dos amigos mais chegados distantes na hora do aperto? Que bicho que é esse chamado homem? Que bicho...

Porto Alegre, minguante de novembro.

quinta-feira, novembro 04, 2004

Chasquito

Buenas patrícios. A coisa anda braba mais vai se levando, é que por esses dias ando me ocupando com um mundo de coisas e o tempo para postar está escassiando. Mas como sei que existem leitores assíduos do Capando não poderia deixar de dar-lhes um buenas ao menos. Sobre o que tem acontecido nos últimos dias não há muitas novidades, o feriado dos mortos foi festejado por nossostros com um churrasco mui bagual no rancho do Capando. Ilustres presenças de amigos antigos e outros novos que estão se aquerenciando. O Maneador, o Marcador e eu até demos uma canjinha para os presentes tocando alguns clássicos embalados a uma ponchada de sapucais.
Patrícios faço compromisso de esta semana postar algo de serventia. No mas como diz meu patrício Maneador: "hasta la vuelta!"

Porto Alegre, cheia de novembro.

quarta-feira, novembro 03, 2004

Desbocado e sem costeio...

Não sei quanto a ustedes, mas tem mañana que yo acordado com o diabo no corpo. Dá vontade de tomar um talagaço de canha, virar o cano da bota e me sair pra escaramuça da lida pampeana. Arreglar um bueno "criollo", tracejar una cruz na estampa e me enforquilhar campo afora...
Mas tche daí, repenso em tudo o que me vem aos braços pelo Patrão Velho: esta buena vida no sagrado chão do Continente de São Pedro, o mate na roda lá do galpão com os patricios, parceiros pra toda a lida, os carinhos da percanta, mas ah...
Bueno, e bamo tocando la vida...
Porto Alegre, Dia dos Vivos e desbocados....Novembro/2004.

quinta-feira, outubro 28, 2004

Vidinha que é minha

Quando se senta a porta do rancho para matear é que se achega de mansinho, os pensamentos. Sestrosos de primeiro, para depois soltarem as rédeas num galope em disparada. Enquanto o dia se vai e vêm as lembranças é que o índio taura pensa, não só na lida, mas no que é feito da vida.
A mim me gusta muito trançar lembranças e sonhos futuros. Principalmente aqueles que, por mais distantes que estejam, trago para bem pertito. Não são sonhos de riquezas, vida abastada, nem mesmo com uma estanciola sonho eu. Tenciono estar junto de minha bem-amada, um piazito, um ranchito, um cusco ovelheiro, cavalo bom... "vidinha que é minha só pro meu consumo". Se o Patrão de nosotros todos quiser me conceder tais coisas declaro-me o qüera mais satisfeito destas paragens. Pois como disse mui sabiamente Jesus, o Cristo: "Pra que juntar tesouros onde a ferrugem e a traça destroem!?", quero é guardar aquilo que vale de verdade. Que homem algum pode tirar e que por faceiro, no campo grande do céu vou continuar a mirar.

Porto Alegre, cheia de outubro.

terça-feira, outubro 26, 2004

Por um abraço

Gujo Teixeira

Deu saudade minha linda, deu saudade!
Pra dizer bem a verdade foi assim...
Era tarde e o meu rancho por solito
te encontro nessa lembrança junto a mim.

Repontou saudades doces, feito um beijo
No destino mais amargo que ela tem
Quem me dera, esse mate em outra tarde
Tomar um, e alcançar outro para alguém.

Só depois que desencilho e o dia acalma
Nas quietudes costumeiras da querência
Nos teus olhos cor de noite e domingueiros
Me transporto e conto os dias desta ausência.

Mês passado, minha linda, tu bem sabes
O temporal encheu o passo da cruzada
E o gateado que não sabe o que é saudade
Por cismado, não cruzou o vau da estrada.

Eu aqui, entre os mates faço uns versos
Desses largos pra enganar a solidão
Por que a alma tem razões desconhecidas
Que nos fazem ser por vezes solidão.

Quem sabe o tempo, soberano das esperas
Fim do mês, não abra o céu e eu cruze o passo
Pra matear, um fim de tarde no teu rancho
E trocar ausências sim!! Por um abraço!!



Porto Alegre, crescente de outubro.

domingo, outubro 24, 2004

"Na madrugada alta e tranqüila, engrinaldada de estrelas, um homem a cavalo alcançava os arredores de Boa Ventura. O chacre rio repousava, soturno. Um frescor perfumado alertava os sentidos. O cavaleiro cuidava as sombras do caminho. No peito cerrado pela bronquite asmática que o torturava, abrigava ainda outra aflição, que crescia à medida que se aproximava de casa. Aquela cena e aquele estado de animo repetiam-se pela terceira vez. Ele não temia a cadeia, temia a vergonha de ser preso por roubo. Mas caiporismo, a desocupação, as exigências do sustento da família, a idade e a doença, sim, também a doença arrastaram-no àquilo: a roubar!"

Quem vive de changa não pode estar satisfeito com a sua dura sorte. Quem empeça um sonho e dá com os burros n'água sofre um suplício. E quem vive uma desilusão, não pode sonhar, nem experimentar aquilo que chamamos de esperança. Sem sonhos e esperança o taura vira bicho e o bicho vive de instinto.

Porto Alegre, crescente de outubro.

sexta-feira, outubro 22, 2004

Encambichado com a lida....

Buena vida, já dizia o Lambari, mas que buena vida...
Pues que indiada, estamos encambichado novamente. Tenemos que pensar enquanto mateamos acolherado nos umbrais da casa. Um gaucho sem a percanta..mas tche, que desgraça! O fato é que o Patrão Velho cuida dos seus, e fez o minuano assobiar nos ouvidos campeiros, e logo nos fazemos auditar pela melodia daquela voz meiga e serena...
A mis amores, já dizia Dom Marenco, o pingo, a china e o pago...
Bueno que existas, Dna.Camila...Que o Patrão Velho providencie o ranchito pra que possamos nos acholherar....
Porto Alegre, Outubro de 2004.

quinta-feira, outubro 21, 2004

Saudades

O friosito destes dias me tem feito lembrar do inverno. Das coisas boas que só podemos fazer nesta estação do ano. No entanto, há quem diga que não gosta do frio, pois eu aprecio umas quantas "veiz". A madruga ainda escura, enrigelada, a cerração, a geada, um fogo de chão, o mate recém cevado, puchero... É claro que eu não descarto as dificuldades enfrentadas no inverno, mas, para mim, se comparadas com a dos dias quentes não são nada. Só que, o friosito que aí está se vai de vereda e fica para nosotros as saudades do inverno. E as saudades patrícios são como estações no ano, ora vem quente e suarentas, ora frias e enrigeladas. Só quem não tem saudades não sabe disso e não falo somente da saudade passional. Com o verão a saudade da primavera chega somada a do inverno, e a do outono e todo o ano se repetem as vezes sanadas, outras cultivadas mas sempre há uma saudade. Assim como sempre acabam as estações do ano. e tu patrício podes pensar que melhor seria então que não atentássemos para as estações afim de não sentir saudades. Discordo e explico: se vivemos plenamente cada estação a saudades que sentiremos dela será embalada por boas e singelas lembranças, do contrário a única coisa que teremos será a mais triste das inquietações: Ah! Se tivesse feito tal côsa!

Porto Alegre, crescente de outubro.

terça-feira, outubro 19, 2004

O bolicho do livro...

Indiada macanuda,
tamô abrindo mais um canto do galpão pra charlar sobre das coisas da terra! Lançamo o blog Taipa Livresca que é uma produção do Capando Touro a Unha by Marcador. Se quiseres escever una payada, una cantiga ou até das uns trancaços nos homenageados aparece por lá...
O endereço é http://taipalivresca.blogspot.com
Provincia de São Pedro, Outubro de 2004.

Pealando tropa...

Buenas cumpadre tamo aí de novo,
Las emociones no grosso da "pel", todo dia enfrenando um mate bagual, enquanto na tábua do pescoço bamô aguentando o trancaço da lida...
Os gritos campeiros do Patrão em meio a gadaria, o criollo troteando como se fosse da cavalaria farroupilha, e chão estremece enquanto as patas do zaino arrebentam a terra, e os patricios Castrador, Curador e Maneador, vão apartando as vacas dos terneiros. Bueno...a lida continua...
o dia recém nasceu no poente, e se bamô de á cavalo que o mango grudado no cabo da faca tá coçando pra arrebentar a pau...
Á carga, indiada, viva a república rio-grandense, viva a liberdade...
Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul, Outubro de 2004.

E o gaúcho...

"O que eu vinha enxergando desde tempito largo (...) era que nós todos, os pobres da campanha, ia acabá emangueirados, como capão pra consumo. E sabem onde? Aqui mesmo, na aldeia, neste cisco."
(Cyro Martins, Porteira Fechada p. 40)
O trecho foi extraído de um romance, mas a realidade não é diferente do relatado. O campo transformou-se, e muito. Hoje tratores, motos e colhedeiras fazem o que faziam homens, cavalos e peães. Contudo, o que mudou no campo não foram realmente as tecnologias e técnicas de produção. Na verdade a mudança aconteceu há muito tempo. Não foram as máquinas que tiraram o homem do campo, foi a ganância de uns em detrimento a liberdade de outros. Durante longos anos o gaúcho sentiu-se livre e senhor de si mesmo. Quando o patrão botou cerca e casa grande na campanha e a sua liberdade se tornou ainda mais virtual. E quando se precisou de mais espaço para o gado quem saiu não foi o patrão, é claro. Apinharam-se no povo, embretados nas vilas e changueando alguns trocados. Assim foi, assim é e assim será. E a liberdade!? Esta é cada vez menor, cada vez mais distante e cada vez mais virtual. E o gaúcho!? Bem, o gaúcho...

Porto Alegre, nova de outubro.

sábado, outubro 16, 2004

Amigos

Amigos, amigos, amigos cada amigos a mais é uma saudade a menos.
Eu ouvi isso em algum lugar não me lembro bem onde foi, sei somente que é uma grande verdade. Tenho provado com os meus patrícios grandes gauchadas que são meu orgulho nesta existência. Não é só a prosa amiga, mas os momentos de silêncio em que, o que sabemos um do outro valem mais que mil palavras. E nessa convivência mateaça seguimos, um amadrinhando o outros na ventura e nas desventuras, certos de que nunca seremos deixados de lado por esses que temos um grande apreço. Estender a mão e prosiar é nossa filosofia, não julgando, apenas fazendo nossas as dores do amigo, as paixões dos amigos e as amarguras dos amigos. Retribuindo cada elogio e chorando junto em qualquer mágoa. E se empeça alguma peleia somos os primeiros a terceiar o ferro por causa de nossos patrícios.
Ao Patrão de nossotros todos agradeço pelos meus patrícios e pela vida que me é mui buena.

Porto Alegre, nova de outubro.

quinta-feira, outubro 14, 2004

A Estância, o Piá e a Percanta...

Ontem ao chegar descogonado da lida, me atirei nos pelegos e adormeci com as idéias mergulhadas em preocupações. De vereda, passei ao sonho que creio ser coisa do Patrão Velho. Estava na estância, atirado na varanda da casa, quando vinha a trotezito bem compassado um guri, de pés descalços, bombachas remangadas e sem camisa, com uma tez branca e olhos verdes, loiro como o sol que refulge e com um sorriso matreiro, ao tapear com graça e carinho, as fuças do cusco que vinha pealando e acoando nos seus garrões. Vinha se aproximando de mim e gritando: "Pai, pai, olha como pula o gavião".... De certo era este o nome do cusco. Mas o sonho só fez completo, depois que ouvi a melodia daquela voz meiga e serena aos meus ouvidos, chegando como uma cantilena por detrás dos umbrais das casa: "Oi, cheguei"... Era ela, minha D.Caetana, a Sra. da estância que estava lá pras bandas de Pelotas, pois afinal ela é uma percanta douta e tem o hábito de ensiná os outros índios a pensar, e por isso tem que muito viajar. "Senta aqui pertinho, minha prenda, o amargo já tá vindo e logo, logo o almoço tá na mesa. - Josefa, põe mais um prato que a Dona da Casa chegou.." Saltou a negrinha, loca de facera, dizendo:"Tá bueno patrão, é pra já" Minha prenda, cabelos ruivos e tez branca como a do piá, sentou-se ao meu lado e se atracamo a charla das novidades de sua viagem e estada em Pelotas....Depois disso acordei, com uma sede de camelo e botei um milongão, pra iniciar a lida...
Porto Alegre, 14 de Outubro de 2004

Esperança

Bueno, depois de um jejum de alguns dias sem escrever, confesso que senti falta. Escrever é um exercício muito interessante para aqueles que têm o hábito. Mas para hoje nada de conto, onde a personagem principal sempre acaba em desgraça - aliás se eu fosse inventava até de fazê analise - vou voltar ao meu velho estilo, aquele que olha para dentro.
Tenho nos últimos dias pensado bastante sobre o futuro, principalmente o meu futuro e o de minha Florecita. E mesmo sendo translúcido o horizonte que miro conservo a esperança, não aquela sega que torna os homens visionários, mas a sadia que consegue, mesmo sem ter os pés no chão, sentir segurança. É como o guri que pela vez primeira arruma os avios de pesca e sai faceiro já pensando na volta, nos peixes, nos causos para os amigos. Ou que tateia no horizonte estrelas sonhando com um mundo encantado. A esperança é de muitas formas, de muitas cores e sentidos contudo, é uma em intensidade de espera: cautelosa e sorridente. Aos que desesperançados vivem sugiro um esforço, principalmente agora quando a pampa renasce, olhe na volta contemple a criança, o nascer do sol, a lua... quem sabe ela brote dentro do teu peito deixando raízes no coração.
Porto Alegre, nova de outubro.

quarta-feira, outubro 13, 2004

"E a melodia de tua voz, meiga e serena...."

Pra falar das prendas yo soy bueno unas quantas vezes....
Uma pergunta pertinente seria o que é do xirú pampeano quando retorna de uma tropeada e não encontra a guaina amada e santinha, limpando os peçuelos no costado do ranchito?
E quando a guria é campeira, uma barbaridade, e acompanha o taludo de à cavalo pelas invernadas...
Mas tche, felizes são Dom Tiago e Régis, por que já acharam duas flores do rincão véio bagual. E yo e Dom Josué, estamos campereando solito, por enquanto.... Mas gurias se preparem que tamôs chegando, porque em matéria de mulher bonita nós somo que nem alpargata, servimo tanto para um pé como pro outro....Mas tche...
Quebra-costela....

segunda-feira, outubro 11, 2004

Buenos Dias


Buenas indiada nossa primeira postagem no tal do blogi.
Pra começar os apresentamento, yo soy o marcador.
Diretamente da capital de todos os gauchos para o interior mais bagual e campeiro, tamo chegando para marcar a ferro as paletas de qualquer tubiano que se enveredava defronte os óio. Enfim, chegamô pra se instalar...bueno tamô mais facero que mosca em tampa de xarope...
Muchas gracias

sexta-feira, outubro 08, 2004

"Maria enche a caneca de leite "proquê" o carreteiro de meio-dia tava salgado." Maria foi até o balde de leite, tirado pela manhã da vaca salina que dava uns bons dez litros. Alcançou a caneta loçada para Nicácio que num gole tomou-a toda. "a la pucha que a sede não mermou". Deu um olhada na volta e rumou para o catre: "pode ser que despois da sesteada o mal-estar diminua". Maria as voltas com a frangaiada, remoía a desfeita que Nicácio lhe fizera na noite passada. "Precisava chegar borracho!? Precisava ter me batido!? Por acaso sou china de regimento!?" e o milho triturado ia bater no chão enquanto Maria pensava as galinhas e galos comiam e cacarejavam.
Nicácio ainda dormia quanto Maria fez a trouxa, roupa mesmo não tinha apenas alguns trapos que o Nicácio lhe dera, e sem bombear para trás seguiu pelo trilho que ia dar no lajeado. Caminhando sentiu-se tão distante de seu rancho, como se estivesse a léguas dali, nem uma lembrança mais restara daquele lugar... ilusão, pura e simples ilusão. De repente o que vem a sua mente são seus dezesseis anos quando Nicácio fora buscá-la na casa de seu pai, depois os filhos o aborto... Lembranças, e a cada passo a frente parecia que voltava dois para trás. Só voltou a si quando pisou na água fria do lajeado.
Nicácio acordou suado, esgualepado por causa da borracheira, lavou o rosto e no pátio foi entrar Maria que dava comida para as galinhas e os galos que cacarejavam.

Porto Alegre, minguante de outubro.

quinta-feira, outubro 07, 2004

Matutando

De volta à capital a maioria das coisas tornaram a sua rotina, esta já condenada por mim a algum tempo. Pois bem, não empecei este a fim de escrever sobre ela novamente. Na verdade quando liguei o computador tinha uma idéia, bem diversa da que tenho agora ou da que tive a um segundo atrás. Essa é a grande tarefa de quem escreve algo: transformar em frases e orações todo aquilo que pensa. E nem sempre o que pensamos é concebível em forma escrita, ora por incapacidade, ora por pudor.
A tarefa torna-se mais árdua quando se escreve sobre coisas que se gosta muito. Pois temos a tendência de idealizar o que gostamos, e não poderia ser diferente quando escrevo este post ou outro qualquer que já tenha escrito. Na verdade este são reflexos do que imagino ser a realidade, que não é nem real nem i-real, apenas única e especial para mim. Comunica apenas na minha existência pois, é concebida a partir de mim. Não quero que pensem, patrícios, que estou sendo buliçoso apenas falo que experiências são únicas para cada indivíduo, e comunicativas e perceptíveis de forma única também. Bueno, mas essa não era a intenção deste post... o pior é quem nem me lembro do que ia escrever por primeiro. Sendo assim, me despeço ainda procurando o que queria escrever antes de começar, quem sabe amanhã saí.

