quarta-feira, dezembro 14, 2005

Enquanto caminhava pelo trilho que ia dar na estância, pensava na vida: seria a existência uma sucessão de fatos sem propósito, nem finalidade!? Não era sempre que ele peão sem estudos parava e refletia sobre as razões que o botaram neste mundão de meu Deus. No entanto, alguns fatos o levavam para mui longe em um lugar onde via-se e reparava que não era aquilo que julgava ser. Lembrava bem do dia em que a fome maleva levara seu filho menor e com entono e raiva erguera as mãos para o céu gritando: Deus por que ele e não eu? Mas, muito antes disso já havia visto a morte de pertinho. Foi quando seu velho tata fora deixado na porta de casa, com um buraco de bala no peito, sangrando feito um porco. Nos olhos lívidos de seu pai pode contemplar a morte bem de perto, olho no olho, cara a cara. Desde esse dia tornou-se sombrio, com sede de vingança. Agora já velho e despilchado via lá atrás somente um vulto escuro, difuso daquilo que realmente fora. Dura é a sorte daqueles que peleiam solitos. E mais rija ainda é a daqueles que brigam consigo, contra seus medos e inseguranças. Tinha que continuar firme como cerne de pau-ferro, pois tinha a Maria e os guris que de tão pequenos e locos de fome não iam entender as fraquezas do pai. E o trilho cada vez mais estreito da mesma forma as respostas se estreitavam, uma espécie de corredor, mangueira, o levando a pensar na maldita vida. Nunca chegara ao fim dos seus pensamentos, embora chegasse no costado ? via apenas bem distante de si, como que envolta por uma neblina, a morte. Mas não conseguia acreditar que seria ela o fim. De uma idéia fizeram-se muitas e tantas que já pareciam a folharama que as tormentas levantam nos dias de chuva. Só que ao invés de folhas leves pareciam bruacas carregadas de pedras e postas todas nas suas costas. Num repente parou, olhando na volta viu que o seu derredor mudara ? as cores se foram, as plantas murcharam e o sol escureceu ? e por um instante ficou sem saber quem sofria mais ele ou Aquilo que a sua volta condoía-se com sua desgraça. Neste momento pode sentir consolo e, talvez, Aquilo, que tanto sofrera com ele, pudesse se chamar Esperança.

Nenhum comentário: