sábado, julho 31, 2004

Getuliano

Nem todo mundo sabe, mas eu já fui getuliano - designação dada àqueles que estudaram na Escola Presidente Getúlio Vargas em Três de Maio/RS. E como em toda escola técnica que possuem internato passei e vi outros passarem por poucas e boas. Lembro bem que éramos 42 alunos, todos homens, na mesma sala. No começo do ano eram os batizados dos bichos, muita bofetada e cuspe para tornar o rito de passagem do calouros o mais traumatizante possível. As alcunhas eram as mais variadas, quase sempre, pouco utilizadas em ambientes familiares.
Mas foi uma época muito boa da minha vida. Quando conheci bons amigos dos quais lembro até hoje: Vesgo, Chacal, Psicopata, Berne e outros tantos. Foi nessa época também onde aprendi que o ser humano pode ser maleva, traiçoeiro como os sorros.
Das tardes de aulas práticas eu levo boas lembranças: as guerras com bergamotas e torrões de barro, das paneladas de milho verde e do pão recém saído fogo com um bom melado batido.
Bom tempo, quando se trabalha por diversão e era mais fácil sonhar.

Porto Alegre, lua cheia de julho.

sexta-feira, julho 30, 2004

Contos da Fronteira- Historia veridica de fato

Lá para as bandas de Bagé, vivia um carroceiro, desses bem malandro e pachola. Por renguiar de uma perna, ganhou a alcunha de Zé Manco.
Zé Manco ganhava a vida com fretes e quando sobrava tempo, investia seu salário no passatempo preferido, beber cachaça, e quanto mais forte, melhor!
Quando sai para praticar seu hobbie deixava a carroça em casa. Era quase um esporte de tanto que caminhava de bar em bar em busca da canha perfeita, a saber, aquela que não perde o gosto, mesmo depois do 7º copo.
Pois bem, não é uma atividade fácil, geralmente se pratica em duplas, pois pode ser que precise de ajuda para voltar para casa, Zé Manco tirava por companheiro um moreno que chamaremos de João Tição.
Dia desses, despontava a figura dessa dupla descendo a av. Santa Tecla, a principal via de acesso a cidade de Bagé. Voltavam de mais uma inclusão pelos bolichos da vida, só que desta feita traziam mais um companheiro. Era uma ovelha, bem esfaqueada, tão cheia de furos que se enfiassem uma jarra d'água goela abaixo da bicha, ela se transmudava em garota-propaganda das Duchas Corona.
E iam os três ziguezagueando avenida abaixo, Zé Manco e João Tição a pé, e a nova companheira na garupa da bicicleta.

Pois bem que lá passava a camioneta da brigada, e o brigadeano logo desconfiou daquele trio, não teve dúvidas, arrastaram os três para a Delegacia de Combate ao Abigeato. Abigeato, para quem não está acostumado, é roubo de animal, principalmente gado.

Na hora do interrogatório, o delegado foi direto ao assunto que nem porco nas batatas.
--Me explique sr. José, o que o sr. estava fazendo com uma ovelha esfaqueada na garupa do seu veículo?

Então o Zé Manco inicia a sua explicação que ficou famosa na cidade. Proferia o arrazoado com o a pronúncia inconfundível de quem tinha bebido demais, algo como um padre falando com duas batatas quentes na boca.

-- Pois é sr. delegado, para o sr. ver como é que são as cousa... Nóis uns home de bem, trabalhador honesto, nunca fizemo mal a ninguém... estavamo atravessando um campo quando veio essa ovelha braba que deixaram solta querendo nos mordé. Ai tivemos que matar a bicha para nos defender.

Zé Manco não pode praticar seu esporte preferido naquela noite, pois passou ela na cadeia. De qualquer forma, já teve o bastante para aquele dia, só com muita cachaça mesmo para acreditar que ovelha mordia, ou que o delegado iria acreditar numa história dessas.

Procura-se

Vivo ou Muerto, o desaparecido do Maneador, que sumiu e não dá sinal de vida. Abaixo o cartaz com a estampa do vivente.