Porto Alegre, minguante de outubro.

terça-feira, outubro 05, 2004

Barreiro

Enquanto o barreiro colocava o pouco de barro que tinha no bico junto do resto que já havia colocado, sua companheira ia até a sanga beber água e se refrescar. Puxa-barro-coloca-barro, puxa-barro-coloca-barro, puxa-barro-coloca-barro... E assim, no final da primavera, estava pronto o ranchinho daqueles dois apaixonados. Sem dúvida estavam faceiro cheios de esperança e sonhos. Tudo estava como um dia claro, como primavera na campanha. Depois da casa pronta vieram os filhotes e veio também o trabalho para alimentá-los. Tudo seguia ao passo tranqüilo do trote manso da sanga.
Mas a paz se foi e a tristeza veio tomar conta daquele ranchinho e o barreiro não mais cantava soluçando solito. Sua prenda numa noite em que saíra para caçar minhocas, fora levada por uma coruja e os filhotes sozinhos acabaram por cair do ninho e não tiveram sorte diferente da mãe.
Sem família, sem a amada, sem os filhos. Ficou parado a mirar o ranchinho, e a lua bem cheia no céu parecia com ele chorar bem mansinho. E a vida, que tinha lhe dado um pealo, deixara-lhe tristonho sem ter rumo, nem norte. Apenas a dura sorte de ser solito e gaudério.
Porto Alegre, cheia de outubro.

sábado, outubro 02, 2004

Eleições 2004

Estou em Três de Maio desde sexta e aqui não poderia ser diferente dos outros lugares. Carros de som, troca de acusações, aquelas músicas de campanha que são horríveis... e eu que vim para cá em busca de silêncio e tranqüilidade. Não sou contra processos democráticos e eleitorais, contudo sou a favor do equilíbrio em todas as coisas. Tchê, exatamente agora cruzaram três carros de som, de diferentes partidos, todos com o som lacrado e eu que não tenho nada a ver com a pendega tenho que ficar escutando.
Patrícios, desta vez o descanso foi pouco e o pior é a crise de renite que me pealo. No mais amanhã me largo para Giruá, rever a família, e no mesmo dia a noite me mando de volta para POA. Eu que tencionava por minutos de sossego e tranqüidade dei com os burros n'agua. Quem sabe a,anhã cedito eu ouça pelo menos o cantar dos galos, sem que, um vote eu Fulano atrapalhe.
PS: Não fiz nenhum comentário de cunho político pois faz parte das normas para o bom funcionamento do blog.
Três de Maio, cheia de outubro.

quarta-feira, setembro 29, 2004

Chuva Miúda

Primeira noite de lua cheia e a chuva empeçou para não parar tão cedo. Noite boa para pescar, namorar e caçar tatu. Mas para aqueles que não podem abrir mão de nenhuma dessas opções é uma noite mui buena para ler um livro ou simplesmente dormir. Friosito, o compasso marcado pelo gotejar miúdo da chuva... e o sono vem pra pealar. Pena é que não dá para se ouvir somente o barulho da chuva, dos grilos, dos sapitos. É pena que esses aviões insistam em passar fazendo essa barulheira, e os carros tenham que buzinar. Se não fosse assim, muito mais bela seria esta noite. Bela como uma milonguita assobiada de manso ao pé do fogo de chão.
É patrícios teimo em ser nostálgico, principalmente nestes dias de garoa miúda. Quem sabe um dia devolta ao meu interior sinta completa essa alegria que anseio. E nas noites de chuva sinta o cheiro do campo molhado por ela. Enquanto isso meus olhos é que molham, de saudade, meu interior.

Porto Alegre, lua cheia de setembro.

terça-feira, setembro 28, 2004

Prece Sinuela

Ao Deus Menino faço uma prece sinuela
Pedindo que repontes amadrinhando
Os gaúchos do meu estado
Pra que o olhar do piazito tenha mais esperança
E a madre que segue com as crias na ilharga
Possa olhá-los e ver futuro certo
Que o peão no campo cuidando do gado
Possa sentir-se ajudado na lida bruta do dia
Certos que não foram largados a la cria nos fundões do meu estado
Peço menino Jesus que transformes do meu peito, rancho tapera
Em bela morada pra ti habitar
Que meus dias prolongues junto de ti
Pra que eu viva guri de novo a brincar
Correndo contigo nas asas do bem-te-vi
E durma sorrindo, por certo sonhando
Menino Jesus
Com um mundo tão lindo e tão puro que
Enquanto durmo não queira acordar.

Porto Alegre, crescente de setembro.

sábado, setembro 25, 2004

É companheiro a vida anda braba!

Tardezita, sabiás e bem-te-vis pulam de galho em galho cantado faceiros. Na porta do rancho, sentado na soleira um gaúcho, bombacha remangada traz numa mão a cuia na outra um palheiro. É o fim de mais um dia de lida. Sobre a face ainda tem o sal do suor que se mistura vez por outra ao amargo do mate. Se estica para alcançar a cambona e servir mais um amargo e num pequeno assobio chama para perto o cusco ovelheiro, amigo e confidente. O cusco se vem manhoso, orelhas baixas e cola erguida, se senta aos pés do qüera e fica a lhe olhar. "É companheiro a vida anda braba" foi só o que disse. Mas o cusco conhecia bem aquele jeito de dizer sentido e murchou ainda mais as orelhas. E o céu que em matizes colorados dava lugar para a noite, parecia simplesmente ser um reflexo dos olhos daquele que, sentado, teima em sentir saudades. E o mate já frio e lavado deixava na boca um gosto de angústia. Deitou a cuia no pé da cambona, calçou as alpargatas e se foi para o rumo do lajeado. Tencionava que lavando o suor do dia lavaria sua alma e a água que correia entre suas mãos levaria para longe essa angústia matreira. No costado do lajeado tirou as alpargatas, a camisa e remangou as bombachas. Já se ia longe o sol e o último rubor escassiara, ficara ele e o cusco sob a lua clara que vinha repontada pela boieira. Deixou-se ficar por um tempo ouvindo o murmúrio da sanga, que num compasso marcado cantava serena para ele escutar. O cusco sestroso olhou bem no seus olhos e devarito foi se chegando para junto da sanga querendo a sede matar. E o silêncio infinito embalado pela aguada e os grilos, seguia insistindo que era preciso pensar. Desistiu do seu primeiro plano e despido se atirou na sanga com gana, queria lavar a alma, os pensamentos...
Bem cedo Nicácio cruzando no passo bombeou um cusco sentadito do lado de um corpo nu, que o mirava sentido como dizendo: "é companheiro a vida anda braba!".

quinta-feira, setembro 23, 2004

Felicidades Florecita

Hoje está de aniversário a flor mais linda deste rincão. É a minha Florecita que completa mais um ano de vida e de forma alguma eu poderia deixar de fazer esta homenagem. Pois se este gaúcho é faceiro é porque tem uma prenda mui especial do seu lado para fazer costado. Para a minha bem-amada os meus mais sinceros parabéns e o desejo de que sejas muito feliz - ao meu lado - por longos anos. E que o Patrão de nossotros todos continue a te proteger e abençoar.
"Permita, morena, que eu sonhe contigo
Num rancho onde abrigo meus dias de frio
Permita, morena, que eu veja teus olhos
Buscando os meus alhos nas águas do rio".
Felicidades Florecita, morena linda que é o meu bem-querer.
Porto Alegre, crescente de setembro.

terça-feira, setembro 21, 2004

Privilegiados



Falam muito em privilegiados nesses dias de gaúchos de bombacha estreita, e o que antes era um termo honrado, que nada denotava sobre o caráter do vivente dito priveligiado, a não ser a sua sorte, acaba se tornando pejorativo. Quem têm privilégio, boa gente não é, afinal, se eu não tenho privilégios, ele não pode ter também. E no fim das contas, o que é um privilégio? É aquilo que o próximo tem que eu não tenho.
Bueno, nem por isso me sinto menos faceiro por considerar a mim, e aos hermanos do Capando, um bando de privilegiados, vejam bem, quantas pessoas que moram na zona metropolitana de Porto Alegre podem dispor de um Galpão de chão batido, um fogo de Chão para esquentar a água do chimarrão e assar o churrasco na melhor moda campeira? E ainda uma roda de amigos para tratar de assuntos nativos, cantar musicas campeiras e declamar payadas até altas horas da noite? Enquanto a magrinhagem se mete nos buracos escuros da cidade para encher as guampas com os tais dos tóchicos ao embalo de músicas frias dos sintetizadores eletrônicos, me reuno com os amigos do Capando para cevar a amizade firmada em valores mais antigos que os torrões deste chão.
Me contento com pouco, um naco de carne bem gorda, uma mate amargo, as estrelas do céu sobre a cabeça e vozes rústicas que entoam cânticos, poesias e confidências.
É muito pouco para se invejar? -- penso cá solito, serei mesmo um privilegiado ou apenas um loco que valoriza demais o pouco que tem?
E quando penso na simplicidade das minhas exigências, vejo que na verdade não sou nada comedido, pois peço para as minhas noites de sábado o maior dos tesouros que percorre esse rincão debaixo do céu. Porque essas coisas, por serem por demais simples para a alma irrequieta do homem moderno, são por isso mesmo, as mais raras e difíceis de se achar além de ser as mais necessárias.

segunda-feira, setembro 20, 2004

Ao Rio Grande, o meu abraço


O gaúcho se define como tipo ainda na primeira metade do século XVIII. Não é um tipo racial, fruto de mestiçagem étnica, mas a resultante natural de uma necessidade econômica - o aparecimento do homem capaz de se aventurar nas vacarias, para caçar o gado chimarrão (selvagem, como o mate e o cachorro do campo).
De lá pra cá se vão dois séculos. Não há mais gado solto sem dono e nem teatinos para dar-lhes um alce. Aliás, durante longos anos a identidade cultural do gaúcho sofreu grande depreciação fruto, principalmente, dos estrangeirismos que influenciaram toda a nação brasileira.
Contudo, a chama tradicionalista nunca se apagou nos galpões gaúchos. E lá por meados de 47 uma gurizada se juntou, para que tudo aquilo que era crioulo - nativo - não fosse esquecido. Destes que iniciaram o processo de estruturação e normatização das ditas tradições gaúchas podemos destacar: Ciro Martins, Ciro Gavião, Barbosa Lessa, Paixão Cortes, entre outros. É muito interessante se pensarmos que nesta época todos eles não contavam com mais de vinte anos de idade.
E a roda da carreta do tempo continuou ringindo e chegamos até nossos dias, com o movimento gaúcho organizado e institucionalizado, que se espalhou pelo mundo todo. Existem CTGs na China, no Japão, na Rússia... Contudo, muitos gaúchos vivem "alheios" a este movimento. Gaúchos de nascimento não cultivam nem prezam por suas tradições. Mas sentem, com certeza, uma pontinha de orgulho por terem vingado aqui neste torrão.
É uma época de celebrar nossa história, nosso gauchismo e seus ideais. Mais do que isso, é época também de recolutar o que temos feito por este pampa sulino, de bombear o passado com os olhos no futuro para que a nossa terra bravia possa ser um lugar muito mais macanudo do que já é hoje, para que nossa herança não seja só de palavras mas, como nos dizem as Escrituras de atos de justiça.
"Rio Grande véio que hoje eu canto emocionado na semana farroupilha". Por ti vai minha oração e meu agradecimento por teres feito tanto pela pátria verde-amarela.

sábado, setembro 18, 2004

Ala Mira!

Bueno patrícios, ontem a coisa foi braba. Tocamos mais ou menos umas três horas sem parar, chego tá com os dedo inchado. Acho que ainda não havia contado para usted que nós iamos tocar em Novo Hamburgo. Pois é, ontem eu, mais o Maneador e o Marcador se toquemo pra lá. Animemo a bailanta até as quinze pra meia-noite foi loco de bueno.
Pro patrício Castrador que não pode ir vai o recado: "Ah seu tocador de rádio eu queria tanto mandar este recado para o meu cumpadre Castrador que está aquerenciado na alma do meu violão" .
Hoje tem ensaio as sete, churrasqueada e amanhã já tocamos de novo. Não é fácil a vida de gaiteiro.

Porto Alegre, nova de setembro.

quinta-feira, setembro 16, 2004

Desde guri

Na sexta-feira estarei dando uma palestra em uma escola sobre tradicionalismo e a semana farroupilha. Fico mui honrado de poder levar a esta gurizada um pouco da nossa história e da nossa tradição. Quando do convite me lembrei de quando era criança. A faceirice que sentia por botar a pilcha gaúcha. Do nó que meu avô dava no lenço vermelho, que era dele, e para mim emprestava com muito orgulho. Da bombacha e da guaica. Me lembro também do pezinho dançado com as gurias, da correria atrás das prendinhas para mais uma dança. Me lembro garboso de como meu avô me chamava: aí vai meu gauchão!
Simples são essas lembranças mas que marcaram minha vida de forma indelével. E isso que se faz no colégio nessa época é uma das atitudes mais louváveis. Pois, dá a essas crianças uma identidade, uma pátria, uma raiz. Mais do que uma simples festa como as outras, a semana farroupilha nos colégios rio-grandeses é um marco na vida de muitas crianças. Só tem uma coisa que me tapa de nojo. É quando nossas escolas suprimem datas como esta e função de hallowins da vida.
Mas para aqueles que ainda insistem em preservar o que temos de nosso, nossas raízes culturais, vai meu mais sincero cumprimento e agradecimento. Já que, sem as crianças a tradição não tem futuro. Mil gracias meus patrícios, mil gracias meus ermãos!
Porto Alegre, nova de setembro.

quarta-feira, setembro 15, 2004

Mas que troço bem gaúcho

Bueno patrícios, é só ficar alguns dias sem postar que os assuntos acumulam. O melhor é empeçar: no sábado - dia de ajuntamento no galpão do Capando - fizemo um churrasco véio bem campeiro estavam presentes: don Gustavo (Marcador), Maneador, Castrador e o Irineu. Uma reunião pra lá de especial, com charla amiga e muita carne gorda. Depois se larguemo para o Harmonia pra ver o show do Borges. Cosa linda de se vê.
No domingo voltei para o Harmonia pra guitarrear com os irmãos Abadie: Juliano e Gustavo, lá no Piquete Negrinho do Pastoreio, foi um negócio da mas pura cepa crioula. No mais dê-lhe fandango e dê-lhe baile.
Ontem e hoje estive a mercê do tempo, quer dizer, nublado. Não sei porque cargas d'água estive bastante encimesmado. Mas são coisas da vida, nem sempre se esta a preceito e de vez enquando uma rusguinha consigo mesmo é loco de especial.
Não poderia deixar de registrar meu abraço aos patrícios Gustavo e Juliano Abadie pela parceriada que nós fizemos no domingo.

Porto Alegre, nova de setembro.

sábado, setembro 11, 2004

Tic-tac

"Ao toque do meio dia, todas as pessoas desta cidade deverão encontrar-se na câmara dos vereadores para tratar assunto de suma importância. " Era o que dizia o anúncio da rádio e, também, aqueles que foram espalhados por toda a pequena cidade. Sem mais especificações nem diretrizes. O que causou grande alvoroço e inquietação nos munícipes. Enquanto as fofoqueiras de plantão tentavam encontrar qual a razão da convocação, o prefeito, doutor Siqueira, tentava colocar no papel a pauta da reunião. A qual, nem ele sabia bem como abordar: "como falarei... serei capaz de ..." sabia ele que quando as dúvidas são tamanhas a alma fica como que num abismo indissolúvel, escuro e frio impenetrável pela razão, devido as sombra de que a emoção as cobria. O pior era que o relógio insistia em um tic-tac muito mais veloz do que o habitual. Como queria não ter que passar por tudo aquilo, nunca deveria ter saído da estância do pai, Coronel Siqueira, onde o gado e as ovelhas não pediam explicações de suas atitudes por mais insanas que fossem, ou parecessem ser. Mas o tempo real em nada parece-se com o virtual, queria que tudo fosse como os filmes que o filho volte e meia trazia da capital - as partes que não gostava, pulava e as de seu apresso via e revia à reviria.
Menos de uma hora para a tão esperada reunião, menos de uma hora para a desgraça total de sua carreira política. Carreira que nunca almejara, lembrava muito bem do dia que disse para o coronel Siqueira, seu pai, que preferia a música as reuniões cheias de bajulações e discussões infindáveis. Apanhara tanto que desse dia em diante nunca mais tocara na guitarra. Quantas e quantas vezes quis tê-la novamente junto do peito fazendo tinir as seis cordas bordoniando solito alguma copla mui mansa, estas simples e singelas lembranças trouxeram-lhe algum alento mas nada tirava o tic-tac do relógio da mente.
Como ficariam sua mulher e seus filhos ao saberem que seu pai?imaginava Isabel a chorar e o pequeno Ramon a tentar consolar a mãe e Esteves, com certeza esbravejaria quebraria alguma coisa da casa. Os que mais amamos são as vezes os que mais nos magoam e ferem, como Caim a seu irmão... pensar na vida e nas conseqüências de nossos atos, sempre trazem alguma maldita chaga que tempo algum apaga. Feridas são sempre feridas e embora, saradas deixam cicatrizes como sinal de que nunca nos esqueceremos de que os atos nossos ou de outros não são ações jogadas ao vazio, pelo contrário, têm destino certo: o coração daqueles que insistem que a vida é mais pensada do que vivida.
Ninguém poderia imaginar o que passava-se na mente do prefeito a não ser ele próprio. Nem o padre, nem o juiz de direito poderiam ajudá-lo. Era ele e o destino feroz que lhe batia na porta.
Quem acredita em justiça!? Gritava para as quatro paredes do gabinete. E pensar que quando saíra da estância bombeava um futuro melhor. Agora com ganas de touro alçado tinha que engolir o guisado que lhe preparava o destino. E das coplas e das esperança nada ficou. Somente a honra, sua e de seus ancestrais poderia ser preservada num último ato de valentia.
Na escrivaninha de mogno primeira gaveta à direita pegou a bereta que fora do seu avô. um estampido seco, o golpe no chão e mais um bravo que foge da vida por não ter forças para lutar.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Como figueira

Uma das imagens que mais me chama atenção na campanha é a da figueira, plantada no meio da imensidão do campo pela mão do Criador. De como ela se ergue imponente e solitária entre o capim e os trevais. Me impressiona não só porque sua presença solitária casa tão bem com a paisagem, ou porque sirva de ponto de referência, ou abrigo para gaudérios e gado. Mas porque, suscita em mim um pensamento: como a figueira solita no campo - imponente, perene, forte e solitária - me faz lembrar ideais. É como se a figueira fosse uma espécie de arquétipo das esperanças idealizadas que tenho. Só, durante a maioria do tempo e balançada pelo minuano, pelas tormentas. Contudo, firme e singular. Analogia possível para aqueles que lutam por alguma nobre causa. Pois, na maioria das vezes, sentem-se sozinhos peleando contra tudo e todos. Enquanto a maioria cresce rasteira alguns insistem em ir mais alto. O porquê!? As explicações são diversas e não importam agora. O que importa realmente é que poucas são as figueiras plantadas nesta planície grande, que alguns chamam de Terra. Poucos são aqueles que insistem em ver além do que os outros vêem, ou sentem. E quando a figueira é arrancada por alguma ventania, ou queimada por algum raio sempre rebrota. E esse renascer é também chamado de esperança. Como bem disse Aparício da Silva Rillo: "Quem nasce lutando busca a morte por liberdade!" Talvez nossa figueira morra junto conosco, mas como as figueiras "reais" ainda servirão de referência ou vais me dizer que nunca ouviste: "E lá no passo do lageado perto donde ficava a figueira grande."

