Um dia, no pampa largo,
clarins de guerra tronaram
chamando à revolução.
Pelas estâncias e vilas
caudilhos juntavam gente
pra o entrechoque iminente
jogando irmão contra irmão.
João da Gaita, o andarengo,
mesmo pouco percebendo
qual o sentido da luta
também foi na reculuta
como vaqueano da tropa.
Quando os caudilhos gritavam
pela coragem dos tebas,
nas cargas de espada e lança
os cascos da cavalhada
multiplicavam tambores
no couro tenso do chão.
Era a luta - transformando
cada local de combate
num campo-santo onde as cruzes
eram o "esse" das adagas
espetadas contra o céu.
Nos fogões de acampamento,
pelos alces dos combates,
a velha gaita se abria
num responso varonil.
E a indiada lembrando bailes,
surungos de trocar passo,
ia marcando o compasso
na coronha do fuzil.
E João da Gaita pensava
olhando as mãos nas hileiras
que aquelas manoplas largas
por tempos de paz e guerra
tinham distinta função.
Pelos combates e encontros
empunhando adaga e lança,
semeando a destruição,
e nos descansos da luta
puxando a gaita manheira
nas comunhões de alegria
das rodas de chimarrão.
La fresca, não entendia
por que sina Deus lhe dera
duas funções tão distintas
para o mesmo par de mãos.
Porque a lo largo entendia
que pelear estava errado
quando no campo da luta
justava irmão contra irmão.
- Ah, se pudesse algum dia
ver a querência irmanada
sem que faltasse nenhum
num grande baile comum
à sombra de uma ramada
E ele de gaita estirada
que nem cobra em ressolana,
compassando a meia-canha
das polcas de relação...
Lá um dia percebeu,
para o seu entendimento
de índio meio bagual,
que o que chamavam "ideal"
era apenas, bem pensando,
ambição pura de mando
dos chefões da capital.
... daqueles que concitando
a gauchada ao combate
ficavam tomando mate
peleando só por jornal...
Cuê pucha e não é que os versos são do Rillo... que dirão os ortodoxos!!!
Porto Aelgre, nova de setembro.
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