domingo, dezembro 19, 2004

Despedida

Que tristeza lhe encheu os olhos naquela manhã em que bombeou o piazito pela última vez. Sabia que era a derradeira, não por planos ou previsão, mas porque o desgraçado destino o tinha traçado assim. O guri acenava com a mesma certeza no semblante e uma lágrima sestrosa veio molhar-lhe o nariz. O dia nem bem raiava, mas este, parecia tão escuro como noite de lua nova. Montando no mouro, as encilhas puídas e uma queixa mui amarga no peito. Porque tinha que partir? Porque!? O restante da gurizada dormia, se não dormia deixaram-se ficar nas camas para não vê-lo partir. Apenas o piazito tivera a coragem de dar-lhe adeus. Sempre que olhava para este o sabia mui valente e se orgulhava. Segurou firme nas rédeas, apertou o barbicacho e cutucou nas ancas do mouro, este saio num trotezito entonado. O taura já não olhava para traz, talvez porque não quisesse ver o filho chorar, talvez por não querer que lhe visse chorar. Assim partiu, rumo as barras do dia novo que lhe preparavam as mais amargas venturas.
Porto Algre, cheia de dezembro.

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