Porto Alegre, minguante de setembro.

quinta-feira, setembro 09, 2004

Retorno

Depois do bueno feriadão que tive as energias estão renovadas. Foi loco de macanudo a geuderiada por vários motivos: primeiro porque pude estar junto da minha Florecita, segundo por causa dos amigos e do truco jogado com estes, terceiro porque pode visitar lugares lindaços onde, pode se ver que o Patrão de nossotros todos é mesmo mui buenaço. Enchi meus olhos de campo, e solamente isso para mim já é grande coisa. Estar onde a civilização ainda não botou a mão é uma cosa mui linda, onde só hay o verde plano da pampa. Quando boto o pé na rodoviária de Porto Alegre, sinto que meu mundo é outro. Não trocaria jamais o berro de um touro, um tinir de arreios ou um murmúrio de uma sanga por estas buzinas e sirenes que ouço aqui. Mas, como diria o poeta: "a vida é a arte do encontro, embora tantos desencontros há nesta vida." e assim vou cumprindo minha sina, por enquanto meu lugar é aqui, ainda bem que é por enquanto.
Bueno, patrícios se aportarem por Rio Grande não deixem de visitar a Ilha dos Marinheiros além de uma linda paisagem vão encontrar gente mui amiga.

Porto Alegre, minguante de setembro.

segunda-feira, setembro 06, 2004

De férias

Aqueles que visitam o Capando todos os dias devem ter sentido falta dos meus post quase que diários. Indiada, saí de férias no feriadão. Pois é estou em Rio Grande. Ontem estive na regional do ENART, algo que será motivo de um post futuro, e pude ver toda a glória e prtofissionalismo com que os CTGs tem encarado estes festivais.
Amanhã é dia de churrasqueada e charla buena junto com os patrícios daqui.

Rio Grande, cheia de setembrto.

sexta-feira, setembro 03, 2004

Guitarra

Depois de um dia corrido, a noite foi mui buena. Pode fazer algo que não praticava a tempos: tocar minhas partituras do tempo de estudante de violão.
Desde quando aprendi com meu avô os primeiros acordes nunca mais larguei o violão. Já cruzou muita água por debaixo da ponte e continuo apaixonado pela guitarra. Lamento muito por estar um pouco enferrujado e lembro com galhardia os meus tempos áureos de violeiro. É pena que agora a tenho apenas como regalo nos momentos de solitude. Contudo, consigo me emocionar e encher de garbo quando aquela peça mui querida sai a contento.
Por fim, como regalo para ustedes deixo estas estrofes do poema Guitarra, do ilustre Dom Jaime:

Velha guitarra pampeana
Que meus penares acordas,
Neste alambrado de cordas,
Espichado na coxilha
Boto na forma a tropilha
De antigas evocações,
Desde as velhas reduções
Aos combates farroupilhas

E bem junto do meu peito
Eu sinto quando ponteio
Que vou parando rodeio
No invernadão da saudade
Quando guascas de outra idade
Nos entreveros de guerra
Fizeram da nossa terra
O templo da liberdade!

[...]

Ó velho traste andarengo
Que ninguém sabe a querência
Porque és a mesma na essência
Inglesa, Russa, Espanhola
Guitarra, violão ou viola
Tenhas o nome que for,
Para este guasca cantor
A ti não faltam virtudes
E mesmo em linguagem rude
Balbuciada, enrouquecida,
Velha guitarra querida
Permite que eu te saúde!!!

Porto Alegre, cheia de setembro.



quinta-feira, setembro 02, 2004

Aos mestres

Não são poucas as vezes que tenho ficado impressionado com a capacidade dos compositores gaúchos. De vez em quando penso que o tema gauchismo está mermando, vem uma nova composição, um novo festival e digo pra mim: "Como eu nunca pensei nisto antes!?". Falar de cavalos, de prendas e gauchadas com poesia e originalidade não é para qualquer um, ainda mais, quando o tema é explorado por tantos. E há tanta coisa já escrita, e de grande qualidade, que parece que a nascente de tudo isso pode secar de uma hora para outra. Contudo, ao mesmo tempo que estes temas tão "estáticos" parecem poucos; se assemelham muito a um olho d?água que nunca seca. Encho o peito de garbo para falar que nossa música e nossa poesia nunca findarão, pois reinventam ela a cada dia, reiterpretam ela em cada milonga, transformando em palavras o que existe de mais sublime e genuíno em nossa cultura.
Para aqueles que buscam a cada dia um novo acorde, uma nova rima fica meus mais sinceros agradecimentos, já que é por elas que passa a alma e a essência do povo gaúcho.

Porto Alegre, cheia de setembro.

quarta-feira, setembro 01, 2004

A lua que me lembro

Durante algum tempo a lua foi um tema constante em meus escritos. Pensando novamente sobre o tema descubro que a lua que bombeio hoje não é mais a mesma de outrora. Por quê? Não é porque ela perdeu sua poesia, simplesmente, não é mais a mesma que via antes. Não que ela tenha cambiado de forma ou de lugar, é que agora na cidade parece pra mim menos encantadora. Antes ela descobria silhuetas campexanas e agora as únicas que vejo são as dos prédios de apartamentos, que não trazem poesia alguma ao luar.
Mas ao mesmo tempo me lembro das noites enluaradas na campanha, quando as coxilhas, o umbu, a gadaria eram os vultos que ela destapava. Ali é onde os luares são mais verdadeiros. Só quem cruzou coxilhas em noite de lua cheia sabe do que falo. Só quem viu seu reflexo no lagoão entende o que digo. E é desta lua que sinto saudade. Saudade das pescarias sob sua luz difusa, saudade da barriga branca dos jundiás, reveladas por ela, ferrados na sanga rasa. Quantas e quantas vez me deixei ficar na beira do fogo, só mirando aquela que ao longe parceriada pelas estrelas compunha milongas sem precisar cantar. Quanto mais a saudade se aquerencia em meu peito, mais distante ela fica de minha morada.
Um dia quem sabe de volta ao campo, que é meu lugar, não sinta mais saudade da lua que sempre teimei em mirar.

Porto Alegre, cheia de setembro.

terça-feira, agosto 31, 2004

Expointer

Domingo eu me minha Florecita fomos a Expointer, uma porque ela não conhecia ainda; outra porque eu queria ver a apresentação do César Oliveira e do Rogério Mello. Um ótimo dia para se passear, sol e um calorsito loco de especial. Bueno, olhemo a bicharada, um pouco do Freio de Ouro, e da rédea do árabe. Mas, o que impressionou foi a largura da bombacha dessa gurizada, não que eu fique reparando em macho, é que tinha cada "gauchinho" com as bombacha estreita que nem colan de ballet. Óia, para mim pouco importa se querem usar bombacha argentina, uruguaia o diabo a quatro, só não vai me faze fiasco e anda com estas calças de fresco. Não me posicionei quanto a estes estrangeirismos na nossa indumentária, mas penso que daqui um poco esses guri vão andar com chapéu de mexicano, bonbacha uruguaia, rastras argentinas... e viva a globalização!!!
Quanto ao espetáculo do Rogério e do César posso dizer que foi lindo. Boa música, boa companhia o que posso dizer a mais é que foi macanudo. Pena é que aqueles gauchinhos estavam brincando de lutinha bem perto donde eu estava com minha prenda, deplorável ver um bando de marmanjo se agarrando. O pior é que quem vem de fora do estado bate o olho nestes tabacudos e sai por aí espalhando que gaúcho é tudo fresco, já que é chegado num agarramento com a gurizada, façam-me o favor pelo menos na frente das visita não me façam fiasco.
Nesta semana talvez o pessoal todo do Capando apareça no show do Mano Lima pra tapa de grito a Expointer.

Porto Alegre, cheia de agosto.

sábado, agosto 28, 2004

Me tapo de quero-quero

Numa terra onde os trajes típicos são partes integrantes da vida cotidiana de muitos gaúchos - eu mesmo a maioria do tempo estou de bombacha - é de se tapar de quero-quero quando se é humilhado, na rua, por certos tabacudos que abusam das suas fardas para fazer gracinhas por aí. Pois foi isso que o ermão Maneador teve que agüentar no osso do peito. Alguns tabacudos de arma em punho suspeitaram dele por estar pilchado, e o revistaram como se fosse um bandido ou foragido da lei. Não acredito que todos os brigadianos, tenham intenções deste tipo. Contudo, é humilhante que em nosso próprio estado se suspeite de um homem de bem somente por ele estar pilchado. Se fosse por isso, batinas nos CTGs seriam comuns. Talvez por ignorância pequem nossos protetores públicos, por isso explico, que a faca é a companheira de muitas das lides gaúchas e não serve apenas para comer churrasco. Fico a pensar, será que nossos combatentes do crime acreditam que um homem de bombacha e lenço no pescoço seria capaz de assaltar um banco, ou mesmo uma velhinha, digamos que esse não seria o melhor "disfarce" neste caso.
Finalmente, além de estar muito contrariado, estou revoltado! Não nos farão abandonar nossas tradições e costumes com desagravos deste tipo. Além do preconceito que essa atitude denota, estão nos condenando mais uma vez ao exílio para fora das cidades onde, por não compreenderem, julgam-nos rudes e brutos demais para o convívio urbano. A esses, por fim, dirijo as palavras do velho Jaime: "não vou matar meus avós para ficar de bem com os netos."

