? Vancê pare um bocadinho; componha os seus arreios, que a cincha está muito pra virilha. E vá pitando um cigarro enquanto eu dou dois dedos de prosa àquele andante? que me parece que estou conhecendo? e conheço mesmo!... É o índio Reduzo, que foi posteiro dos Costas, na estância do Ibicui.
? Vancê desculpe a demora: mas quando se encontra um conhecido do outro tempo ? e então do tope deste! ? a gente até sente uma frescura na alma!? Coitado, está meio acalcanhado? mas, bonzão, ainda!
Pois aquele cuerudo que vancê está vendo, teve grito d?armas!... Vou contar-lhe uma alarifagem em que ele andou metido, e que só depois se soube, pelo miúdo, e isso mesmo porque a própria gente do caso é que contava.
O Reduzo foi nascido e criado em casa dos Costas, ainda no tempo do velho, o Costa lunanco, um que foi alferes dos dragões do Rio Pardo. Este Costa lunanco era um pente-fino, que naquele tempo arranjou tirar para ele e para os filhos ? miudagem, ainda ? como quatro sesmarias de campo, sobre o lbicui, pegadas umas nas outras, e com umas divisas largas... como goela de gringo!...
O chiru criou-se junto com os meninos, e desde ninhar e armar urupucas, até botar as vacas, irem aos araçás e pegar mulitas, tudo faziam juntos.
Quando eram já taluditos o velho começou a encostá-los no serviço, também sempre de companheiros; e assim foram aprendendo a campeirear, domando, capando... até saberem apartar boi gordo e tocar uma tropa.
Neste entrementes rebentou outra vez uma gangolina com os castelhanos.
Um dos moços, que era um quebra largado, nomeado por Costinha, esse, foi dos primeiros a se apresentar ao comandante das armas, pra servir. E tais cantigas cantou ao velho Costa, que este deixou o Reduzo ir com ele, de companheiro e ordenança, porque o rapaz era cadete, com estrela, e tinha direito.
O chiru ficou todo ganjento; imagine vancê que colhera, daqueles dois aruás!...
Neste passo porém deu-se uma cousa em que o Costinha nem tinha pensado.
É rabo-de-saia, já se vê...
O cadete tinha uma paixão braba por uma moça lindaça ? a sia Talapa ?, filha dum tal Severo, também fazendeiro dali pertinho, obra de cinco léguas.
O moço Costinha de vez em quando aparecia por lá, matava as saudades; fazia umas agachadas, e vinha-se embora trazendo nos olhos o encantamento dos olhos da namorada.
O velho Severo parece que não queria o casamento dos dois, nem por nada; teimava e berrava que ela havia de casar-se com o sobrinho dele, primo dela, um que tinha uma casa de negócio na Vila.
Esse tal era um ilhéu, mui comedor de verduras, e que para montar a cavalo havia de ser em petiço e isso mesmo o petiço havia de ser podre de manso... e até maceta... e nambi... e porongudo!...
A moça chorava que se secava, quando caçoavam-na com o primo e o casório.
Era mesmo uma pena, lhe digo... casar uma brasileira mimosa com um pé-de-chumbo, como aquele desgraçado daquele ilhéu? só porque ele tinha um boliche em ponto grande!...
O caso é que o Costinha gostava da moça e a moça gostava dele: tem, é que não atavam nem desatavam... e o velho Severo puxava a pêra, torcendo as ventas...
O ilhéu às vezes vinha à estância do tio, em carretinha...; veja vancê como ele era ordinário, que nem se avexava. de aparecer de carretinha, diante da moça!... E era só cama com lençóis de crivo, para o primo; fazia-se sopa de verdura para o meco; e até bacalhau aparecia, só pra ele!...
Que isto das nossas comidas, um churrasco escorrendo sangue e gordura e salmoura?uma tripa grossa assada nas brasas? uma cabeça de vaquilhona... uma paleta de ovelha; e mogango e canjica e coalhada. .. e uns beijus e umas manapanças. .. e um trago de cana e um chimarrão por cima? e para rebater tudo, umas tragadas dum baio, de naco bem cochado e forte... tudo isso, que é do bom. e do melhor, para o ilhéu não valia nem um sabugo!...
Tuuh! diabo!... Até me cuspo todo, quando me lembro daquele excomungado!...
? Vancê está se rindo e fazendo pouco?... E porque vancê não é daquele tempo? quando rompeu a independência lá na Corte do Rio de Janeiro? e depois tivemos que ir pra coxilha fazer a guerra dos Farrapos, com seu general Bento Gonçalves, que foi meu comandante, sim senhor, graças a Deus.. . e mais os outros torenas!...
Galego, naquele tempo, era gente, vancê creia! Estância, era dele; negócio, era dele; oficial, era só ele; era arrematante das sisas, ele; surgião, ele; padre-vigário, ele; e pra botar a milicada em cima dos continentistas? era ele!?
E cada presilha!...
Gente da terra não valia nada!...
? Que é que vancê está dizendo?... O que nós somos hoje a eles devemos? Qual! É verdade que uns in-ventaram plantação de trigo? isso enfim, era bom...; sempre era uma fartura; noutras casas plantavam e fiavam linho? também não era mau, isso; noutras cardavam lã... Algum mais vivaracho botava tenda e vendia mechiflarias ou prendas de ouro... Nalguns trocava-se uns quantos couros por um pão de açúcar, e pipote de cana por qualquer meia dúzia de vacas. E sempre corria alguma dobla, de salário, e algum cruzado pela peonada de ajuste.
Mas, como quera... eram mui entonados, os reinóis.
Onde é mesmo que eu estava? Ah!... O Costinha e sia Talapa tinham juramento entre eles, de se casarem, ainda que ela saísse de casa na garupa do namorado, se o carrança do velho Severo não consentisse. Com o ilhéu é que nunca!
Pois foi por estas alturas que os castelhanos bandearam a fronteira e o Costinha assanhou-se.
Foi uma despedida de arrebentar a alma! Ele deixou-lhe de lembrança uma memória e ela deu-lhe um negalho de cabelo. E combinaram que pra qualquer recado ou carta ou aviso, ela teria o nome de Melancia e ele de Coco verde. Só eles, ninguém mais saberia; que era para despistar algum xereta.
E como a despedida foi de noite, e ela veio acompanhá-lo até a porta. .. até a ramada, onde ele montou a cavalo? e como ventava forte, e a vela que um crioulo trazia apagou-se? parece que houve a roubada de uma boquinha... porque ele tocou a trotezito, calado, e ela, ficou como entecada, no mesmo lugar, calada... Quem não soubesse jurava que se despediam enfunados, quando a verdade é que se despediam chorando nos olhos mas tocando música no coração... por causa daquela bicota arreglada no escuro, mas que valeu como um clarão!... Ninguém viu? só o Reduzo.
Nessa madrugada o cadete marchou.
O velho Severo deixou passar um mês ou mais; quando teve notícia de que as forças andavam bem longe, e trançadas com o inimigo, e que ninguém de lá podia sair assim a dois tirões. . . sem falar nos balázios e nos lançaços ? que isso era a boche! ?, quando inteirou-se de tudo, mandou à Vila o capataz para vir acompanhando o sobrinho, a quem escreveu uma carta grande, fechada com mais obreias do que tragos de vinho tem um copo de missa, de padre gordo!...
Oral... daí a uns dias o ilhéu batia na estância, de carretinha e com um carregamento de cousas. E já começaram a aferventar o casamento.
Imagine vancê o cerco em que se viu a pobre da sia Talapa! Eram os pais dela; a parentalha; vizinhos velhos, cancheiros da estância... tudo a dizer, a gabar, a achar até bonito o ilhéu...
E já foram alinhavando papéis, e preparos de vestidos e doçarias, perus na engorda, leitões no chiqueiro, terneiras pros churrascos.
