sábado, maio 15, 2004

Payada

Buenas, abrimo este saite, pra mó de manda uns chasque pra esta gente macanuda deste pago. Somos trêis queras, dois missioneiros e um da campanha, aquerenciados na capital de todos os gaúchos, Porto Alegre.
Cultura gaúcha, payadas, musica e o dia a dia desses home no mundo globalizado e moderno. Porque como disse o velho Pedro Ortaça, "a argila do mundo novo, não tem a mescla da minha, sovada a casco de touro e água de carquejinha"
Assim se apresenta a essa "Esfera Global" a estampa de Maneador, Castrador e o Curador, trêis índios que na lida da castração exercem sua função com destreza e apuro. Ante tais estampas o touro mais peleagudo se mixa igual um correntino.

Agora para terminar, uma Payada do mestre, que temo que tocá ligeiro, que o fogo do churrasco já está aceso.

Remorsos de Castrador
Don Jayme Caetano Braum

Um pealo - um tombo - grunhidos
de impotente rebeldia,
o sangue da cirurgia
No laço e no maneador.
Nada pra tapear a dor
do potro que -- sem saber,
perdeu a razão de ser
na faca do castrador.

Há um bárbara eficiência
nessa rude medicina,
a faca é limpa na crina
que alvoroçada revoa,
pouco interessa que doa,
a dor faz parte da vida.
Há de sarar em seguida,
desde guri tem mão boa.

Aprendeu -- nem sabe como,
a estancar uma sangria.
Sem noções de anatomia
é um cirurgião instintivo
que -- por vezes -- pensativo,
afundou na realidade
da crua barbaridade
desse ritual primitivo.

Já faz tempo -- muito tempo,
que um dia -- na falta doutro,
castrou seu primeiro potro,
um zaino negro tapado.
Que pena vê-lo castrado,
o entreperna coloreando
e os olhos recriminando,
num protesto amargurado.

Depois do zaino -- um tordilho,
depois -- baios e gateados,
um por um sacrificados
pela faca carneadeira
e o rude altar da mangueira
a pedir mais sacrifícios
dos bravos fletes patrícios,
titãs de campo e fronteira.

Por muitos e muitos anos
andou nos galpões do pampa,
castrando pingos de estampa
com renomada experiência,
cavalos reis de querência,
parelheiros afamados,
pela faca condenados
a morrer sem descendência.

Às vezes, durante a noite,
um pesadelo o volteia
e o remorso paleteia.
Castrador!... que judiaria!
E quando sem serventia
por aí deixar semente
no mundo onde há tanta gente
pedindo essa cirurgia.

E ali está -- defronte ao rancho,
pastando o mouro do arreio,
pingo de campo e rodeio
que castrou -- quando potrilho.
O mouro -- mesmo que filho
do xirú velho campeiro,
o último companheiro
do seu viver andarilho.

Na primavera -- outro dia,
um potranca lazona,
linda como temporona,
vestida em pelagem de ouro,
veio se esfregar no mouro,
mordiscando pelo e crina,
mais amorosa que china
num princípio de namoro!

E o mouro? -- pobre do mouro!
Não pode ter namorada.
Veio, direto à ramada,
numa agonia sem fim,
olhando pro dono, assim,
num bárbaro desespero,
como dizendo: parceiro,
vê o que fizeste de mim!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Bueno, indiada, que a sorte lhes seja buenacha. Pois como diz em uma de suas pajadas esse poeta aí, o Jayme, "quando a sorte é mesquinha não hái feitiço que ajude". Um abraço, Ilton