Blogue grosso e taura uma barbaridade. Nele, além de cultura, literatura, música, payadas, vão nossos chasques e peçuelos. Reflexões feitas à beira dum fogo de chão escritas por quatro queras arinconados em Porto Alegre: Maneador, Castrador, Curador e Marcador.
terça-feira, agosto 31, 2004
Expointer
Quanto ao espetáculo do Rogério e do César posso dizer que foi lindo. Boa música, boa companhia o que posso dizer a mais é que foi macanudo. Pena é que aqueles gauchinhos estavam brincando de lutinha bem perto donde eu estava com minha prenda, deplorável ver um bando de marmanjo se agarrando. O pior é que quem vem de fora do estado bate o olho nestes tabacudos e sai por aí espalhando que gaúcho é tudo fresco, já que é chegado num agarramento com a gurizada, façam-me o favor pelo menos na frente das visita não me façam fiasco.
Nesta semana talvez o pessoal todo do Capando apareça no show do Mano Lima pra tapa de grito a Expointer.
Porto Alegre, cheia de agosto.
sábado, agosto 28, 2004
Me tapo de quero-quero
Finalmente, além de estar muito contrariado, estou revoltado! Não nos farão abandonar nossas tradições e costumes com desagravos deste tipo. Além do preconceito que essa atitude denota, estão nos condenando mais uma vez ao exílio para fora das cidades onde, por não compreenderem, julgam-nos rudes e brutos demais para o convívio urbano. A esses, por fim, dirijo as palavras do velho Jaime: "não vou matar meus avós para ficar de bem com os netos."
Porto Alegre, crescente de agosto.
quinta-feira, agosto 26, 2004
Trocando Orelha
E, patrícios, esse ciclo de dúvidas e respostas não me entediam, ainda paro na beirada de uma sanga e me deixo ficar só por vê-la correr, e que meteia na sobra da figueira grande bombeando o campo, o gado, as ovelha... Se não paramos as vezes para nos fazermos algumas perguntas, e que só nós podemos responder e mais ninguém, talvez passemos por esta campereada sem perceber qual o sentido da vida.
Seguindo nesta sina de andejo, repontado meus pensamentos rumo a estância que me tem preparado o Patrão de nossotros todos que habitamos cá em baixo, troteio com esperança e da esperança tiro o sonho.
Porto Alegre, crescente de agosto.
quarta-feira, agosto 25, 2004
Solito no mas
Foi uma manhã de mi flor, só ouvi pardais e canários nada de carros ou sirenes. E neste silêncio é mui fácil ouvir aquela vozinha que charla dentro da gente. Contando coisa, que não são novidades, mas que muito me fazem faceiro. Para quem se criou na cidade, no meio deste turumbamba, pode não entender muito bem do que falo: a dádiva do silêncio. E não se trata apenas do silêncio que se faz no ambiente, e sim, aquele que vem de dentro. Quando conseguimos escutar os sussurros da alma, dos recuedor e peçuelos que são só nossos. Patrícios, e como é linda a melodia que embala o silente, não fiquei maluco, é que no silêncio uma coplita mui faceira ilumina as idéias, os sonhos. Se não sabes do que falo, é pena, pois se não a ouviste ainda talvez teus intentos tenham muito do ronco matraqueiro dos motores.
Porto Alegre, lua nova de agosto.
terça-feira, agosto 24, 2004
Esses doutores...
O pior é que alguns nutrem tal admiração por estes "doutores" que a crítica acaba sendo esquecida, ou fica calada pois, afinal de contas, o alimal é um doutor. Patrícios, fico me perguntando até quando vamos olhar primeiro para o quanto de gado que tem o nosso semelhante é só depois, então, vamos dizer o quanto ele vale!?
Prefiro ficar com as palavras do Nazareno, o andarengo, como dizia Aparício da Silva Rillo.
" - Pobres de bens e espírito vos chamam
os poderosos sempoder nenhum...
mas há um reino que é vosso e vos espera
numa terra que herdareis, por nada terdes,
senão, as carnes que vertem vossos ossos
e essa esperança que vos mata a fome...
- a vós pertence essa estância
de léguas de sesmaria.
a braço algum há de faltar serviço,
nem haverá patrão para cobrar-vos
o ouro de vosso suor com que seus bois engordam,
a força de vossas mãos a embandeirar espigas.
- sem que o possais entender, sois venturosos
em vossas aflições, vossas angústias.
e porque a mansitude e a humildade vos reveste,
herdareis outros bens que não aqueles
que vedes nas mãos de garra, da usura...
- vossa fome de igualdade e de justiça
será saciada, como a do faminto
que encontra à mesa posta, vinho e pão...
e por misericordiosos, flui de vós
a água limpa da felicidade
que vos dará mesericórdia por beber.
por puros de coração vereis a deus
e sereis chamados seus filhos,
meus irmãos !...
- porque a pregação da paz é vosso canto,
vossa cordeona de espantar pesares
para reunir irmãos em baile de ramada.
e porque vos persegue a injustiça da justiça,
havereis de reguer um dia vosso rancho
no sítio que escolhereis em sua estância,
essa, que o pai destinou aos ofendidos,
aos caluniados por me acreditarem
e ouvirem minha voz, com a um cincerro
timbrando bronzes pela madrugada...
- imaginai os rincões onde ireis estanciar:
trevais e sombras, sanga cantadeira,
leite de apojo, pão de forno e mate
bordões de brisa a salmodiar toadas,
dessas que falam de ternura e paz !...
- há de ser essa avossa recompensa,
a vós, despionados da fortuna
que nada tendes mais que vosso corpo.
mas sois, sem que o sabais, o sal da terra,
a luz do mundo na chamados candieiros
a iluminar o caminho, porque vindes
a escutar minha palavra, timbre e eco
do verbo de meu pai, de que sois rama !...
- e não vos preocupeis com vossas penas,
nem com vosso exterior, que apenas vale
o que levais no íntimo e por dentro !...
- assim, vos vê meu pai e há de prover-vos
e amar-vos tanto como a mim, - seu filho,-
feito a vossa figura e vosso irmão..."
Porto Alegre, lua nova de agosto.
sábado, agosto 21, 2004
Disse o poeta...
Disse o poeta "fiz um mate mais cumprido porque sei que ela não vem".
Dessas coisas de distância sei bem, mas se mateio solito não quer dizer que esteja solo. Outro poeta disse algo que parafraseio. Porque desesperar na ausência da bem-amada se o mesmo céu que vejo, o mesmo ar que respiro e o mesmo chão que piso são os que ela vê, respira e pisa. Algo une os amantes que não compreende os que não o sentem, não vivem e não sofrem. A saudade sofreno, embuçalo e a tenho junto de mim. Mas, sem desespero. Tenho na saudade minha esperança, meu sonho. De que minha Florecita junto de mim um dia ira matear, por dias e dias de infinda faceirice. E se hoje mateio solito é por pouco tempo, e o tempo num trote chasqueiro vai chegando mais perto das casas. E nas casas me espera aquela que é meu bem querer.
sexta-feira, agosto 20, 2004
Certa vez escrevi para minha Florecita, que escrever era como um dia nublado; nem todos os dias são nublados como nem todos dias são propícios para se escrever. Bueno, esse é um desses dias. Mas como disse o homê das ciência, que a tal inspiração era só uma parte pequenita das coisas que fazemos me atraco a rabiscar.
Lembro do Verso do Mauro Moraes: "eu escrevo com o violão no colo enchendo os olhos de sinuelo."
O que vem sinuelando meus pensamentos de hoje são mesmas e corriqueiras cousas. São os meus peçuelos engarupados um a um, os quais cuido e preservo. Talvez por aporreado que seja teimo em amadrinhar minhas esperanças. E para não discorrer sobre a mesmice atraco um verso que considero flor de especial. Entonces patrícios, quem sabe amanhã se faça nublado, de novo, em meu rancho.
"É meu vizinho de porta
Um casal de quero-quero,
Por isso, embora índio pobre,
Bem rico me considero:
Tendo china, pingo e cusco
Do mundo nada mais quero!"
Jayme Caetano Braum
Porto Alegre, lua nova de agosto.
quinta-feira, agosto 19, 2004
Laçador
Não só porque foi a Paixão Cortes que cumprimentei mas, porque este homem traz um ideal antes de si mesmo. O ideal de não entregar-se culturalmente quando as pressões externas ditam quais são as modas que prestam. O ideal de ter um rumo, um norte que conduzirá aos que vem de atras. O ideal de que aquilo que é nosso, terunho, deve ser preservado e cultivado pelas gerações vindouras.
Porto Alegre, Lua Nova de Agosto.
quarta-feira, agosto 18, 2004
Hospitalidade
Foi assim que me senti lá no Raízes, como um amigo recém chegado que num grito de passe pra diante, já recebe a cuia e um aperto de mão.
Mil gracias, patrícios. Mil gracias meus ermão.
Porto Alegre, minguante de agosto.
segunda-feira, agosto 16, 2004
Peçuelos
se acalmem gurizada medonha, que logo tem novidade despontando.
domingo, agosto 15, 2004
Amigos
sexta-feira, agosto 13, 2004
Aquerenciar
Conheço muitas paisanos que trocaram de pago e sentem-se mui bem aqui no estado, só que o fato de eles morarem aqui não os torna gaúchos (pelo menos de nascimento) assim como há muito gaúcho de nascimento que não poderia ser considerado como tal.
Mas o que é ser gaúcho então!?
Pouco se fala em ideologia em nossos tempos, nos anos 80 foi muito comum o seu uso, hoje comumente fala-se em estilo de vida. E é isso, exatamente que é ser gaúcho um estilo de vida; que tem pouco a ver com pilchas e fandangos, mas tudo com valores e princípios. E isso tenho tentado transmitir através destes pequenitos chasques que regalo a ustedes. Campeio na alma do paisano seus peçuelos, suas amarguras e curo. Por isso Curador.
Lembro de um verso que parcereia bem o que escrevo: "tem o que é gaúcho da boca prá fora; mas tem o que é do coração prá dentro". A cultura vem de lambuja pois, somos o que somos pela evolução e preservação cultural.
Porto Alegre, minguante de agosto.
quinta-feira, agosto 12, 2004
Se foi com Deus pra outra campereada!
O olhar torna-se nevoento.
Torrente de inverno em meu rosto
Tenho um turvo mirar, e uma lembrança
Clara como uma manhã de Maio.
Não são ecos de uma tropiada longínqua
Tampouco, um vulto a sumir na distância.
São sim, como a marca do quente ferro
Como figueira na porta do rancho.
Reponto-as para junto de mim
Tão perto que posso tocá-las.
As redomonas trago a cabresto
As mansas pastam ao meu redor
São parceiras para os dias de festa
E o conforto na solidão.
Lembranças de tempos remotos:
Consolo para os que virão.
Os matizes do entardecer colorem minhas lembranças
E o sentinela do pago em um silvo breve anuncia que elas estão chegando
São cambichos entesourados que habitam em mim
São lembranças de saudades que não tem fim
E na noite sem lua do pago, a única estrela é o rancho
O ponteio da guitarra faz dueto com os grilos, e algum pio de coruja
A perder-se no frio, e a saudade que maltrata este peito bravio
Acolhedoras como meu catre são minhas lembranças
Simples e singelas mas tapadas de esperança.
E a nova manhã que destapa o negror da noite, trazendo raios e luzes.
E neste clarão eu medito, nas minhas lembranças de outrora.
Nas coisas que ainda acredito.
Porto Alegre, minguante de agosto.
quarta-feira, agosto 11, 2004
Sem sonhos não há esperança!
Mas isso não deve importar para a maioria das pessoas que lêem nuestro blogle.
Hoje recebi um cartão, mui lindo, de dia dos pais. Embora, eu mesmo ainda não o seja, explico, é que para algumas crianças tenho sido como um pai, talvez não tão pai assim, mas um bom amigo posso vos garantir. E o que mais me faz ficar trocando orelha é que essa gurizada cresce em um ambiente tão ruim que o menor sinal de bondade os faz tão faceiros.
Quero continuar soltando pandorga, e pião, e bulita brincando com estes meus pequenos. Porque vejo que um futuro melhor pode apontar lá onde a boieira se esconde no final da manhã.
segunda-feira, agosto 09, 2004
Meu Rancho
Meu rancho cidadino não é meu com certeza
E na aspereza destas palavras é que residem meus sentimentos
Que no recondido de meu peito
Sonham verdes e terrunos momentos.
O momento da volta é este que anseio
Quando eu avistarei a mangueira , o rancho
As coisas d eminha infância
A sanga e o quero-quero
Relinchos e potros na pampeana estância
Ah, meu rancho quantos segredos tu tens
Segredos que só minh'alma campeira sabem bem.
Que desejam de fato recordar o passado.
Porto Alegre, minguante de agosto.
sábado, agosto 07, 2004
Nosotros
Bueno, e não é por acaso que usamos estes pseudônimos - apelidos. A princípio a idéia surgiu de uma das músicas do Mano Lima, mas pensando um pouco mais sobre o assunto percebo que há alguma coisa de nossas personalidades em cada uma das alcunhas. E com permiso de meus ermãos tranço um pouquito deste tento hoje tentado explicar o porquê de tais apelativos.
De primeiro, o nosso ilustre Maneador. Como é sabido de todos que convivem com as lides gaudérias o maneador é quem põe as maneias quando de uma castração, ou doma. Pois bem, nosso companheiro Maneador é assim, quem sempre empeça a lida por seu temperamento mais explosivo - poderia se apelidar espoleta - dono de um pavio curto não se achica frente ao potro mais maleva e cabresteador. É também aquele que por primeiro sai em defesa do que acredita e presa.
Do Castrador posso afirmar que possui a ciência de "castrar" sem provocar sangria. Menos espraiado que o Maneador possui a fibra guerreira dos que lidam com a adaga. Nem tão ao norte, nem tão ao sul é o ponto de equilíbrio entre o Maneador e o Curador. Sempre bem disposto e faceiro é o Castrador que, como disse, tem a ciência no tal dos computador.
E yo, Curador é aquele que por último se chega na castração para tratar da ferida do alimal. E é assim que me sinto, por perceber um pouco das desgraças da alma dos outros ajoujadas com as minhas eu as medico. Sal grosso, creolina e um bocado de charla podem resolver muita coisa.
É rasa como sanga minha descrição e carece matutar mais sobre isto, quis apenas fazer um breve relato prá mode não haver mais confusão. Se não clareou nada, bueno, aí fica pra próxima.
Porto Alegre, lua cheia de agosto.
sexta-feira, agosto 06, 2004
Sexta-feira...que fandango que nada
quinta-feira, agosto 05, 2004
Um Mate Recém Cevado...
Conversando ontem a noite com um dos meus ermãos - Binni - eu tive um estalo.
Este ermão está escrevendo seu trabalho de conclusão de curso sobre o gaúcho, suas origens valores e outras cositas más. E nesta buena charla chegamos ao mate, sua importância e simbolismo dentro do gauchismo.
E dessa conversa surgiu o seguinte: que há no mate um forte aspecto relacional e este se divide em três formas: o relacionamento intra-pessoal, o extra-pessoal: este se subdivide em fraterno e amoroso.
O intra-pessoal é aquele de quem mateia sólito, é o momento de solitude de bombear para dentro de si mesmo e deixar que o pensamento, sem rédeas nem cabresto, galope longe onde só consigo mesmo nós podemos chegar.
O extra-pessoal fraternal se dá quando junto com os amigos numa roda fraternal trocamos de mão em mão ao cuia, não só a cuia mas nossos sonhos, frustrações, desejos e esperanças. É quando miramos para o lado e vemos que a mão que está estendida não busca só a cuia mas o abraço, a ajuda o companheirismo. "Um mate recém cevado silencia o galpão grande".
Quanto ao amoroso... vários versos vem a minha mente: "na bomba do mate ficaram teus lábios" ou ainda "Antes de te abraçá Erondina com a mais crioula emoção. Vou sorver teu beijo doce na bomba de chimarrão" e mais "o amargo representa uma saudade e o doce coração que ela não tem." Só quem teve um amargo cevado pela bem amada entende o que digo, pois o mais doce dos mates não é o de mel ou o de leite. Mas, aquele que é feito por aquela que bem queremos.
Alcançar um mate é mais que um hábito ou um ritual, é um símbolo de nossos diferentes relacionamentos. Queira Deus que nossos mates nunca sejam só amargos ou lavados, mas sempre novos e encilhado a preceito.
Porto Alegre, lua cheia de agosto.
quarta-feira, agosto 04, 2004
Peçuelos Antigos por Demais
Abraços com calor de mate e beijos doces como mel de mirim
Senti, como sentem os príncipes
Imaginei, como o fazem as crianças
Aquele era o meu castelo e a china minha rainha
Num reino cercado pelo mais verde dos verdes
Dádiva do Eterno
Calados tentado ouvir os pensamentos um do outro
Bombeando na volta a chuva a empeçar
Gotas de vida renovada, crescendo ao passo da mansa garoa
Pra minha Florecita, "china linda que é meu bem-querer".
Porto Alegre, lua cheia de agosto.
terça-feira, agosto 03, 2004
Que semana bem braba!
Por esso, postarei alguns peçuelos esta semana.
Minha pandorga, meu saco de bulitas
A boneca de sabugo e a bruxinha de panos
São minhas coisas queridas bunititas
Que carrego neste tenros anos
Correr atrás dos meus amigos no pega-pega
Subir na árvore, comer pitanga
Correr descalço brincando de cabra-cega
Fazer com ossos pequenos boizitos de canga
Brinquedos do passado que ficaram na lembrança
Dos meus avós e dos meus pais
Que eu não guardei por herança
O que foi ontem hoje não é mais
Hoje não me "interto" como eles faziam
Dos brinquedos do passado não ficou nem o cheiro
O vídeo game e os desenho que na TV se animam
São as coisas que me fazem faceiro