Falam muito em privilegiados nesses dias de gaúchos de bombacha estreita, e o que antes era um termo honrado, que nada denotava sobre o caráter do vivente dito priveligiado, a não ser a sua sorte, acaba se tornando pejorativo. Quem têm privilégio, boa gente não é, afinal, se eu não tenho privilégios, ele não pode ter também. E no fim das contas, o que é um privilégio? É aquilo que o próximo tem que eu não tenho.
Bueno, nem por isso me sinto menos faceiro por considerar a mim, e aos hermanos do Capando, um bando de privilegiados, vejam bem, quantas pessoas que moram na zona metropolitana de Porto Alegre podem dispor de um Galpão de chão batido, um fogo de Chão para esquentar a água do chimarrão e assar o churrasco na melhor moda campeira? E ainda uma roda de amigos para tratar de assuntos nativos, cantar musicas campeiras e declamar payadas até altas horas da noite? Enquanto a magrinhagem se mete nos buracos escuros da cidade para encher as guampas com os tais dos tóchicos ao embalo de músicas frias dos sintetizadores eletrônicos, me reuno com os amigos do Capando para cevar a amizade firmada em valores mais antigos que os torrões deste chão.
Me contento com pouco, um naco de carne bem gorda, uma mate amargo, as estrelas do céu sobre a cabeça e vozes rústicas que entoam cânticos, poesias e confidências.
É muito pouco para se invejar? -- penso cá solito, serei mesmo um privilegiado ou apenas um loco que valoriza demais o pouco que tem?
E quando penso na simplicidade das minhas exigências, vejo que na verdade não sou nada comedido, pois peço para as minhas noites de sábado o maior dos tesouros que percorre esse rincão debaixo do céu. Porque essas coisas, por serem por demais simples para a alma irrequieta do homem moderno, são por isso mesmo, as mais raras e difíceis de se achar além de ser as mais necessárias.
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