Pedro Ortaça

Ontem foi um dia em que vi todo o garbo da cepa missioneira na voz de Pedro Ortaça e seus filhos Alberto e Gabriel. Mui linda a apresentação, flor os pequenos índios guaranis cantando e de lambuja Nico Fagundes para abrilhantar mais a noite. Presenças ilustres de índios da mais fina estirpe campeira estavam lá. Fomos eu, o Castrador, o Gustavo e mais a sua percanta. O sapucai correu frouxo e só faltou mesmo a índiada se atracá a balança os mondongo no meio da assembléia legislativa.
Mui linda noite, na voz de timbre de galo de Pedro Ortaça ainda encontro matizes guerreiros. De um tempo que não se embuçalava,  e nem quebrava o topete de nenhum dos nossos valentes.

Porto Alegre, crescente de julho.

Regalo

Bueno, como prometido, aqui um desktop picture do Capando Touro a Unha. Pra quem não sabe o que é um Desktop Picture aqui a gente explica: é aquilo que os PCzoiúdo chamam de Papel de Parede (Wallpaper) e serve para enfeitar o desktop (ou ambiente de trabalho).

Bom proveito gurizada, basta clicar na figurinha abaixo e baixar a imagem para o seu computador e vão ter o "Papel de Parede" mais campeiro do universo.






quinta-feira, julho 29, 2004

Redomão

Dois dias sem postar. Na segunda foi tão somente por falta de tempo, ontem por falta de assunto. Recomecei a lida e prescindia alguns ajustes para que tudo corresse bem.  Hoje!? Bem,  hoje é dia de Entrevero na Rural, dia do retoço para os namorados e assim por diante.
Mas não foi para falar da programação do dia que empecei este post. Aliás, depois de uma semana na campanha penso que minha vida é mais "pacata" aqui do que lá. Digo isto por causa da rotina das coisas: sempre o mesmo ônibus, trabalho, pessoas e problemas. Se de vez em quando não pechasse essa rotina contra a mangueira viveria a fazer coisas sem perceber o seu sentido, sua forma e seus princípios.
É engraçado que quando fazemos muitas vezes as mesmas coisas elas perdem o seu significado, é como quando alguém por tanto mirar o pôr-do-sol nem se da por conta de que, ele se põe de forma deslumbrante a cada dia. E talvez esteja aí o grande problema dos relacionamentos frustrados. Que são como mates que perderam o gosto, como a geada que se dissipa aos primeiros raios de sol.
E isso só acontece porque deixamos que o cotidiano nos coloque uma canga, nos embuçale. Quando a simplicidade deixa de ser percebida por ser simples demais. Entonces a vida deixa de ter sentido, de ser sentida. É quando os suspiros não ecoam mais, é quando se calam as sabiás por não terem para quem cantar, é quando passamos a imitar as máquinas.
Bombeio ainda cada manhã como se fosse a única, ainda percebo as coisas derredor e por em quanto vivo este entono de redomão.

Porto Alegre, crescente de julho.


domingo, julho 25, 2004

Último dia em Três de Maio

Último dia em Três de Maio, e o que ficou!?
Bueno, revi amigos - não todos os que queria - minha Florecita, meus avós, meus pais e a parentama toda. Além disso, neste final de semana o meu ilustre amigo e ermão Castrador cambio pra cá. Cardápio de hoje, um quarto de ovelha assado nas brasas, é pena que o Maneador não pode estar conosco.
Ficou também o silêncio das madrugadas, o canto dos galos em clarinada, o retoçar dos boizitos na mangueira, quero-queros em seus gritos de alarde...
Volto para a capital de todos s gaúcho revigorado pelos ares do interior. E no meu interior já habita a ânsia de votar, pois como tenho dito: "o gaúcho é da pampa assim como a pampa é do gaúcho."
Três de Maio, crescente de julho.

sexta-feira, julho 23, 2004

Bagé

Aqui, como prometido, uns retrato da minha querência amada, a Rainha da Fronteira, Bagé











Para logo, que tal umas Desktop Pictures (wallpapers para os pczóiudos) do Capando Touro a Unha ? ?

Entre Amigos

Ontem não postei. É que fui dar uma gauderiada. Precisava ver um grande amigo que mora em Santo Augusto. Passei por lá ontem o dia todo e  boa parte da manhã de hoje. E é por essas e outras que a vida da gente toma rumos e trilhos diferentes. Meus amigos são especiais, simplesmente, porque são eles mesmos sem mascaras. É em nossas diferenças que fazemos da convivência algo muito agradável. E entre um mate e outro, sinuelando memórias, vamos tropeando cantigas amigas de um tempo que foi e não volta mais.
Hoje em um dos tele-jornais vejo a seguinte notícia: "Passeata em prol do relacionamento entre humanos e animais." Que é feito do paisano? Não sou contra sociedades protetoras de animais tampouco, me oponho àqueles que têm em seus animais seus melhores amigos. Só que, não acredito que isso deva vir em primeiro plano. Animais são companheiros, bonitinhos e tudo mais mas, nunca amigos. Amizade só existe entre iguais, mesmo com todas as diferenças. É preciso que façamos passeatas em favor das relações entre nós e nossos patrícios. Que empecemos tal lida, ajujados todos sob um mesmo ideal: "Todo paisano vale simplesmente pelo que é".
Três de Maio, quarto minguante de julho.

terça-feira, julho 20, 2004

De minha MARCA

Essa é de minha marca, espero que vos regale...

Bombeando as barras do dia novo
Que por detrás do cerro vem empeçando um clarão,
Do sol claro de setembro
Sabiás e bem-te-vis na copa da pitangueira
Assobiam por inteira as saudades que não tem.
E no galpão alguém a murmurar uma coplita
Facerito da vida, simplesmente por cantar
Embora a vida seja braba e a plata teime sempre em faltar.
Mais um amargo antes da campereada
Bonbeia as encilhas surradas e o baio que lhe mira sestroso
Precavido e melindroso sabido da sua sorte:
Trabalhar, trabalhar e trabalhar.
Não só o baio como ele mesmo
Que foi feito farrapo muito depois da guerra.
Por outro inimigo mui maula
A fome, que o fizera cativo sem precisar de jaula.
Bombachas rotas de brim riscado
Um lenço encarnado não sei de quantos anos
E um rancho que é sua morada bem no tope de uma canhada.
De seu: as encilhas, o baio, a velha chaleira preta
e mais dois ou três viveres herdados não sei de quem.
Da carne gorda bem assada tem só o cheiro na lembrança
Pois, não havia mais gado pra ele cuidar
E se houvessem? Seriam conduzidos por
Piazitos que não sabem nem montar
Que bruta desesperança
Que miséria desgraçada
A vida levou do nada o pouco que ainda tinha
E agora a agonia e a única tropilha que vê pela estrada.



segunda-feira, julho 19, 2004

O que é feito do paisano?

Até ontem tudo foi festa. Agora a vida toma seu rumo normal, nem tão normal porque estou de férias. Hoje não saí do rancho, desde cedo mateando na verada do fogo só acolherando as idéias meio ensimesmado. Trocando orelha por causa de algumas coisas que ouvi e não gostei, só não me tapei de quero-quero porque sou mui manso. Só ficou uma lição, ninguém vale mais nada pelas virtudes que possui o que vale é se tener la plana ou não tener. Vi aquilo que tanto se prezou no passado ir a breca; dos meus avós aprendi que se o índio, por mais humilde que fosse, tivesse palavra era bem recebido e bem tratado. Hoje, no entanto, se as encilhas do índio não tiveram prata ou se os cobres da guaiaca são minguados nem Buenos dias se dá. O que é feito do homem? que é feito da humanidade? Que são os nossos semelhantes? Quem é digno de respeito e afeição? Digo que todo ser humano é importante simplesmente por ser filho do Patrão de todos os que cá em baixo habitam. Se não for assim, continuaremos com bretes para ricos, cancelas para pobres e pocilgas para miseráveis.

domingo, julho 18, 2004

Paixão Cortes

Lendo o jornal de hoje encontro uma notícia que muito me agrada: "paixão Cortes lança vídeo do tracionalismo". Dentre as informações que continha o artigo a que mais me impressionou foi a de que a maioria dos CTGs criados fora do RGS são por iniciativas da comunidade, inclusive os no exterior. É a tradição gaúcha ficando raízes cada vez mais fundas por este mundão véio de meu Deus. E porquê?
Isso é assunto para outro post. Ao Paixão Cortes fica nosso mais sincero agradecimento, e nossa homenagem o laçador não morreu, está vivo entre nós e ainda peala como antes.
 
Três de Maio, minguante de julho.

sábado, julho 17, 2004

Bas bah

Mas como é que é tchê?

Noivado de um lado, feriado de outro... e o nosso tradicional churrasco de sábado, quando é que sai?

Bueno, parabéns, abraço de volta e meia para os meus dois colegas de blog, colegas sim, porque companheiro e parceiro quem tem é gay e viado. Gaúcho tem é colega e patrício.
No más paesanos, se preparem que segunda eu coloco umas foto que tirei lá de minha querência, Bagé.

Cambichos Entesourados

 Já se vai algum tempo desde que comecei escrever com mais afinco. Tenho bastante coisas em meu computador, só que não as espalho. Amanhã é a festa do meu noivado e esta estrofe que posto hoje foi feita pensando em minha noiva, minha Florecita.
 
Ao apear do mouro na porta do rancho
Tinha os olhos como nuvens carregadas
E outra nuvem mui negra arrastava no céu.
Na porta do rancho quase tapera
Outros olhos, que não os meus, em dia claro estavam a me esperar.
Como dois sóis ao meio dia, como dois lumes clareando a pradaria
Naquela face trigueira a resplandecer esperança.
O ranchinho posteiro transfigurava-se em formosura
A china bonita que de tanto sonhar
Fazia da enuviada tarde, primavera na pampa charrua.
 
Três de Maio, minguante de julho.

sexta-feira, julho 16, 2004

Três de Maio

Cheguei ontem em Três de Maio, depois de 8 horas de viagem. Vim me reborquiando de um lado para outro no banco do ônibus, mas valeu a pena. Hoje de manhã já ouvi um galito prenunciar alvorada, saí bem cedito para ir visitar meu avô e minha avó, um mate uma prosa amiga e a saudade diminuída aos pouquitos. Amanhã churrasco, leite gordo na caneca e outras iguarias que só a campanha pode nos regalar.

Três de Maio, minguante de julho.

quinta-feira, julho 15, 2004

Agueceiro

Que aguaceiro brabo bateu! Bombeava pela janela a chuva empeçar e os clarões de relâmpago tronando no céu. Quando era piá não entendia direito e morria de medo desse rufar de patas que ouvia sobre minha cabeça. Hoje é dos dias de chuva que gosto mais. São nestes que o campo renasce e a vida que rebrota refazendo esperanças. Na campanha era assim: nos dias de chuva reuniam-se todos no galpão envolta do fogo ou nas cozinha crioulas derredor do fogão a lenha. Para contar causos e comer bolinho frito. E na comunhão dos campeiros com suas senhoras e filhos ninguém reclamava da chuva lá fora; pelo contrário sabiam que da chuva, a vida vingava. Hoje ninguém mais pára de trabalhar por causa de um dia nublado, aliás hoje ninguém mais pára por nada. Lidamos e lidamos esquecendo que a vida é mais que lidar. E das tardes de mate e bolo frito pouco ficou. E da comunhão destes dias menos ainda, solito o homem moderno tem por seus parceiros um punhado de fios e duas ou três telinhas... e os causos!? Poucos os sabem contar como o faziam os antigos. E a chuva lavando o telhado dos ranchos, lavando minh'alma, levando consigo aguadas de sonhos.

Porto Alegre, minguante de julho.

quarta-feira, julho 14, 2004

Ao Vô Davi

Muito do que sei sobre gauchismo vem de meu avô, Davi Loureiro de Mello. Foi com ele que aos seis anos pontiei pela vez primeira a guitarra, aprendi a respeitar os mais velhos e o valor enorme das amizades e também a considerar todos como meus semelhantes de dignos de consideração. Com o vô Davi carpia, colhia frutas e pescava mui paciencioso sempre pronto para o bom concelho e a repreensão amorosa. Quando jovenzito meti-me a ginete, foi dele que ouvi as gargalhadas por causa da patacoada. Não me lembro de Ter ouvido uma palavra rude ou desreipetosa sair daquela boca, pelo contrário, a todos cumprimenta e por todos é bem quisto. Ao vô Davi devo muito do que sou, e nele ainda me espelho pois, esse velho maragato tem muito para me ensinar.

Canto aos Avós
Apparicio Silva Rillo

Os avós eram de carne e osso.
Tomavam mate, comiam carne com farinha,
campereavam.
Sopravam a chama dos lampiões, dormiam cedo.

Os avós tinham braços e pernas e cabeça
(olhai os seus retratos nas molduras).
Laçavam de todo o laço, amanuseavam potros,
fumavam grossos palheiros de bom fumo
e amavam seus cavalos que rompiam ventos
e bandeavam arroios como um barco ágil.

Usavam lenços sob a barba espessa
e o barbicacho lhes prendia ao queixo
sombreiros negros para a chuva e sóis.
Palas de seda para as soalheiras,
ponchos de lá quando a invernia vinha.

Tinham impérios de flechilha e trevo
e famílias de bois no seu império.
E eram marcas de fogo os seus brasões.

Charlavam de potreadas e mulheres,
de episódios de adaga contra adaga,
do tempo, das doenças, das mercâncias
de gado gordo para os saladeiros.

Tinham homens a seu mando, os avós.
No quartel rude dos galpões campeiros
- enseivados de mate e carne gorda -
os empíricos soldados madrugavam
na luz das labaredas de espinilho
que era sempre o primeiro sol de cada dia.

Honravam os avós a cor dos lenços:
- a seda branca dos republicanos,
o colorado dos federalistas.
E morriam por eles, se preciso,
- coronéis de milícias bombachudas
acordando tambores nos varzedos
no bate casco das cavalarias.

Nas largas camas de cambraias alvas
vestindo o corpo da mulher mocita,
juntavam carnes no silêncio escuro
pautado por suspiros que morriam
no contraponto musical dos grilos...

Os avós eram de carne e osso.
Tinham braços e pernas e cabeça,
artérias, nervos, coração e alma.

Humanos como nós, os velhos tauras,
mas de bronze e de ferro nos parecem
esses campeiros que fizeram história.
Estátuas vivas de perenidade
nos pedestais do tempo e da memória.

terça-feira, julho 13, 2004

"O que me falta nos dedos me sobra no coração"

Depois do friozito de Rio Grande no final de semana, Porto Alegre me recebeu com uma temperatura bem mais elevada. É que aqui o minuano não corta como lá. Foi uma viagem mui buena.
Depois de duas semanas de telurismo, agora alguns devem estar pensando que minha paixão por estes pagos está mermando. Não foi o que aconteceu de fato. Apenas ando tomando tenência. Tenho muitas coisas que escrevi para postar, mas as colocarei bem despacito.
Como já devem ter percebido gosto muito de nossa música, eu mesmo arranho uma guitarra, e como diz Eron Vaz Matos: "O que falta nos dedos me sobra no coração" vou tentiando trago-a bem para perto do peito empeço alguma milonguita só para "contrariar a quietude". Já tentei junto com alguns paceros escrever músicas para festival, o que está em fase de aprimoramento. Das vez em quando, sai alguma côsa que presta. Só que, mais do que talento esta lida carece talento, e é o que peço ao Patrão de nosotros todos. Quem sabe um dia?


sábado, julho 10, 2004

Mulher Gaúcha

Me perdi lendo "Mulher Gaúcha", há neste lindos versos muito sentimento e muita sabedoria. E alguns preconceitos: "Pobre só vota em quem manda e desconhece outra coisa que não seja trabalhar." Não falarei de política, tampouco de ideologia alguma. Só citei o verso porque, gosto muito desta payada apesar deste a pouco citado. Lindas imagens e um sentimento verdadeiro me fazem refletir sobre a pureza das relações. Há ainda muita bravura e entono: "Vamos ver moçada guapa quem honra a estirpe farrapa e atropela numa carga por um trago de cachaça." Ou "E a não ser saudade e mágoa nada ficou pra trás a garganta dos peçuelos misturava pesadelos sanguessugando, voraz, cartuchos e caramelos, o talabarte e o pala, bolacha e pente de bala, fumo e chumbo - guerra e paz...". Esse versos anuviaram meus olhos.
Ainda em Rio Grande agora faz 07 graus, é frio e vamô vê. E o Grenal?!?
Encontrei muitos e muitos parceiros todos a preceito, o que me fez faceiro por demais. Já que, além do Maneador e de Castrador poucos são meus amigos de bota e bombacha.

sexta-feira, julho 09, 2004

Enfim, o Inverno

Tanto eu pedi que ele chegou, o inverno, eu sei que a estação já se iniciou, só que o frio ainda não tinha empeçado. Hoje tá de renguá cusco, pelo menos aqui em Rio Grande, pois em POA não faz enregelar nunca. Faz quatro anos e meio que moro nesta cidade e nada do frio, vim curtidito lá das missões, agora chego ter até que tomar banho quente veja só. Enquanto, na campanha, dava risada desses friosito de 5 e 6 graus, ahora bateu nos 10 tô rengueando.
Acabo de voltar de um passeio pela lagoa, mui lindo! Algo aqui traz um ar de nostalgia, não sei se são os antigos casarões, a prefeitura? me lembro muito quando ando pela zona da prefeitura do livro "Varões Assinalados" do Assis Brasil, uma ótima leitura além de um excelente romance a verossimilhança é impressionante. Pena não poder postar algumas fotos.
Há outra coisa muito importante no dia de hoje: é o aniversário do Maneador! Feliz Cumpleaños, ermão! Que o Patrão de nosotros todos lhe de sempre aguada farta, pasto verde e bom potreiro na sina desta existência. Que nenhum de nós se perca do sinuelo que conduz para o Rincão lá de riba.

Rio Grande, lua cheia de julho.


quinta-feira, julho 08, 2004

Agente de Bombacha anda esquecida

"Eu me levanto cedo, vou lavando a cara água no fogão, boto o rádio numa FM, dessas que perde por um milongão"
Todos os dia que eu vou para Eldorado, consigo ter vislumbres de campo. São dez, quinze minutos. Quando o ônibus sai da cidade pega a estrada que consigo bombear as poucas parte do bom verde lá de fora. No entanto, são só pequenos momentos de faceirice.
Lá percebo o que a cidade fez com meus patrícios: " que changueiam o pão divino no portal de um cola-fina" assim que vivem tantos que a vida da cidade iludiu. E que agora tem que viver de restos, não consigo compreender o que se passa na mente deste despilchados, mas uma coisa consigo perceber: resignação. Pior que uma realidade cruel e acomodar-se com ela. E viver de desesperança. Queria que juntos pudéssemos pechar futuro, dando-lhe um trancaço fazendo este redomão embuçalado. Todavia, ele que vem manoteando e procurando a volta pra pisar o paisano. Só espero que nao digamos como nos cantam: "O que é da vida? Está cansada. A gente de bonbacha anda esquecida, pelos fundões da estrada.

Hoje me largo ala cria para ver minha Florecita, amanhã posto de Rio Grande.

Porto Alegre, lua cheia de Julho.

quarta-feira, julho 07, 2004

Sestroso

Hoje amanheci sestroso, ando trabalhando mais do que partera na campanha. E as vezes isto cansa. Acordei de sobresalto as... pouco importa a hora, o fato e que foi de susto. Quaje me quebra os arreio, bueno mais um dia; menos um dia e assim vamo inventando e charlando nestas parajens. Um buenas.
Porto alegre lua cheia de Julho.

terça-feira, julho 06, 2004

Manhanita

Bueno, hoje por causa de umas lides acordei mui cedo. Já tinha me esquecido como eram lindas as barras do dia novo. O friosito, o mate pra aquecer os dedos, cosa mui especial. Esta semana meus post's serão mais presentes do que nunca neste blog, é que estou de caseiro na casa do Castrador e o índio é taco e tem a tal da internet rápida, mas que bah! Entonces, indiada se aprepara que o Curador esta semana vai escrever tanto que vocês vão fica vesgo.
"Quando chegar meu inverno que me vem branqueando o cerro", sei que a metáfora não é literal, mas me perdoem a insensibilidade, só quero saber quando chega o tal inverno!?

Porto Alegre, lua cheia de julho.

domingo, julho 04, 2004

Saudade Passarinheira

"Quando chega Domingo encilho meu pingo que troteando vai?"
A minha vontade hoje era esta, encilhar bem meu cavalo e me largar pra junto daquela que fez morada em meu peito. Um dos grandes sofismas a respeito do gaúcho diz respeito a sua atitude com relação aos seus sentimentos. Alguns julgam, erradamente, que somos todos teatinos, gaudérios e por não termos paradouro nossas relações amorosas são volúveis. Tão sem fundamento, como dizer que a rudes do gaúcho é sinônima de ignorância. Dentro de nosso cancioneiro não são nem uma, nem duas mas um infindo número de canções que exaltam o amor de dois apaixonados. "Tenho a chirua mais linda do que a flor da maçanilha". É isso: distante léguas e léguas de minha bem amada me sinto solito, por certo, mas da saudade tiro a esperança e da esperança o sonho de um dia nunca mais precisar passar estes domingos longe dela."Não sei viver sem tua cantilena, morena linda que é meu bem querer."

Porto Alegre, lua cheia de julho.

sexta-feira, julho 02, 2004

Tropilha de Pensamentos

Desde ontem tenho sido agraciado com buenas coisas: primeiro a visita de meu ermão Gustavo que veio lá de Goiânia de féria e cruzo cá no meu rancho pra uma charla e um mate, outra cosa mui especial foi o CD do Rogério Mello e do César Oliveira que comprei.
Tenho refletido sobre a experiência de ter as coisas que escrevo espalhadas por aí, mundo à fora, e acabo por perceber que é macanuda esta lida. Posso fazer das coisas que gosto bendição para outros e dos outros receber a palavra que apoia ou reprime mas, que sempre vem como um eco de uma tropilha. Gateados, lobunos, cabos-negros de tantas formas e variantes são meus pensamentos entropilhados que muitas vezes nem os reconheço. Alguns já são bem domaditos só que outros são redomões e para estes tenho que dar mais atenção. Alguns ficam na minha volta rédeas a arrastar no chão, são atentos ao assobio e macios de boca e ligeiros; outros são malevas, retoçadores e niguém maneia ou doma. Assim dentro de cada um de nós há um potro pedindo vaza e outro bem encilhado pronto para montar.
Porto Alegre, lua cheia de julho de 04.


Retratos







Como prometido, lhes dexo aqui os retrato que tiramo do sabado passado.
Pra nao ficá apenas 3 xirús loco de feio pra se vê, regalamo os retrato de umas xinas especias de primera.

quinta-feira, julho 01, 2004

Tenho cá nos meus peçuelos literários um excelente livro, Cancioneiro Gaúcho de Augusto Meyer. Uma pesquisa bastante profunda sobre as raízes culturais, principalmente musicais, do gaúcho. Muito interessante vale a pena ser lido e estudado. Transcrevo abaixo alguns fragmentos para apreciares:

Eu amei uma tirana
E ela não me quis bem;
Agora vou desprezá-la
Vou ser tirano também.

Tirana feliz tirana,
Tirana de um dolorido,
Uma tirana de gosto
Deixa um gaúcho perdido;


Estou velho, tive bom-gosto,
Morro quando Deus quiser;
Duas penas levo comigo:
Cavalo bom e mulher.

Cavalo bom e mulher
Foi pelo que fui perdido:
Cavalo bom sempre tive,
Co'a mulher fui unido.


A muitos versos como estes simples, singelos mas que resumem mui bem a alma dos gaudérios. Prometo voltar com mais desta sabedoria campeira nalgum post.

Porto Alegre, lua crescente de junho.