quarta-feira, setembro 29, 2004

Chuva Miúda

Primeira noite de lua cheia e a chuva empeçou para não parar tão cedo. Noite boa para pescar, namorar e caçar tatu. Mas para aqueles que não podem abrir mão de nenhuma dessas opções é uma noite mui buena para ler um livro ou simplesmente dormir. Friosito, o compasso marcado pelo gotejar miúdo da chuva... e o sono vem pra pealar. Pena é que não dá para se ouvir somente o barulho da chuva, dos grilos, dos sapitos. É pena que esses aviões insistam em passar fazendo essa barulheira, e os carros tenham que buzinar. Se não fosse assim, muito mais bela seria esta noite. Bela como uma milonguita assobiada de manso ao pé do fogo de chão.
É patrícios teimo em ser nostálgico, principalmente nestes dias de garoa miúda. Quem sabe um dia devolta ao meu interior sinta completa essa alegria que anseio. E nas noites de chuva sinta o cheiro do campo molhado por ela. Enquanto isso meus olhos é que molham, de saudade, meu interior.

Porto Alegre, lua cheia de setembro.

terça-feira, setembro 28, 2004

Prece Sinuela

Ao Deus Menino faço uma prece sinuela
Pedindo que repontes amadrinhando
Os gaúchos do meu estado
Pra que o olhar do piazito tenha mais esperança
E a madre que segue com as crias na ilharga
Possa olhá-los e ver futuro certo
Que o peão no campo cuidando do gado
Possa sentir-se ajudado na lida bruta do dia
Certos que não foram largados a la cria nos fundões do meu estado
Peço menino Jesus que transformes do meu peito, rancho tapera
Em bela morada pra ti habitar
Que meus dias prolongues junto de ti
Pra que eu viva guri de novo a brincar
Correndo contigo nas asas do bem-te-vi
E durma sorrindo, por certo sonhando
Menino Jesus
Com um mundo tão lindo e tão puro que
Enquanto durmo não queira acordar.

Porto Alegre, crescente de setembro.

sábado, setembro 25, 2004

É companheiro a vida anda braba!

Tardezita, sabiás e bem-te-vis pulam de galho em galho cantado faceiros. Na porta do rancho, sentado na soleira um gaúcho, bombacha remangada traz numa mão a cuia na outra um palheiro. É o fim de mais um dia de lida. Sobre a face ainda tem o sal do suor que se mistura vez por outra ao amargo do mate. Se estica para alcançar a cambona e servir mais um amargo e num pequeno assobio chama para perto o cusco ovelheiro, amigo e confidente. O cusco se vem manhoso, orelhas baixas e cola erguida, se senta aos pés do qüera e fica a lhe olhar. "É companheiro a vida anda braba" foi só o que disse. Mas o cusco conhecia bem aquele jeito de dizer sentido e murchou ainda mais as orelhas. E o céu que em matizes colorados dava lugar para a noite, parecia simplesmente ser um reflexo dos olhos daquele que, sentado, teima em sentir saudades. E o mate já frio e lavado deixava na boca um gosto de angústia. Deitou a cuia no pé da cambona, calçou as alpargatas e se foi para o rumo do lajeado. Tencionava que lavando o suor do dia lavaria sua alma e a água que correia entre suas mãos levaria para longe essa angústia matreira. No costado do lajeado tirou as alpargatas, a camisa e remangou as bombachas. Já se ia longe o sol e o último rubor escassiara, ficara ele e o cusco sob a lua clara que vinha repontada pela boieira. Deixou-se ficar por um tempo ouvindo o murmúrio da sanga, que num compasso marcado cantava serena para ele escutar. O cusco sestroso olhou bem no seus olhos e devarito foi se chegando para junto da sanga querendo a sede matar. E o silêncio infinito embalado pela aguada e os grilos, seguia insistindo que era preciso pensar. Desistiu do seu primeiro plano e despido se atirou na sanga com gana, queria lavar a alma, os pensamentos...
Bem cedo Nicácio cruzando no passo bombeou um cusco sentadito do lado de um corpo nu, que o mirava sentido como dizendo: "é companheiro a vida anda braba!".

