quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Patrícios, minha vontade era de dar uma de Maneador - saudar a todos, e mandar aquele quebra-costela - também pudera, com as novidades escassiando e o ritmo dos posts mais ainda, sinto que não desenvolvo como antigamente os temas que proponho. Quando disse que não tenho novidades me esqueço de duas coisas: a primeira é que já estou de casa nova, e que indiada uma manhã inteira carregando a mudança, a outra é que a comunidade do Capando no Ingurte já conta com 35 viventes e a cada dia mais patrícios se juntam a essa tão profícua comunidade... Bueno, quando não tem o que se dizer acabasse por dizer nada, ou melhor, acolherar uma monte de letras e não fazer nem cisco. Acho que a seca que assola o estado tem me assolado as idéias, pode ser. Entonces, fico por aqui.

Porto Alegre, crescente de fevereiro.

domingo, fevereiro 13, 2005

Martin Fierro

Aquí me pongo a cantar
Al compás de la vigüela,
Que el hombre que lo desvela
Una pena estraordinaria
Como la ave solitaria
Con el cantar se consuela.
Pido a los Santos del Cielo
Que ayuden mi pensamiento;
Les pido en este momento
Que voy a cantar mi historia
Me refresquen la memoria
Y aclaren mi entendimiento.

Vengan Santos milagrosos,
Vengan todos en mi ayuda,
Que la lengua se me añuda
Y se me turba la vista;
Pido a Dios que me asista
En una ocasión tan ruda.


Este épico latino americano está disponível no site: wwww.literatura.org. Cuzem lá e regalem-se com este belo livro.

Porto Alegre, nova de fevereiro.

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Mudança

Enfim, hoje, consegui encontrar um novo rancho para morar. Não tão novo porque é no mesmo prédio, na mesma rua... só não é no mesmo andar. Troteei uma barbaridade para vir cair no mesmo lugar. Pareço até uma rês atolada que chafurda no banhadal e nada de sair do lugar. Os problemas serão menores com a mudança, contrato... e nem vou precisar me acostumar com nova vizinhança - aliás este que tenho nem conheço muito bem - sendo assim, nada mudou, embora tenha mudado de rancho. E é isso que mais preocupa. Sabe quando antes de um temporal o vento para e parece que a tormenta não vem, é esse o problema, estou esperando a dias a tormenta e ela não vem. Porque se já tivesse vindo, agora, estaria em bonança. Mas como ela não veio ainda, fico bombeando pras bandas dos castilhanos pra ver se o tempito se enfeia. Además, continuo tocando essa vidinha que é minha e é só pro meu consumo, como já disse o poeta.

Porto Alegre, nova de fevereiro.

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Aos Amigos

Paisagens Perdidas

Jayme Caetano Braun

A tarde recolhe o manto,
carqueja e caraguatá;
na corticeira um sabiá
floreia o último canto!
Alargando o gargarejo,
da sanga que se desmancha,
há um eco pedindo cancha
no primitivo falquejo!

A lua nasce num beijo,
prateando o lombo do cerro
e um grilo acorda um cincerro,
do meu retiro de andejo!

Paisagens de campo e alma
perdidas no vem e vai,
soluços do Uruguai
que bebe lua e se acalma:
a noite passa à mão salva,
com ela vem a saudade,
olfateando a claridade
das brasas da Estrela D?Alva!

Nascem rugas no semblante,
paisagens da natureza
que a força da correnteza
não pode levar por diante;
então exige que eu cante
quando me encontro desperto,
mas sempre que chego perto
meu sonho está mais distante!

Paisagens de sombra e luz,
como é que pude perdê-las?
Ficaram as 5 estrelas
fazendo o ? sinal da cruz ? !

Esta eu dedico aos amigos Renato, Leda, Camila e Jorge pela excelente acolhida no finl de semana. Quebra-costela patrícios, mil gracias.


Porto Alegre, nova de fevereiro.


quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Ser Potro

Ficou somente um esteio em meio a cinzas e fumaça. O incêndio destruiu todo o rancho e o pobre Juca, parado mirando o triste quadro, sentiu-se muito mais invalido, cocho e velho. Por não poder fazer nada enquanto o fogo crepitava, matando toda as lembranças que o rancho guardava. Quem podia pensar que coronel Belarmino tomaria tal atitude para com ele, posteiro há décadas, pensava num repente. Contudo, o mesmo coronel que muitas vezes pedira-lhe favores, que fora padrinho dos guris, que fizera a desgraça da Marianita... era o mesmo homem que mandara incendiar o rancho desde qüera, que num jeito de velho umbu, trancara o pé no momento em que foi mandado embora. Maldito Belarmino! Maldita justiça, que não cobra do rico e faz com que o pobre viva solito peleiando pra sobreviver. O fumo que levantava do que fora rancho, misturava-se com o vapor que levantava da grama naquela manhã que nascia. E o velho Juca cansado da vida, da sua desgraça sonhava pensando um futuro melhor. Onde ele seria um potro solto num campo sem aramado, sem marca, nem dono, correndo faceiro por plainos e cainhadas livre de verdade. Pensava que somente se nascesse potro poderia viver tal liberdade, pois aos homens foi legado um jugo de obediência servil ao patrão chamado Ganância. Sendo potro não haveria esta herança, esta desgraça. Lembrava-se direitito quando na madrugada seis soros chegaram de madrugada, num galope louco, atearam fogo nos quatro cantos do rancho e se bandearam pros lados do povo tão depressa quanto chegaram. Depois disso só lhe vinha a memória o momento em que o telhado desabou e ele, sem saber como, estava de pé bombeando tudo do lado de fora. Será favor de nosso Senhor!? Ou o destino que lhe dera cancha!? Quem sabe? E a fumaça e o vapor continuam subindo para um céu azul que negaceou para Seu Juca melhor sorte nesta vida e ele que só queria ser potro continua a ter dono, marca e buçal.


Porto Alegre, cheia de fevereiro.