Porto Alegre, crescente de agosto.

quinta-feira, agosto 26, 2004

Trocando Orelha

As vezes penso muito sobre determinado assunto sem chegar a conclusão alguma. Noutros a respostas vêm quase que instantaneamente. As primeiras me fazem ficar trocando orelha por dias e dias. Mas, não desisto da empreitada e se a resposta parece agora somente com um vulto, mais tarde pode se tornar como um umbu.
E, patrícios, esse ciclo de dúvidas e respostas não me entediam, ainda paro na beirada de uma sanga e me deixo ficar só por vê-la correr, e que meteia na sobra da figueira grande bombeando o campo, o gado, as ovelha... Se não paramos as vezes para nos fazermos algumas perguntas, e que só nós podemos responder e mais ninguém, talvez passemos por esta campereada sem perceber qual o sentido da vida.
Seguindo nesta sina de andejo, repontado meus pensamentos rumo a estância que me tem preparado o Patrão de nossotros todos que habitamos cá em baixo, troteio com esperança e da esperança tiro o sonho.

Porto Alegre, crescente de agosto.

quarta-feira, agosto 25, 2004

Solito no mas

Não falei para os patrícios ainda que eu trabalho em Eldorado do Sul, pois bem, hoje pela manhã eu pude regalar-me com uma das coisas que mais me agrada. A solitude, o silêncio os quais me fazem muita falta depois que vim me aquerenciar aqui na capital dos gaúchos.

Foi uma manhã de mi flor, só ouvi pardais e canários nada de carros ou sirenes. E neste silêncio é mui fácil ouvir aquela vozinha que charla dentro da gente. Contando coisa, que não são novidades, mas que muito me fazem faceiro. Para quem se criou na cidade, no meio deste turumbamba, pode não entender muito bem do que falo: a dádiva do silêncio. E não se trata apenas do silêncio que se faz no ambiente, e sim, aquele que vem de dentro. Quando conseguimos escutar os sussurros da alma, dos recuedor e peçuelos que são só nossos. Patrícios, e como é linda a melodia que embala o silente, não fiquei maluco, é que no silêncio uma coplita mui faceira ilumina as idéias, os sonhos. Se não sabes do que falo, é pena, pois se não a ouviste ainda talvez teus intentos tenham muito do ronco matraqueiro dos motores.

Porto Alegre, lua nova de agosto.


terça-feira, agosto 24, 2004

Esses doutores...

Hoje na universidade descobri que uma das máximas que já me haviam dito é bem verdade: "que a humildade é a virtude dos sábios". Digo isso porque tenho aula com um doutor formado em Harward, pode parecer grade coisa, contudo, o alimal e uma nutria. Desde a primeira aula eu já percebi que ele era um pouco pachola, tudo bem, julguei que o poderia ser. Só que hoje vi que a sua pacholice existe para esconder sua "ignorância". Bueno, um doutor de Harward deveria no mínimo dar uma aula que preste, o que não aconteceu. Além de ficar dando uma de buliçoso o alimal só falou asneira. Minha revolta, patrícios, não é nem porque a aula foi péssima, solamente porque este tabacudo insistiu em dizer sua titulação por várias vezes durante a mesma. Já que, o meu ouvido não é pinico fica aqui o registro: de que adianta o tal título se o pachola é um tongo.
O pior é que alguns nutrem tal admiração por estes "doutores" que a crítica acaba sendo esquecida, ou fica calada pois, afinal de contas, o alimal é um doutor. Patrícios, fico me perguntando até quando vamos olhar primeiro para o quanto de gado que tem o nosso semelhante é só depois, então, vamos dizer o quanto ele vale!?
Prefiro ficar com as palavras do Nazareno, o andarengo, como dizia Aparício da Silva Rillo.

" - Pobres de bens e espírito vos chamam
os poderosos sempoder nenhum...
mas há um reino que é vosso e vos espera
numa terra que herdareis, por nada terdes,
senão, as carnes que vertem vossos ossos
e essa esperança que vos mata a fome...
- a vós pertence essa estância
de léguas de sesmaria.
a braço algum há de faltar serviço,
nem haverá patrão para cobrar-vos
o ouro de vosso suor com que seus bois engordam,
a força de vossas mãos a embandeirar espigas.
- sem que o possais entender, sois venturosos
em vossas aflições, vossas angústias.
e porque a mansitude e a humildade vos reveste,
herdareis outros bens que não aqueles
que vedes nas mãos de garra, da usura...
- vossa fome de igualdade e de justiça
será saciada, como a do faminto
que encontra à mesa posta, vinho e pão...
e por misericordiosos, flui de vós
a água limpa da felicidade
que vos dará mesericórdia por beber.
por puros de coração vereis a deus
e sereis chamados seus filhos,
meus irmãos !...
- porque a pregação da paz é vosso canto,
vossa cordeona de espantar pesares
para reunir irmãos em baile de ramada.
e porque vos persegue a injustiça da justiça,
havereis de reguer um dia vosso rancho
no sítio que escolhereis em sua estância,
essa, que o pai destinou aos ofendidos,
aos caluniados por me acreditarem
e ouvirem minha voz, com a um cincerro
timbrando bronzes pela madrugada...
- imaginai os rincões onde ireis estanciar:
trevais e sombras, sanga cantadeira,
leite de apojo, pão de forno e mate
bordões de brisa a salmodiar toadas,
dessas que falam de ternura e paz !...
- há de ser essa avossa recompensa,
a vós, despionados da fortuna
que nada tendes mais que vosso corpo.
mas sois, sem que o sabais, o sal da terra,
a luz do mundo na chamados candieiros
a iluminar o caminho, porque vindes
a escutar minha palavra, timbre e eco
do verbo de meu pai, de que sois rama !...
- e não vos preocupeis com vossas penas,
nem com vosso exterior, que apenas vale
o que levais no íntimo e por dentro !...
- assim, vos vê meu pai e há de prover-vos
e amar-vos tanto como a mim, - seu filho,-
feito a vossa figura e vosso irmão..."
Porto Alegre, lua nova de agosto.

sábado, agosto 21, 2004

Disse o poeta...


Disse o poeta "fiz um mate mais cumprido porque sei que ela não vem".
Dessas coisas de distância sei bem, mas se mateio solito não quer dizer que esteja solo. Outro poeta disse algo que parafraseio. Porque desesperar na ausência da bem-amada se o mesmo céu que vejo, o mesmo ar que respiro e o mesmo chão que piso são os que ela vê, respira e pisa. Algo une os amantes que não compreende os que não o sentem, não vivem e não sofrem. A saudade sofreno, embuçalo e a tenho junto de mim. Mas, sem desespero. Tenho na saudade minha esperança, meu sonho. De que minha Florecita junto de mim um dia ira matear, por dias e dias de infinda faceirice. E se hoje mateio solito é por pouco tempo, e o tempo num trote chasqueiro vai chegando mais perto das casas. E nas casas me espera aquela que é meu bem querer.
Porto Alegre, lua nova de agosto.

sexta-feira, agosto 20, 2004


Certa vez escrevi para minha Florecita, que escrever era como um dia nublado; nem todos os dias são nublados como nem todos dias são propícios para se escrever. Bueno, esse é um desses dias. Mas como disse o homê das ciência, que a tal inspiração era só uma parte pequenita das coisas que fazemos me atraco a rabiscar.
Lembro do Verso do Mauro Moraes: "eu escrevo com o violão no colo enchendo os olhos de sinuelo."
O que vem sinuelando meus pensamentos de hoje são mesmas e corriqueiras cousas. São os meus peçuelos engarupados um a um, os quais cuido e preservo. Talvez por aporreado que seja teimo em amadrinhar minhas esperanças. E para não discorrer sobre a mesmice atraco um verso que considero flor de especial. Entonces patrícios, quem sabe amanhã se faça nublado, de novo, em meu rancho.

"É meu vizinho de porta
Um casal de quero-quero,
Por isso, embora índio pobre,
Bem rico me considero:
Tendo china, pingo e cusco
Do mundo nada mais quero!"
Jayme Caetano Braum

Porto Alegre, lua nova de agosto.

quinta-feira, agosto 19, 2004

Laçador

Hoje conheci o Laçador. Não pensem patrícios que somente hoje depois de quatro anos em Porto Alegre eu me fui pros lado do Aeroporto. Eu conheci o Laçador de carne e osso. Isso mesmo: Paixão Cortes e proseie com o homê e tudo. Foi uma experiência mui vaqueana, pois conhecer aquele que junto com mais uma gauchada lançaram os alicerces da normatização de nosso cultura é sempre uma honra. Este será um dia que com certeza meus filhos e netos tomarão conhecimento.
Não só porque foi a Paixão Cortes que cumprimentei mas, porque este homem traz um ideal antes de si mesmo. O ideal de não entregar-se culturalmente quando as pressões externas ditam quais são as modas que prestam. O ideal de ter um rumo, um norte que conduzirá aos que vem de atras. O ideal de que aquilo que é nosso, terunho, deve ser preservado e cultivado pelas gerações vindouras.
O Laçador não morreu, não morrerá porque ele é sinônimo de um ideal, de uma cultura, de um povo.