quinta-feira, setembro 23, 2004

Felicidades Florecita

Hoje está de aniversário a flor mais linda deste rincão. É a minha Florecita que completa mais um ano de vida e de forma alguma eu poderia deixar de fazer esta homenagem. Pois se este gaúcho é faceiro é porque tem uma prenda mui especial do seu lado para fazer costado. Para a minha bem-amada os meus mais sinceros parabéns e o desejo de que sejas muito feliz - ao meu lado - por longos anos. E que o Patrão de nossotros todos continue a te proteger e abençoar.
"Permita, morena, que eu sonhe contigo
Num rancho onde abrigo meus dias de frio
Permita, morena, que eu veja teus olhos
Buscando os meus alhos nas águas do rio".
Felicidades Florecita, morena linda que é o meu bem-querer.
Porto Alegre, crescente de setembro.

terça-feira, setembro 21, 2004

Privilegiados



Falam muito em privilegiados nesses dias de gaúchos de bombacha estreita, e o que antes era um termo honrado, que nada denotava sobre o caráter do vivente dito priveligiado, a não ser a sua sorte, acaba se tornando pejorativo. Quem têm privilégio, boa gente não é, afinal, se eu não tenho privilégios, ele não pode ter também. E no fim das contas, o que é um privilégio? É aquilo que o próximo tem que eu não tenho.
Bueno, nem por isso me sinto menos faceiro por considerar a mim, e aos hermanos do Capando, um bando de privilegiados, vejam bem, quantas pessoas que moram na zona metropolitana de Porto Alegre podem dispor de um Galpão de chão batido, um fogo de Chão para esquentar a água do chimarrão e assar o churrasco na melhor moda campeira? E ainda uma roda de amigos para tratar de assuntos nativos, cantar musicas campeiras e declamar payadas até altas horas da noite? Enquanto a magrinhagem se mete nos buracos escuros da cidade para encher as guampas com os tais dos tóchicos ao embalo de músicas frias dos sintetizadores eletrônicos, me reuno com os amigos do Capando para cevar a amizade firmada em valores mais antigos que os torrões deste chão.
Me contento com pouco, um naco de carne bem gorda, uma mate amargo, as estrelas do céu sobre a cabeça e vozes rústicas que entoam cânticos, poesias e confidências.
É muito pouco para se invejar? -- penso cá solito, serei mesmo um privilegiado ou apenas um loco que valoriza demais o pouco que tem?
E quando penso na simplicidade das minhas exigências, vejo que na verdade não sou nada comedido, pois peço para as minhas noites de sábado o maior dos tesouros que percorre esse rincão debaixo do céu. Porque essas coisas, por serem por demais simples para a alma irrequieta do homem moderno, são por isso mesmo, as mais raras e difíceis de se achar além de ser as mais necessárias.

