O compasso marcado da chuva miúda no telhado de zinco, dava àquela manhã de junho um jeito dormido de inverno. No fogão à lenha as chamas já fracas, agora em brasa vermelha. Da cuia de mate saiam vapores que lembravam as nuvens do céu. A mão que a segurava era a mesma que trazia o palheiro apagado e na outra um graveto para revirar o braseiro. Chinelas nos pés, um ponchito roto que mal-e-mal o protegia do frio que entrava pelas frestas do rancho. Não prestava atenção ou berro do gado solto no pasto, nem ao cacarejar das galinhas no pátio de chão batido, ficava, assim, solito consigo a trançar lembranças e desatinos. Ronca o amargo, relincha o potrilho azulego e a cambona recostada no fogão chia, mais uma cuia e mais um tento de lembranças: nesses dias de não trabalhar quando era obrigado a montar guarda no rancho é que se sentia pequeno demais para tanta imensidão de campo, da vida, de lembranças... Acendido o palheiro é mais uma nuvem que sai, levando torrentes de pensamentos. Havia muitos motivos para desesperar, contudo preferia ficar ali sem tentar buscar resposta para tanta desventura. E se ele fosse uma nuvem também. Estaria agora n'algum canto do pago molhando o varzedo trazendo de volta aquilo que dele mesmo saiu, água. Queria ser nuvem e voar,voar para onde nem homem, tampouco bicho ele iria encontrar. E quem sabe, neste lugar, encontrar a paz que tanto sonhara.
Porto Alegre, nova de setembro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário