quarta-feira, agosto 23, 2006

Eu até deixei as rinhas
Talvez por penalizado,
Ou talvez por espicaçado,
Que o remorso não perdoa,
Por que se a vida é tão boa.
É um banditismo da gente
Fazer de um bicho valente
Matar ou morrer à toa!!


Na rinha os puaços corriam soltos: o galo mais delgado, dono de esporas mui grandes, contava com a cara toda lanhada, enquanto seu adversário, menorzito um pouco, trazia o bico quebrado. Ninguém ousava intervir e o dinheiro corria solto... todos sabiam que, a bem da verdade, quem ganhava era o dono do rinhadeiro, mas, como diziam a maioria, era por diversão que faziam os bicho pelearem, não pelos cobres.

Bombeando de longe o bárbaro espetáculo, Onório sentia uma dor ingrata no peito. Maleva o homem que faz daqueles que consegue serviçais do seu divertimento. Não era diferente na estância, nos galpões, nas cidades... alguém sempre estaria a mercê do divertimento alheio. Será isso destino ingrato dos que não têm com quem contar!? Muitos dos que ali se encontravam serviam tanto, ou mais, a patrões muito mais cruéis, que não os obrigavam a brigar, mas a mendigar o pão, a existência. Via o Ramão aos gritos de ala pucha e pensava que a sina ingrata lhe fizera matar a própria filha, pois esta engravidara do filho do coronel. Largados no lançante, assim, os pensamentos lhe faziam concluir que, talvez, a dura sorte dos galos finos não fosse das mais injustas... O homem é um galo cego e sem puas lutando contra outro bem gordo, armado e empuado...

Nessa hora jazia morto o menorzito, lanhado e ensangüentado, enquanto os vencedores compravam mais canha com os trocos do prêmio.

Porto Alegre, nova de agosto.

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