domingo, junho 05, 2005

RANCHO QUE A ÁGUA LEVOU

No rastro da boieira
Fiz estradas pro coração
Ergui despassito o rancho
De "santa fé" e ilusão
Fui juntando a gadaria
Lombilhado no gateado
De erva buena cevei mate
Pra tomar bem sossegado
De manhã o quero-quero
Clarinando a alvorada
À noite o chiar da cambona
Pra aquecer a madrugada
Vida buenacha de campo
De rotinas tão serenas
E o meu sorriso estampado
No lustre das minhas chilenas
Tempestade deu no campo
Quando eu menos esperava
Água sem pedir licença
Levou tudo que eu prezava
E eu que me tinha por taura
Me vi berrando feito guacho
Implorei, realidade nova,
Ali dobrou-se o meu penacho
Foi um grito dado ao vento
Retumbando na imensidão
Como que pedindo vaza
No rodeio da solidão
Tentei domar as lágrimas
Envidei mas perdi de mão
O choro desembretou-se
Por não ver mais solução
E o rastro daquela boieira
Há muito em mim se apagou
Hay quem fale de esperança
Mas a mim, ninguém falou
Eu sou mais um desgarrado
Campeando a tal felicidade
Por favor, alguém me diga
Se ela existe de verdade!

Porto Alegre, minguante de junho.

P.S. Se alguém souber onde se escondeu frio por favor me avisa.

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