Uma negra que havia lhe dado de mamar era a única criatura que chorava com a moça? mas chorava escondido, a pobre, por medo do laço... De noite, fechadas no quarto as duas abraçavam-se, rezavam e só diziam, no consolo duma esperança:
? Mãe santíssima... valei-me!...
? Nossa Senhora!? manda nhô Costinha aparecer!..
Afinal chegou o dia marcado. Veio o vigário com o sancristão e gentama de toda parte; não digo bem: o velho Costa lunanco nem a família não foram convidados.
Mas assunte vancê como se passaram as cousas.
Pela Vila tinha justamente passado a meia rédea um chasque para as forças em que servia o cadete. O chasque era rapaz novo, alegre, mui relacionado por aqueles meios; enquanto mudava de cavalo tinha ido tomar um refresco no negócio do ilhéu, e aí, pela gente da casa soube a nova do casamento, do dia certo, dos preparos da jantarola, enfim, de tudo, tudo, pelo miúdo.
E mal que apertou os pelegos, montou, ? e se foi ? que o rei manda marchar, não manda chover.
Quando bateu no acampamento e entregou os ofícios que levava, procurou a rapaziada conhecida e portanto o Costinha, para dar a novidade do casório da sia Talapa com o primo.
Como touro de banhado laçado a meia espalda, assim ficou o moço. Amassou o sombreiro sobre a orelha, afivelou a espada e gritou:
? Me vou, e é já! Reduzo!
? Pronto!
? Encilha os nossos cavalos! Já! Vamos embora!... Deserto!... Hei de lonquear aquele galego ordinário!... Deserto... Deserto... acabou-se!
? Encilho? reperguntou o chiru.
? Sim, coos diabos! berrou o desesperado.
Neste momento o clarim deu toque de alarma? e como pra acoquinar o pobre um cabo veio a toda pressa chamar o Costinha, de ordem do comandante... Veja vancê que entaladela!
Pelos altos das coxilhas avistava-se uma partida do inimigo. O comandante então deu ao Costinha uma prova de confiança, pois encarregou-o de uma carga sobre um flanco dos atacantes...
E agora?!...
Filho de tigre é pintado!?
Diante do dever o moço engoliu a tristeza, e mesmo não quis se desmoralizar desertando justamente naquela hora de peleia.
Mas coriscou-lhe um pensamento... e logo montou, formou a gente, tomou a testa do piquete e disse ao Reduzo.
? Procura-me, que te preciso!...
Desembainhou a espada, deu um viva a Sua Majestade! ? e despencou-se, firme nos estribos, com o chapéu caído pra trás, sobre um ombro, preso pelo barbicacho. E a gauchada, reboleando as lanças, carregou, a gritos, fazendo tremer a terra e o ar.
O Reduzo, de pura pabulagem, atou a cola do pingo e logo riscou, escaramuçando, na culatra dos companheiros.
E foi mesmo no meio da carga, entre gritos, juras, palavrões, tiros, pontaços de espadas e coriscos de lanças, pechadas de cavalos, foi nesse berzabum do entrevero que o Costinha industriou o chiru:
? Tu, sai já; vai direito lá em casa, mas não chegues. A Talapa, depois d?amanhã, de noite, se casa, à força, com o ilhéu? Tu, mata cavalos, boleia e monta os que precisares? arrebenta-te, mas chega antes do casamento... Não digas a ninguém, nem lá em casa, que me viste, nem que sabes de mim... Mas vai ao velho Severo, mete-te lá, custe o que custar e acha jeito de dizer, que ela ouça, que o coco verde manda novas à melancia... Ela entende. Compreendes?... Eu sou o Coco Verde, ela é a Melancia... Só nós sabemos isso... e tu, agora. Vai. Tu vais adiante; logo mais eu sigo, se não morrer neste revira. Vai, Reduzo!... Coco verde... Melancia... Não esqueças... Abaixa-te!... abai!...
E enquanto o chiru se deitava no pescoço do cavalo e uma lança de três pontas escorregava-lhe por cima do espinhaço, o Costinha, com um tiro de pistola derrubava um gadelhudo lanceador? e continuava o sermão:
? Olha, não brigues? pra não perder tempo... Olha? é depois d?amanhã... Se dormires, se comeres no caminho, não chegas a tempo!... Sempre a meia rédea, Reduzo! Eu não posso desertar agora... Senão, eu ia... Vou logo? amanhã. Tu, agora!... já sabes: Coco verde manda novas a Melancia... Diz como quem não quer.. . Só ela entende? O que é preciso é que ela ouça...
? Acuda aquele, patrãozinho, que eu tempero estes!? Isso disse o chiru e esporeando o flete atirou-o contra dois desalmados que iam degolar um ferido? emborcou-os a patadas e logo gritou ao moço:
? Já sei tudo! Deus ajude! Lá le espero!...
E riscou campo fora, rumo da querência, ainda batendo na boca, num pouco caso dos castelhanos!
E bateu na marca!... Boleou e mudou cavalos alheios, pediu outros no caminho, tomou um, à força, largou os arreios porque rebentou-se-lhe o travessão e não tinha tempo para remendá-lo, mas com duas braças de sol, na tarde do casamento, veio dar no velho Severo, de em pêlo ? pelego, e freio ?, as boleadeiras na cintura, o facão atravessado no cinto, e sem mais nada; moído, entransilhado, estrompado, varado de fome, com sono, com frio, mas ainda de olho vivo e língua pronta, contando uma rodela mui deslavada.., que vinha de casa, andava campeando umas tambeiras... e uma vaca mocha, que não apareciam no gado manso, havia dois dias!...
O velho Severo pasmou...
? Uê! chiru!... Pois tu não tinhas ido com o seu Costinha?
? Eu?... Não sr., patrão! Fui só levar uns cavalos até o meio do caminho e dei volta. Diz que lá bala é como chuva? e lança, como roseta!... Não vê!... E dele mesmo, nem notícia nenhuma, té agora... Vancê dá licença de campear os alimais?
? Deixa isso pra amanhã. Hoje estamos de festa. Fica aí, pra tomares um copo de vinho e comer uns doces à saúde do noivado... Vai pra o galpão...
? Sim, senhor patrão: Deus lhe pague. Eu hei de fazer uma saúde, sim senhor...
? Pois sim, pois sim; vai!
O sorro entrou no galinheiro...
Quando apeou-se, o chiru estava de pernas duras; agüentou-se como um tigre, pra não dormir.
Daí a pouco pegaram a jantarola. O casamento ia ser de noite, depois da comida; depois, baile. Havia uns quantos cantadores, e violas; dava pra dançar a tirana, o anu e a mancada na casa-grande e no terreiro.
O Reduzo foi se fazendo de sancho rengo... e foi se encostando pra janela da sala de jantar..., e por ali foi comendo e bebendo, como soldado estradeiro, que não se aperta...
A noiva estava como um defunto: branca, esverdeada, de olhos fundos e chorando sem alívio; a negra, ama, atrás dela, muito retinta, só mexia o branco dos olhos, parecia uma alma penada, do purgatório...
O ilhéu é que estava solto!...
Parecia que tinha bicho-carpinteiro, o desgraçado!...
Só estava era meio vendido com o jeito da noiva, mas fingia não se dar por achado, o velhaco...
Um convidado levantou-se e fez uma saúde; depois outro, e outro e outro; cada um fazia o seu verso. Havia risadas, o noivo agradecia.. . a noiva chorava.
Os convidados aplaudiam; moças também botaram versos; os rapazes respondiam; foi se virando tudo numa alegria geral.
Nisto o capataz da estância chegou à porta e pediu licença pra oferecer um verso à saúde do noivado, e botou uma décima bem bonita. Outros, posteiros e agregados, também.