segunda-feira, setembro 20, 2004

Ao Rio Grande, o meu abraço


O gaúcho se define como tipo ainda na primeira metade do século XVIII. Não é um tipo racial, fruto de mestiçagem étnica, mas a resultante natural de uma necessidade econômica - o aparecimento do homem capaz de se aventurar nas vacarias, para caçar o gado chimarrão (selvagem, como o mate e o cachorro do campo).
De lá pra cá se vão dois séculos. Não há mais gado solto sem dono e nem teatinos para dar-lhes um alce. Aliás, durante longos anos a identidade cultural do gaúcho sofreu grande depreciação fruto, principalmente, dos estrangeirismos que influenciaram toda a nação brasileira.
Contudo, a chama tradicionalista nunca se apagou nos galpões gaúchos. E lá por meados de 47 uma gurizada se juntou, para que tudo aquilo que era crioulo - nativo - não fosse esquecido. Destes que iniciaram o processo de estruturação e normatização das ditas tradições gaúchas podemos destacar: Ciro Martins, Ciro Gavião, Barbosa Lessa, Paixão Cortes, entre outros. É muito interessante se pensarmos que nesta época todos eles não contavam com mais de vinte anos de idade.
E a roda da carreta do tempo continuou ringindo e chegamos até nossos dias, com o movimento gaúcho organizado e institucionalizado, que se espalhou pelo mundo todo. Existem CTGs na China, no Japão, na Rússia... Contudo, muitos gaúchos vivem "alheios" a este movimento. Gaúchos de nascimento não cultivam nem prezam por suas tradições. Mas sentem, com certeza, uma pontinha de orgulho por terem vingado aqui neste torrão.
É uma época de celebrar nossa história, nosso gauchismo e seus ideais. Mais do que isso, é época também de recolutar o que temos feito por este pampa sulino, de bombear o passado com os olhos no futuro para que a nossa terra bravia possa ser um lugar muito mais macanudo do que já é hoje, para que nossa herança não seja só de palavras mas, como nos dizem as Escrituras de atos de justiça.
"Rio Grande véio que hoje eu canto emocionado na semana farroupilha". Por ti vai minha oração e meu agradecimento por teres feito tanto pela pátria verde-amarela.

sábado, setembro 18, 2004

Ala Mira!

Bueno patrícios, ontem a coisa foi braba. Tocamos mais ou menos umas três horas sem parar, chego tá com os dedo inchado. Acho que ainda não havia contado para usted que nós iamos tocar em Novo Hamburgo. Pois é, ontem eu, mais o Maneador e o Marcador se toquemo pra lá. Animemo a bailanta até as quinze pra meia-noite foi loco de bueno.
Pro patrício Castrador que não pode ir vai o recado: "Ah seu tocador de rádio eu queria tanto mandar este recado para o meu cumpadre Castrador que está aquerenciado na alma do meu violão" .
Hoje tem ensaio as sete, churrasqueada e amanhã já tocamos de novo. Não é fácil a vida de gaiteiro.

Porto Alegre, nova de setembro.

quinta-feira, setembro 16, 2004

Desde guri

Na sexta-feira estarei dando uma palestra em uma escola sobre tradicionalismo e a semana farroupilha. Fico mui honrado de poder levar a esta gurizada um pouco da nossa história e da nossa tradição. Quando do convite me lembrei de quando era criança. A faceirice que sentia por botar a pilcha gaúcha. Do nó que meu avô dava no lenço vermelho, que era dele, e para mim emprestava com muito orgulho. Da bombacha e da guaica. Me lembro também do pezinho dançado com as gurias, da correria atrás das prendinhas para mais uma dança. Me lembro garboso de como meu avô me chamava: aí vai meu gauchão!
Simples são essas lembranças mas que marcaram minha vida de forma indelével. E isso que se faz no colégio nessa época é uma das atitudes mais louváveis. Pois, dá a essas crianças uma identidade, uma pátria, uma raiz. Mais do que uma simples festa como as outras, a semana farroupilha nos colégios rio-grandeses é um marco na vida de muitas crianças. Só tem uma coisa que me tapa de nojo. É quando nossas escolas suprimem datas como esta e função de hallowins da vida.
Mas para aqueles que ainda insistem em preservar o que temos de nosso, nossas raízes culturais, vai meu mais sincero cumprimento e agradecimento. Já que, sem as crianças a tradição não tem futuro. Mil gracias meus patrícios, mil gracias meus ermãos!
Porto Alegre, nova de setembro.