Porto Alegre, Lua Nova de Agosto.

quarta-feira, agosto 18, 2004

Hospitalidade

Ontem a noite estive no CTG Raízes do Sul e pude ver um belo ensaio de uma das invernadas. Foi uma noite muito agradável, principalmente porque fui recebido por todos os patrícios com muita cordialidade. E compreendi um pouco mais da hospitalidade gaúcha. Como dizem os versos do imortal Jaime "Mas porém sintetizada num traste de uso machaço, a hopitalidade é um laço bem grosso e de armada grande que Deus trançou pra que ande. Enrudilhado no cinchão nos tentos do coração dos gaúchos do Rio Grande."
Rudes nunca foi sinônimo de ignorância. O gaúcho é rude, pois sim, contudo é sincero e hospitaleiro e lhe agrada muito receber amigos numa roda de mate ao pé do fogo de chão.
Foi assim que me senti lá no Raízes, como um amigo recém chegado que num grito de passe pra diante, já recebe a cuia e um aperto de mão.
Mil gracias, patrícios. Mil gracias meus ermão.

Porto Alegre, minguante de agosto.

segunda-feira, agosto 16, 2004

Peçuelos

Pois bem que essa tal de "tequinologia" é caborteira e redomona de nascência... Estoy desde sábado tentando mudar o template do Capando, e colocar os papel de parede na coluna do lado para simplificar os hermanos que visitam o blog a pegar a sua cópia... mas o Blogguer se recusa a aceitar o template novo...

se acalmem gurizada medonha, que logo tem novidade despontando.

domingo, agosto 15, 2004

Amigos

A três anos atrás um grande amigo meu teve que deixar o pago. Hoje o revi, e as aguadas do tempo levam muita coisa só não levam as nossas grandes amizades. Agradeço muito ao Patrão de todos os que cá embaixo habitam pelos bons amigos que tenho.Não somente bons, mas verdadeiros. Daqueles que parcereiam a lida mais curnilhuda, que são companheiros para o que der e vir. Não se achicam nem refugam a parada. Estes são os meus amigos e pra eles este poste. Em especial ao ermão Chris Harbim, mil gracias.

Porto Alegre, minguante de agosto.

sexta-feira, agosto 13, 2004

Aquerenciar

Muitos dos que se aquerenciam por aqui, vivem alheios a cultura do pago. Não sabem nem o porquê do feriado do dia 20 de setembro. Duas explicações são possíveis neste caso. Primeira, é que estes indivíduos que cambiam para cá têm raízes culturais tão fortes que uma cultura alienígena a sua, não prescinde .A segunda é o oposto desta, que os indivíduos que cá vieram habitar não possuem laço cultural algum e por isso pensam não precisar de raízes.
Conheço muitas paisanos que trocaram de pago e sentem-se mui bem aqui no estado, só que o fato de eles morarem aqui não os torna gaúchos (pelo menos de nascimento) assim como há muito gaúcho de nascimento que não poderia ser considerado como tal.
Mas o que é ser gaúcho então!?
Pouco se fala em ideologia em nossos tempos, nos anos 80 foi muito comum o seu uso, hoje comumente fala-se em estilo de vida. E é isso, exatamente que é ser gaúcho um estilo de vida; que tem pouco a ver com pilchas e fandangos, mas tudo com valores e princípios. E isso tenho tentado transmitir através destes pequenitos chasques que regalo a ustedes. Campeio na alma do paisano seus peçuelos, suas amarguras e curo. Por isso Curador.
Lembro de um verso que parcereia bem o que escrevo: "tem o que é gaúcho da boca prá fora; mas tem o que é do coração prá dentro". A cultura vem de lambuja pois, somos o que somos pela evolução e preservação cultural.

Porto Alegre, minguante de agosto.

quinta-feira, agosto 12, 2004

Se foi com Deus pra outra campereada!

Hoje o Rio Grande perdeu mais um dos seus valentes. Faleceu hoje o avô do nosso querido patrício Maneador. E por saber quanto apreço nosso ermão tinha por ele não poderia deixar de fazer esta pequena homenagem. Não o conheci, embora suas histórias - contadas pelo Maneador -- estejam em minha memória. E é isso que levamos daqueles que partem para encilhar as nuvens. Para meu patrício deixo estes versos mui singelos.

O olhar torna-se nevoento.
Torrente de inverno em meu rosto
Tenho um turvo mirar, e uma lembrança
Clara como uma manhã de Maio.
Não são ecos de uma tropiada longínqua
Tampouco, um vulto a sumir na distância.
São sim, como a marca do quente ferro
Como figueira na porta do rancho.
Reponto-as para junto de mim
Tão perto que posso tocá-las.
As redomonas trago a cabresto
As mansas pastam ao meu redor
São parceiras para os dias de festa
E o conforto na solidão.
Lembranças de tempos remotos:
Consolo para os que virão.
Os matizes do entardecer colorem minhas lembranças
E o sentinela do pago em um silvo breve anuncia que elas estão chegando
São cambichos entesourados que habitam em mim
São lembranças de saudades que não tem fim
E na noite sem lua do pago, a única estrela é o rancho
O ponteio da guitarra faz dueto com os grilos, e algum pio de coruja
A perder-se no frio, e a saudade que maltrata este peito bravio
Acolhedoras como meu catre são minhas lembranças
Simples e singelas mas tapadas de esperança.
E a nova manhã que destapa o negror da noite, trazendo raios e luzes.
E neste clarão eu medito, nas minhas lembranças de outrora.
Nas coisas que ainda acredito.

Porto Alegre, minguante de agosto.

quarta-feira, agosto 11, 2004

Sem sonhos não há esperança!

Foram três meses de correria, andava mais concorrido que parteira na campanha. O fato é que hoje, enfim, entreguei minha primeira versão da monografia. Fico curta que nem coice de porco, mas acho que de fundamento.
Mas isso não deve importar para a maioria das pessoas que lêem nuestro blogle.
Hoje recebi um cartão, mui lindo, de dia dos pais. Embora, eu mesmo ainda não o seja, explico, é que para algumas crianças tenho sido como um pai, talvez não tão pai assim, mas um bom amigo posso vos garantir. E o que mais me faz ficar trocando orelha é que essa gurizada cresce em um ambiente tão ruim que o menor sinal de bondade os faz tão faceiros.
Quero continuar soltando pandorga, e pião, e bulita brincando com estes meus pequenos. Porque vejo que um futuro melhor pode apontar lá onde a boieira se esconde no final da manhã.
Sem sonhos não há esperança. Não me canso de repetir.
Porto Alegre, minguante de agosto.

segunda-feira, agosto 09, 2004

Meu Rancho

Mais um verso de minha marca, espero que lhes regale

Meu rancho cidadino não é meu com certeza
E na aspereza destas palavras é que residem meus sentimentos
Que no recondido de meu peito
Sonham verdes e terrunos momentos.
O momento da volta é este que anseio
Quando eu avistarei a mangueira , o rancho
As coisas d eminha infância
A sanga e o quero-quero
Relinchos e potros na pampeana estância
Ah, meu rancho quantos segredos tu tens
Segredos que só minh'alma campeira sabem bem.
Que desejam de fato recordar o passado.

Porto Alegre, minguante de agosto.

sábado, agosto 07, 2004

Nosotros

Como vocês já devem tem percebido, são três as figuras que compõe este bogue: Maneador, Castrador e Curador.
Bueno, e não é por acaso que usamos estes pseudônimos - apelidos. A princípio a idéia surgiu de uma das músicas do Mano Lima, mas pensando um pouco mais sobre o assunto percebo que há alguma coisa de nossas personalidades em cada uma das alcunhas. E com permiso de meus ermãos tranço um pouquito deste tento hoje tentado explicar o porquê de tais apelativos.
De primeiro, o nosso ilustre Maneador. Como é sabido de todos que convivem com as lides gaudérias o maneador é quem põe as maneias quando de uma castração, ou doma. Pois bem, nosso companheiro Maneador é assim, quem sempre empeça a lida por seu temperamento mais explosivo - poderia se apelidar espoleta - dono de um pavio curto não se achica frente ao potro mais maleva e cabresteador. É também aquele que por primeiro sai em defesa do que acredita e presa.
Do Castrador posso afirmar que possui a ciência de "castrar" sem provocar sangria. Menos espraiado que o Maneador possui a fibra guerreira dos que lidam com a adaga. Nem tão ao norte, nem tão ao sul é o ponto de equilíbrio entre o Maneador e o Curador. Sempre bem disposto e faceiro é o Castrador que, como disse, tem a ciência no tal dos computador.
E yo, Curador é aquele que por último se chega na castração para tratar da ferida do alimal. E é assim que me sinto, por perceber um pouco das desgraças da alma dos outros ajoujadas com as minhas eu as medico. Sal grosso, creolina e um bocado de charla podem resolver muita coisa.
É rasa como sanga minha descrição e carece matutar mais sobre isto, quis apenas fazer um breve relato prá mode não haver mais confusão. Se não clareou nada, bueno, aí fica pra próxima.

Porto Alegre, lua cheia de agosto.

sexta-feira, agosto 06, 2004

Sexta-feira...que fandango que nada

Não sei se todo mundo viu, mas o Castrador andou fazendo um Desktop não sei o que, o que eu sei é que ficou lindo que nem laranja de amostra. Todavia, não foi por isso que empecei o post, a menção é por motivos de alarde.
Sexta-feira é um dos dias mais esperados pela humanidade. Ou pelo menos por aqueles que não lidam no sábado. Bueno, é que na sexta o pessoal atracá uma água de chero no pescoço e se tocá pros bailão. Só que aí esta o problema, antigamente e não tão antigamente assim , arrumar-se para um baile gaúcho era botar a melhor pilcha, o melhor vestido ou a pilcha e o vestido que tivesse. Ouvi outro dia da boca de um patrício, que em certos lugares de baile na capital onde figuram os famigerados maxixeiros o entrar vestido à gaúcha é motivo de mofina. O que me impressiona nestes indivíduos é a sua capacidade de cambiar de um modismo para o outro como se trocassem de cueca. Ora, eu sou partidário da tradição, sei que muita vezes ela engessa, mas "não matar meus avós para ficar de bem com os netos." Modismos nunca, uma reflexão responsável e dialógica entre velhos e moços creio que é importantíssima. Agora, pelo amor de Deus, não façam voltar a Porto Alegre o preconceito besta que existia quando o MTG começou que a bombacha e o belo vestido da prenda são vestimentas de groceirões. Sem história não se faz um povo forte.
Porto Alegre, lua cheia de agosto.

quinta-feira, agosto 05, 2004

Um Mate Recém Cevado...