Nesse entrementes o velho Severo perguntou:
? Que é do Reduzo? Oh! Chiru?...
? Pronto, patrão, respondeu o caboclo.
? Então?? e a saúde prometida?
? Já vai, sim senhor!
E amontoando-se para a mesa, bem junto dos que estavam sentados, frente a frente dos noivos, olhando pra sia Talapa o chiru levantou o copo e disse:
Eu venho de lá bem longe,
Da banda do Pau Fincado:
Melancia, coco verde
Te manda muito recado!
E enquanto todos se riram e batiam palmas, enquanto o ilhéu se arreganhava numa gargalhada gostosa, e o velho Severo, mui jocoso, gritava ? gostei, chiru! outra vez! ? e enquanto se fazia uma paradita no barulho, a noiva se punha em pé como uma mola, e com uma mão grudada no braço da ama, já não chorava, tinha um cobreado no rosto e os olhos luziam como duas estrelas pretas!?
Lindaça ficou, como uma Nossa Senhora!
O Reduzo aproveitou o soflagrante e soltou outro verso:
Na polvadeira da estrada
O teu amor vem da guerra:...
Melancia desbotada!...
Coco verde está na terra!?
Amigo! Nem lhe sei contar o resto!...
A noiva atirou-se pra trás e pegou aos gritos.
A gente da mesa levantou-se toda; o mulherio correu, pra acudir...
O padre-vigário benzia pra os lados...
O ilhéu olhou para o Reduzo, viu-lhe o facão atravessado? e tomado dum mau espírito, gritou furioso e escarlate:
? Foi esse negro, com tanta arma, que estarreceu a menina!
Um que estava perto do chiru gritou-lhe na cara:
? Que desaforo é este?...
O Reduzo ? cuê-pucha! índio dente-seco! ? largou-lhe os cinco mandamentos, de em cheio!
Porém caíram-lhe em cima; foi uma desgraceira!
O ilhéu, do outro lado da mesa sampou-lhe com uma botija de bebida, que acertou bem entre o queixo e o ouvido do chiru...
Fechou o salseiro, nem se sabia bem com quem.
Nessa inferneira o Reduzo mergulhou por baixo da mesa e quando surdiu, foi para arriar o braço, dar uma volta na traíra e reiunar o ilhéu?
E antes que o picassem ? que o picavam! ? pulou por uma janela e se foi ao galpão onde montou no primeiro matungo que encontrou e abriu os panos!?
O resto é simples.
Passados dois dias chegava o Costinha, como bagual com couro na cola; e apresentou-se ao velho Severo, pedindo a mão da moça, O velho teve de desembuchar, contar o compromisso em que estava e que até havia se demorado o casamento por causa dum estropício mui bruto, que tinha havido,.. O Costinha não quis saber de nada? armou banzé...; veio a moça à fala...
Vancê imagina: rebentou o laço pra mais de quatro...
Pra não afrontar o velho Severo, o Reduzo teve de andar escondido. Tempos depois do Costinha já casado, então o chiru tomou conta dum posto; depois passou a capataz.
Era o confiança da casa.
Veja vancê que artes de namorados: Melancia? Coco-verde!?
Blogue grosso e taura uma barbaridade. Nele, além de cultura, literatura, música, payadas, vão nossos chasques e peçuelos. Reflexões feitas à beira dum fogo de chão escritas por quatro queras arinconados em Porto Alegre: Maneador, Castrador, Curador e Marcador.
domingo, outubro 30, 2005
quarta-feira, outubro 26, 2005
Revendo alguns posts descobri alguns temas recorrentes: nostalgia, uma espécie de desesperança, interferência da ambiente na conduta do indivíduo (isso de forma macro até a natureza corroboram nisto), entre outros. Escrevo isso patrícios não porque tencione criticar meus escritos, tampouco atribuir-lhes juízo de valor, já que acredito na independência dos escritos ante seu criador. Contudo, isso pode ser sintomático. Talvez minha visão de mundo não seja das mais otimistas e aqueles que me conhecem provavelmente concordem. Sem embargo, posso ser tachado de desesperançado, embora algumas réstias desse sentimento possam dizer pouco sobre mim. A verdade é que entre o realismo e o desespero existe uma linha mui tênue e é nesta corda bamba que ando. Por isso, talvez, é que pareça ser pessimista. No entanto, vez por outra sou tomado por sentimentos quase que infantis, dona Priscila que o diga. Aqueles que nos fazem rir de pequenas coisas, banais as vezes. E se não fora tais estios em meio as tormentas da vida, seria impossível a lida cá em baixo. Mas enquanto houver esperança a vida, esse potro maleva que pealamos todos os dias, tem sentido e razão de ser.
Porto Alegre, nova de outubro.
Porto Alegre, nova de outubro.
segunda-feira, outubro 24, 2005
Um regalo
Paisagens Perdidas
Jayme Caetano Braun
A tarde recolhe o manto,
carqueja e caraguatá;
na corticeira um sabiá
floreia o último canto!
Alargando o gargarejo,
da sanga que se desmancha,
há um eco pedindo cancha
no primitivo falquejo!
A lua nasce num beijo,
prateando o lombo do cerro
e um grilo acorda um cincerro,
do meu retiro de andejo!
Paisagens de campo e alma
perdidas no vem e vai,
soluços do Uruguai
que bebe lua e se acalma:
a noite passa à mão salva,
com ela vem a saudade,
olfateando a claridade
das brasas da Estrela D?Alva!
Nascem rugas no semblante,
paisagens da natureza
que a força da correnteza
não pode levar por diante;
então exige que eu cante
quando me encontro desperto,
mas sempre que chego perto
meu sonho está mais distante!
Paisagens de sombra e luz,
como é que pude perdê-las?
Ficaram as 5 estrelas
fazendo o "sinal da cruz"!
Porto Alegre, nova de outubro.
Jayme Caetano Braun
A tarde recolhe o manto,
carqueja e caraguatá;
na corticeira um sabiá
floreia o último canto!
Alargando o gargarejo,
da sanga que se desmancha,
há um eco pedindo cancha
no primitivo falquejo!
A lua nasce num beijo,
prateando o lombo do cerro
e um grilo acorda um cincerro,
do meu retiro de andejo!
Paisagens de campo e alma
perdidas no vem e vai,
soluços do Uruguai
que bebe lua e se acalma:
a noite passa à mão salva,
com ela vem a saudade,
olfateando a claridade
das brasas da Estrela D?Alva!
Nascem rugas no semblante,
paisagens da natureza
que a força da correnteza
não pode levar por diante;
então exige que eu cante
quando me encontro desperto,
mas sempre que chego perto
meu sonho está mais distante!
Paisagens de sombra e luz,
como é que pude perdê-las?
Ficaram as 5 estrelas
fazendo o "sinal da cruz"!
Porto Alegre, nova de outubro.
quarta-feira, outubro 19, 2005
Cuê pucha!!!
Patrícios, ando mais enrolado que rabo de porco! É por causa de um rablho de Crítica Literária e este desgraçado tem me tirado o sono, julgando a hora que eu posto os amigos devem imaginar que a peleia e braba. Bueno, assim que eu terminar essa empreitada me atraco a escrever de novo, No más, ando tocando cavalo.
Porto Alegre, nova de outubro.