quarta-feira, setembro 15, 2004

Mas que troço bem gaúcho

Bueno patrícios, é só ficar alguns dias sem postar que os assuntos acumulam. O melhor é empeçar: no sábado - dia de ajuntamento no galpão do Capando - fizemo um churrasco véio bem campeiro estavam presentes: don Gustavo (Marcador), Maneador, Castrador e o Irineu. Uma reunião pra lá de especial, com charla amiga e muita carne gorda. Depois se larguemo para o Harmonia pra ver o show do Borges. Cosa linda de se vê.
No domingo voltei para o Harmonia pra guitarrear com os irmãos Abadie: Juliano e Gustavo, lá no Piquete Negrinho do Pastoreio, foi um negócio da mas pura cepa crioula. No mais dê-lhe fandango e dê-lhe baile.
Ontem e hoje estive a mercê do tempo, quer dizer, nublado. Não sei porque cargas d'água estive bastante encimesmado. Mas são coisas da vida, nem sempre se esta a preceito e de vez enquando uma rusguinha consigo mesmo é loco de especial.
Não poderia deixar de registrar meu abraço aos patrícios Gustavo e Juliano Abadie pela parceriada que nós fizemos no domingo.

Porto Alegre, nova de setembro.

sábado, setembro 11, 2004

Tic-tac

"Ao toque do meio dia, todas as pessoas desta cidade deverão encontrar-se na câmara dos vereadores para tratar assunto de suma importância. " Era o que dizia o anúncio da rádio e, também, aqueles que foram espalhados por toda a pequena cidade. Sem mais especificações nem diretrizes. O que causou grande alvoroço e inquietação nos munícipes. Enquanto as fofoqueiras de plantão tentavam encontrar qual a razão da convocação, o prefeito, doutor Siqueira, tentava colocar no papel a pauta da reunião. A qual, nem ele sabia bem como abordar: "como falarei... serei capaz de ..." sabia ele que quando as dúvidas são tamanhas a alma fica como que num abismo indissolúvel, escuro e frio impenetrável pela razão, devido as sombra de que a emoção as cobria. O pior era que o relógio insistia em um tic-tac muito mais veloz do que o habitual. Como queria não ter que passar por tudo aquilo, nunca deveria ter saído da estância do pai, Coronel Siqueira, onde o gado e as ovelhas não pediam explicações de suas atitudes por mais insanas que fossem, ou parecessem ser. Mas o tempo real em nada parece-se com o virtual, queria que tudo fosse como os filmes que o filho volte e meia trazia da capital - as partes que não gostava, pulava e as de seu apresso via e revia à reviria.
Menos de uma hora para a tão esperada reunião, menos de uma hora para a desgraça total de sua carreira política. Carreira que nunca almejara, lembrava muito bem do dia que disse para o coronel Siqueira, seu pai, que preferia a música as reuniões cheias de bajulações e discussões infindáveis. Apanhara tanto que desse dia em diante nunca mais tocara na guitarra. Quantas e quantas vezes quis tê-la novamente junto do peito fazendo tinir as seis cordas bordoniando solito alguma copla mui mansa, estas simples e singelas lembranças trouxeram-lhe algum alento mas nada tirava o tic-tac do relógio da mente.
Como ficariam sua mulher e seus filhos ao saberem que seu pai?imaginava Isabel a chorar e o pequeno Ramon a tentar consolar a mãe e Esteves, com certeza esbravejaria quebraria alguma coisa da casa. Os que mais amamos são as vezes os que mais nos magoam e ferem, como Caim a seu irmão... pensar na vida e nas conseqüências de nossos atos, sempre trazem alguma maldita chaga que tempo algum apaga. Feridas são sempre feridas e embora, saradas deixam cicatrizes como sinal de que nunca nos esqueceremos de que os atos nossos ou de outros não são ações jogadas ao vazio, pelo contrário, têm destino certo: o coração daqueles que insistem que a vida é mais pensada do que vivida.
Ninguém poderia imaginar o que passava-se na mente do prefeito a não ser ele próprio. Nem o padre, nem o juiz de direito poderiam ajudá-lo. Era ele e o destino feroz que lhe batia na porta.
Quem acredita em justiça!? Gritava para as quatro paredes do gabinete. E pensar que quando saíra da estância bombeava um futuro melhor. Agora com ganas de touro alçado tinha que engolir o guisado que lhe preparava o destino. E das coplas e das esperança nada ficou. Somente a honra, sua e de seus ancestrais poderia ser preservada num último ato de valentia.
Na escrivaninha de mogno primeira gaveta à direita pegou a bereta que fora do seu avô. um estampido seco, o golpe no chão e mais um bravo que foge da vida por não ter forças para lutar.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Como figueira

Uma das imagens que mais me chama atenção na campanha é a da figueira, plantada no meio da imensidão do campo pela mão do Criador. De como ela se ergue imponente e solitária entre o capim e os trevais. Me impressiona não só porque sua presença solitária casa tão bem com a paisagem, ou porque sirva de ponto de referência, ou abrigo para gaudérios e gado. Mas porque, suscita em mim um pensamento: como a figueira solita no campo - imponente, perene, forte e solitária - me faz lembrar ideais. É como se a figueira fosse uma espécie de arquétipo das esperanças idealizadas que tenho. Só, durante a maioria do tempo e balançada pelo minuano, pelas tormentas. Contudo, firme e singular. Analogia possível para aqueles que lutam por alguma nobre causa. Pois, na maioria das vezes, sentem-se sozinhos peleando contra tudo e todos. Enquanto a maioria cresce rasteira alguns insistem em ir mais alto. O porquê!? As explicações são diversas e não importam agora. O que importa realmente é que poucas são as figueiras plantadas nesta planície grande, que alguns chamam de Terra. Poucos são aqueles que insistem em ver além do que os outros vêem, ou sentem. E quando a figueira é arrancada por alguma ventania, ou queimada por algum raio sempre rebrota. E esse renascer é também chamado de esperança. Como bem disse Aparício da Silva Rillo: "Quem nasce lutando busca a morte por liberdade!" Talvez nossa figueira morra junto conosco, mas como as figueiras "reais" ainda servirão de referência ou vais me dizer que nunca ouviste: "E lá no passo do lageado perto donde ficava a figueira grande."

Porto Alegre, minguante de setembro.

quinta-feira, setembro 09, 2004

Retorno

Depois do bueno feriadão que tive as energias estão renovadas. Foi loco de macanudo a geuderiada por vários motivos: primeiro porque pude estar junto da minha Florecita, segundo por causa dos amigos e do truco jogado com estes, terceiro porque pode visitar lugares lindaços onde, pode se ver que o Patrão de nossotros todos é mesmo mui buenaço. Enchi meus olhos de campo, e solamente isso para mim já é grande coisa. Estar onde a civilização ainda não botou a mão é uma cosa mui linda, onde só hay o verde plano da pampa. Quando boto o pé na rodoviária de Porto Alegre, sinto que meu mundo é outro. Não trocaria jamais o berro de um touro, um tinir de arreios ou um murmúrio de uma sanga por estas buzinas e sirenes que ouço aqui. Mas, como diria o poeta: "a vida é a arte do encontro, embora tantos desencontros há nesta vida." e assim vou cumprindo minha sina, por enquanto meu lugar é aqui, ainda bem que é por enquanto.
Bueno, patrícios se aportarem por Rio Grande não deixem de visitar a Ilha dos Marinheiros além de uma linda paisagem vão encontrar gente mui amiga.

Porto Alegre, minguante de setembro.

segunda-feira, setembro 06, 2004

De férias

Aqueles que visitam o Capando todos os dias devem ter sentido falta dos meus post quase que diários. Indiada, saí de férias no feriadão. Pois é estou em Rio Grande. Ontem estive na regional do ENART, algo que será motivo de um post futuro, e pude ver toda a glória e prtofissionalismo com que os CTGs tem encarado estes festivais.
Amanhã é dia de churrasqueada e charla buena junto com os patrícios daqui.