Conversando ontem a noite com um dos meus ermãos - Binni - eu tive um estalo.
Este ermão está escrevendo seu trabalho de conclusão de curso sobre o gaúcho, suas origens valores e outras cositas más. E nesta buena charla chegamos ao mate, sua importância e simbolismo dentro do gauchismo.
E dessa conversa surgiu o seguinte: que há no mate um forte aspecto relacional e este se divide em três formas: o relacionamento intra-pessoal, o extra-pessoal: este se subdivide em fraterno e amoroso.
O intra-pessoal é aquele de quem mateia sólito, é o momento de solitude de bombear para dentro de si mesmo e deixar que o pensamento, sem rédeas nem cabresto, galope longe onde só consigo mesmo nós podemos chegar.
O extra-pessoal fraternal se dá quando junto com os amigos numa roda fraternal trocamos de mão em mão ao cuia, não só a cuia mas nossos sonhos, frustrações, desejos e esperanças. É quando miramos para o lado e vemos que a mão que está estendida não busca só a cuia mas o abraço, a ajuda o companheirismo. "Um mate recém cevado silencia o galpão grande".
Quanto ao amoroso... vários versos vem a minha mente: "na bomba do mate ficaram teus lábios" ou ainda "Antes de te abraçá Erondina com a mais crioula emoção. Vou sorver teu beijo doce na bomba de chimarrão" e mais "o amargo representa uma saudade e o doce coração que ela não tem." Só quem teve um amargo cevado pela bem amada entende o que digo, pois o mais doce dos mates não é o de mel ou o de leite. Mas, aquele que é feito por aquela que bem queremos.
Alcançar um mate é mais que um hábito ou um ritual, é um símbolo de nossos diferentes relacionamentos. Queira Deus que nossos mates nunca sejam só amargos ou lavados, mas sempre novos e encilhado a preceito.

Porto Alegre, lua cheia de agosto.

quarta-feira, agosto 04, 2004

Peçuelos Antigos por Demais

Esta é a segunda estrofe de algo postado por mim a algum tempo.

Abraços com calor de mate e beijos doces como mel de mirim
Senti, como sentem os príncipes
Imaginei, como o fazem as crianças
Aquele era o meu castelo e a china minha rainha
Num reino cercado pelo mais verde dos verdes
Dádiva do Eterno
Calados tentado ouvir os pensamentos um do outro
Bombeando na volta a chuva a empeçar
Gotas de vida renovada, crescendo ao passo da mansa garoa

Pra minha Florecita, "china linda que é meu bem-querer".

Porto Alegre, lua cheia de agosto.

terça-feira, agosto 03, 2004

Que semana bem braba!

Bueno moçada, essa semana a tônica do Maneador vale para mim: "ou troteia ou sai da estrada". Tenho agora menos de sete dias para entregar meu trabalho de conclusão de curso, o que tem metirado o sono, e haja pestana para queimar.
Por esso, postarei alguns peçuelos esta semana.

Minha pandorga, meu saco de bulitas
A boneca de sabugo e a bruxinha de panos
São minhas coisas queridas bunititas
Que carrego neste tenros anos
Correr atrás dos meus amigos no pega-pega
Subir na árvore, comer pitanga
Correr descalço brincando de cabra-cega
Fazer com ossos pequenos boizitos de canga
Brinquedos do passado que ficaram na lembrança
Dos meus avós e dos meus pais
Que eu não guardei por herança
O que foi ontem hoje não é mais
Hoje não me "interto" como eles faziam
Dos brinquedos do passado não ficou nem o cheiro
O vídeo game e os desenho que na TV se animam
São as coisas que me fazem faceiro

sábado, julho 31, 2004

Getuliano

Nem todo mundo sabe, mas eu já fui getuliano - designação dada àqueles que estudaram na Escola Presidente Getúlio Vargas em Três de Maio/RS. E como em toda escola técnica que possuem internato passei e vi outros passarem por poucas e boas. Lembro bem que éramos 42 alunos, todos homens, na mesma sala. No começo do ano eram os batizados dos bichos, muita bofetada e cuspe para tornar o rito de passagem do calouros o mais traumatizante possível. As alcunhas eram as mais variadas, quase sempre, pouco utilizadas em ambientes familiares.
Mas foi uma época muito boa da minha vida. Quando conheci bons amigos dos quais lembro até hoje: Vesgo, Chacal, Psicopata, Berne e outros tantos. Foi nessa época também onde aprendi que o ser humano pode ser maleva, traiçoeiro como os sorros.
Das tardes de aulas práticas eu levo boas lembranças: as guerras com bergamotas e torrões de barro, das paneladas de milho verde e do pão recém saído fogo com um bom melado batido.
Bom tempo, quando se trabalha por diversão e era mais fácil sonhar.

Porto Alegre, lua cheia de julho.

sexta-feira, julho 30, 2004

Contos da Fronteira- Historia veridica de fato

Lá para as bandas de Bagé, vivia um carroceiro, desses bem malandro e pachola. Por renguiar de uma perna, ganhou a alcunha de Zé Manco.
Zé Manco ganhava a vida com fretes e quando sobrava tempo, investia seu salário no passatempo preferido, beber cachaça, e quanto mais forte, melhor!
Quando sai para praticar seu hobbie deixava a carroça em casa. Era quase um esporte de tanto que caminhava de bar em bar em busca da canha perfeita, a saber, aquela que não perde o gosto, mesmo depois do 7º copo.
Pois bem, não é uma atividade fácil, geralmente se pratica em duplas, pois pode ser que precise de ajuda para voltar para casa, Zé Manco tirava por companheiro um moreno que chamaremos de João Tição.
Dia desses, despontava a figura dessa dupla descendo a av. Santa Tecla, a principal via de acesso a cidade de Bagé. Voltavam de mais uma inclusão pelos bolichos da vida, só que desta feita traziam mais um companheiro. Era uma ovelha, bem esfaqueada, tão cheia de furos que se enfiassem uma jarra d'água goela abaixo da bicha, ela se transmudava em garota-propaganda das Duchas Corona.
E iam os três ziguezagueando avenida abaixo, Zé Manco e João Tição a pé, e a nova companheira na garupa da bicicleta.

Pois bem que lá passava a camioneta da brigada, e o brigadeano logo desconfiou daquele trio, não teve dúvidas, arrastaram os três para a Delegacia de Combate ao Abigeato. Abigeato, para quem não está acostumado, é roubo de animal, principalmente gado.

Na hora do interrogatório, o delegado foi direto ao assunto que nem porco nas batatas.
--Me explique sr. José, o que o sr. estava fazendo com uma ovelha esfaqueada na garupa do seu veículo?

Então o Zé Manco inicia a sua explicação que ficou famosa na cidade. Proferia o arrazoado com o a pronúncia inconfundível de quem tinha bebido demais, algo como um padre falando com duas batatas quentes na boca.

-- Pois é sr. delegado, para o sr. ver como é que são as cousa... Nóis uns home de bem, trabalhador honesto, nunca fizemo mal a ninguém... estavamo atravessando um campo quando veio essa ovelha braba que deixaram solta querendo nos mordé. Ai tivemos que matar a bicha para nos defender.

Zé Manco não pode praticar seu esporte preferido naquela noite, pois passou ela na cadeia. De qualquer forma, já teve o bastante para aquele dia, só com muita cachaça mesmo para acreditar que ovelha mordia, ou que o delegado iria acreditar numa história dessas.

Procura-se

Vivo ou Muerto, o desaparecido do Maneador, que sumiu e não dá sinal de vida. Abaixo o cartaz com a estampa do vivente.

Pedro Ortaça

Ontem foi um dia em que vi todo o garbo da cepa missioneira na voz de Pedro Ortaça e seus filhos Alberto e Gabriel. Mui linda a apresentação, flor os pequenos índios guaranis cantando e de lambuja Nico Fagundes para abrilhantar mais a noite. Presenças ilustres de índios da mais fina estirpe campeira estavam lá. Fomos eu, o Castrador, o Gustavo e mais a sua percanta. O sapucai correu frouxo e só faltou mesmo a índiada se atracá a balança os mondongo no meio da assembléia legislativa.
Mui linda noite, na voz de timbre de galo de Pedro Ortaça ainda encontro matizes guerreiros. De um tempo que não se embuçalava,  e nem quebrava o topete de nenhum dos nossos valentes.

Porto Alegre, crescente de julho.

Regalo

Bueno, como prometido, aqui um desktop picture do Capando Touro a Unha. Pra quem não sabe o que é um Desktop Picture aqui a gente explica: é aquilo que os PCzoiúdo chamam de Papel de Parede (Wallpaper) e serve para enfeitar o desktop (ou ambiente de trabalho).

Bom proveito gurizada, basta clicar na figurinha abaixo e baixar a imagem para o seu computador e vão ter o "Papel de Parede" mais campeiro do universo.