Porto Alegre, nova de outubro.
sábado, outubro 15, 2005
Ginete
"Redomonio!", "Agora ele prancha!", "Cuê pucha! O índio paece grudado no lombilho!" Enquanto todos olhavam admirados para a mangueira Tito parecia divertir-se deveras com tudo aquilo. Desde gurizote fora ginete, ginetaço diga-se de passagem. Aquilo tudo para ele era como brincadeira, diversão. O zaino já suado, cortado de soiteira parecia desitir, naquela peleia onde um, invariavelmente, saía vencedor. Tito desmonta, acabara seu trabalho. A rédea à mão direita que se entendia para entregar a fera, agora mansa, para um dos peões. Um trago canha, alguns cumprimentos e um sentimento de dever terminado. Entre gritos e exclamações de espanto, ele se sentia distante em um lugar onde os pensamentos é que retouçavam. Nestes desvarios se via perdido de si, da sua ocupação se via mas fera do que aquela domada a pouco. Não há o que fazer quando uma idéia sotreta vem ocupar a cabeça. Quem o vise assim, perdido neste pensar bárbaro e xucro, não o reconheceria, por certo. Menos mal que já encontrava-se solito, recostado num moirão olhando para dentro de si apenas. E quando este laçasso lhe ardia nas paleta, ele o mais quebra dos tauras, sentia-se pequeno demais. Remoía lembranças de outras gineteadas onde não fora o ganhador, quando não recebera exaltação alguma por parte dos seus patrícios, somente risos e mofa. "Não sou tão buenaço como todos dizem." E uma dúvida ligeira como petiço de careira vinha incomodar, tirar-lhe o sossego. Ficava ali, duvidando da vida e das capacidades que julgava possuir. Os olhos perdidos num horizonte distante, longe de si e dos seus. Deixava ficar silente, por minutos que eram como anos e, somente, com um esforço muito maior do que empreendera minutos antes conseguia sair desse martírio, para uma garrafa de pura e um palheiro. Não sabia por quanto tempo ainda conseguiria montar. Muito menos se quando grudado no lombo de algum clinudo não seria ele a vítima. Vinham imagens de patas lhe esmagando a cabeça e aqueles que prezavam por sua vida a chorar. O que é do homem? O que é da vida? E uma lágrima teimosa salgando-lhe a fronte mostrando que um taura, na feição de um angico, pode um dia cair e não levantar.
terça-feira, outubro 04, 2005
Sobre tormenta e viveres
Não sei se os patrícios já tiveram idéias como tormenta, mas é exatamente o que tem me acontecido nos últimos tempos. Elas vêm num rompante de ventania, derrubam árvores, destelham casas e por vezes, não poucas, deixam desabrigados: nesse caso eu. Quando passa a ventania e chega a bonança só me restam escombros do que foi outrora uma idéia. Me sobra apenas, neste caso, juntar os cacos tentando identificar algo que já fora meu anteriormente. La pucha! E não pensem que é fácil, pois alguns se encontram a quilômetros de distância do lugar original e, o pior, irreconhecíveis. Pedaço cá, outro acolá num quebra-cabeça pouco prazeroso de resolver. Mas o que fazer? Afinal de contas são meus e se posso reaver algum, mesmo quebrado, vale a pena a procura. Metafórico, ou não, esse post diz bem o que estou sentindo nestes últimos tempos e se o rancho continua em pé é porque o esteio é firme.
Agradeço muito se os patrícios encontrarem por aí algum dos meus víveres, não peço que me restituam, apenas que façam bom uso, talvez melhor do que eu mesmo faria.
Porto Algre, nova de outubro.
Agradeço muito se os patrícios encontrarem por aí algum dos meus víveres, não peço que me restituam, apenas que façam bom uso, talvez melhor do que eu mesmo faria.
Porto Algre, nova de outubro.
domingo, outubro 02, 2005
Briga no Bolicho
Essa é loca de especial! Espero que gostem se quiserem ver o original está no livro "Rapa de Tacho" do Aparicio da Silva Rillo.
"Tavam uns quinze home tomando umas que outras - foi contando o gaúcho - uns mascando salame pra enganar o bucho, quando chegou o Faca Feia. O senhor sabe, o índio é mais metido que dedo em nariz de piá. Deu um planchaço de adaga no balcão e perguntou se havia home no bolicho. Todo mundo coçou as bola. Home tem bola, o senhor sabe. O Lautério - que não é flor de cheirar com pouca venta - disse que era com ele mesmo, deu de mão numa tranca e rachou a cabeça do Faca Feia. Um contraparente do Faca não gostou do brinquedo e sentou a argola do mango no Lautério. Pegou no olho - lá nele - e o Lautério saiu ganiçando como cusco que levou água fervendo pelo lombo. Um amigo do Lautério se botou no contraparente do Faca - que já tava batendo a perninha - e enfiou palmo e meio de ferro branco no sovaco do cujo, que lo chamam Pé de Sarna. Um irmão do Sarna, acho que chateado com aquilo, pegou um peso de cinco quilos da balança e achatou a cabeça do homem que faqueou o Sarna. Os óio saltaram, seu doutor. E eu só olhando, achando tudo aquilo um tempo perdido. Um primo do homem do ferro branco rebuscou um machado no galpão e golpeou o irmão do Sarna. Errou a cabeça, só conseguiu atorar o braço do vivente. Aí eu fui ficando nervoso, puxei meu berro pro mole da barriga, pronto para um quero. Meu bolicho é casa de respeito, seu delegado, e a brincadeira já tava ficando pesada. Mas Bueno, foi entonces que o Miguelão se alevantou do banco, palmeou uma carneadura, chegou por trás do homem do machado, pé que te pé, grudou ele pelas melena e degolou o vivente com um talho a coisa mais linda. O sangue jorrou longe como mijada de colhudo. Aí eu e mais uns outros - tudo home de respeito - se arrevoltemo com aquilo. Brinquedo tem hora, o senhor não acha?
- Acho sim, mas e aí? - insistiu o delegado.
- Pois, como lhe disse - prosseguiu o bolicheiro - nós se arrevoltemo. Saquemos os talher... E foi aí que começou a briga!"
Porto Alegre, nova de outubro.
"Tavam uns quinze home tomando umas que outras - foi contando o gaúcho - uns mascando salame pra enganar o bucho, quando chegou o Faca Feia. O senhor sabe, o índio é mais metido que dedo em nariz de piá. Deu um planchaço de adaga no balcão e perguntou se havia home no bolicho. Todo mundo coçou as bola. Home tem bola, o senhor sabe. O Lautério - que não é flor de cheirar com pouca venta - disse que era com ele mesmo, deu de mão numa tranca e rachou a cabeça do Faca Feia. Um contraparente do Faca não gostou do brinquedo e sentou a argola do mango no Lautério. Pegou no olho - lá nele - e o Lautério saiu ganiçando como cusco que levou água fervendo pelo lombo. Um amigo do Lautério se botou no contraparente do Faca - que já tava batendo a perninha - e enfiou palmo e meio de ferro branco no sovaco do cujo, que lo chamam Pé de Sarna. Um irmão do Sarna, acho que chateado com aquilo, pegou um peso de cinco quilos da balança e achatou a cabeça do homem que faqueou o Sarna. Os óio saltaram, seu doutor. E eu só olhando, achando tudo aquilo um tempo perdido. Um primo do homem do ferro branco rebuscou um machado no galpão e golpeou o irmão do Sarna. Errou a cabeça, só conseguiu atorar o braço do vivente. Aí eu fui ficando nervoso, puxei meu berro pro mole da barriga, pronto para um quero. Meu bolicho é casa de respeito, seu delegado, e a brincadeira já tava ficando pesada. Mas Bueno, foi entonces que o Miguelão se alevantou do banco, palmeou uma carneadura, chegou por trás do homem do machado, pé que te pé, grudou ele pelas melena e degolou o vivente com um talho a coisa mais linda. O sangue jorrou longe como mijada de colhudo. Aí eu e mais uns outros - tudo home de respeito - se arrevoltemo com aquilo. Brinquedo tem hora, o senhor não acha?
- Acho sim, mas e aí? - insistiu o delegado.
- Pois, como lhe disse - prosseguiu o bolicheiro - nós se arrevoltemo. Saquemos os talher... E foi aí que começou a briga!"
Porto Alegre, nova de outubro.
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