Rio Grande, cheia de setembrto.

sexta-feira, setembro 03, 2004

Guitarra

Depois de um dia corrido, a noite foi mui buena. Pode fazer algo que não praticava a tempos: tocar minhas partituras do tempo de estudante de violão.
Desde quando aprendi com meu avô os primeiros acordes nunca mais larguei o violão. Já cruzou muita água por debaixo da ponte e continuo apaixonado pela guitarra. Lamento muito por estar um pouco enferrujado e lembro com galhardia os meus tempos áureos de violeiro. É pena que agora a tenho apenas como regalo nos momentos de solitude. Contudo, consigo me emocionar e encher de garbo quando aquela peça mui querida sai a contento.
Por fim, como regalo para ustedes deixo estas estrofes do poema Guitarra, do ilustre Dom Jaime:

Velha guitarra pampeana
Que meus penares acordas,
Neste alambrado de cordas,
Espichado na coxilha
Boto na forma a tropilha
De antigas evocações,
Desde as velhas reduções
Aos combates farroupilhas

E bem junto do meu peito
Eu sinto quando ponteio
Que vou parando rodeio
No invernadão da saudade
Quando guascas de outra idade
Nos entreveros de guerra
Fizeram da nossa terra
O templo da liberdade!

[...]

Ó velho traste andarengo
Que ninguém sabe a querência
Porque és a mesma na essência
Inglesa, Russa, Espanhola
Guitarra, violão ou viola
Tenhas o nome que for,
Para este guasca cantor
A ti não faltam virtudes
E mesmo em linguagem rude
Balbuciada, enrouquecida,
Velha guitarra querida
Permite que eu te saúde!!!

Porto Alegre, cheia de setembro.



quinta-feira, setembro 02, 2004

Aos mestres

Não são poucas as vezes que tenho ficado impressionado com a capacidade dos compositores gaúchos. De vez em quando penso que o tema gauchismo está mermando, vem uma nova composição, um novo festival e digo pra mim: "Como eu nunca pensei nisto antes!?". Falar de cavalos, de prendas e gauchadas com poesia e originalidade não é para qualquer um, ainda mais, quando o tema é explorado por tantos. E há tanta coisa já escrita, e de grande qualidade, que parece que a nascente de tudo isso pode secar de uma hora para outra. Contudo, ao mesmo tempo que estes temas tão "estáticos" parecem poucos; se assemelham muito a um olho d?água que nunca seca. Encho o peito de garbo para falar que nossa música e nossa poesia nunca findarão, pois reinventam ela a cada dia, reiterpretam ela em cada milonga, transformando em palavras o que existe de mais sublime e genuíno em nossa cultura.
Para aqueles que buscam a cada dia um novo acorde, uma nova rima fica meus mais sinceros agradecimentos, já que é por elas que passa a alma e a essência do povo gaúcho.

Porto Alegre, cheia de setembro.

quarta-feira, setembro 01, 2004

A lua que me lembro

Durante algum tempo a lua foi um tema constante em meus escritos. Pensando novamente sobre o tema descubro que a lua que bombeio hoje não é mais a mesma de outrora. Por quê? Não é porque ela perdeu sua poesia, simplesmente, não é mais a mesma que via antes. Não que ela tenha cambiado de forma ou de lugar, é que agora na cidade parece pra mim menos encantadora. Antes ela descobria silhuetas campexanas e agora as únicas que vejo são as dos prédios de apartamentos, que não trazem poesia alguma ao luar.
Mas ao mesmo tempo me lembro das noites enluaradas na campanha, quando as coxilhas, o umbu, a gadaria eram os vultos que ela destapava. Ali é onde os luares são mais verdadeiros. Só quem cruzou coxilhas em noite de lua cheia sabe do que falo. Só quem viu seu reflexo no lagoão entende o que digo. E é desta lua que sinto saudade. Saudade das pescarias sob sua luz difusa, saudade da barriga branca dos jundiás, reveladas por ela, ferrados na sanga rasa. Quantas e quantas vez me deixei ficar na beira do fogo, só mirando aquela que ao longe parceriada pelas estrelas compunha milongas sem precisar cantar. Quanto mais a saudade se aquerencia em meu peito, mais distante ela fica de minha morada.
Um dia quem sabe de volta ao campo, que é meu lugar, não sinta mais saudade da lua que sempre teimei em mirar.

Porto Alegre, cheia de setembro.