Blogue grosso e taura uma barbaridade. Nele, além de cultura, literatura, música, payadas, vão nossos chasques e peçuelos. Reflexões feitas à beira dum fogo de chão escritas por quatro queras arinconados em Porto Alegre: Maneador, Castrador, Curador e Marcador.
sábado, outubro 15, 2005
Ginete
"Redomonio!", "Agora ele prancha!", "Cuê pucha! O índio paece grudado no lombilho!" Enquanto todos olhavam admirados para a mangueira Tito parecia divertir-se deveras com tudo aquilo. Desde gurizote fora ginete, ginetaço diga-se de passagem. Aquilo tudo para ele era como brincadeira, diversão. O zaino já suado, cortado de soiteira parecia desitir, naquela peleia onde um, invariavelmente, saía vencedor. Tito desmonta, acabara seu trabalho. A rédea à mão direita que se entendia para entregar a fera, agora mansa, para um dos peões. Um trago canha, alguns cumprimentos e um sentimento de dever terminado. Entre gritos e exclamações de espanto, ele se sentia distante em um lugar onde os pensamentos é que retouçavam. Nestes desvarios se via perdido de si, da sua ocupação se via mas fera do que aquela domada a pouco. Não há o que fazer quando uma idéia sotreta vem ocupar a cabeça. Quem o vise assim, perdido neste pensar bárbaro e xucro, não o reconheceria, por certo. Menos mal que já encontrava-se solito, recostado num moirão olhando para dentro de si apenas. E quando este laçasso lhe ardia nas paleta, ele o mais quebra dos tauras, sentia-se pequeno demais. Remoía lembranças de outras gineteadas onde não fora o ganhador, quando não recebera exaltação alguma por parte dos seus patrícios, somente risos e mofa. "Não sou tão buenaço como todos dizem." E uma dúvida ligeira como petiço de careira vinha incomodar, tirar-lhe o sossego. Ficava ali, duvidando da vida e das capacidades que julgava possuir. Os olhos perdidos num horizonte distante, longe de si e dos seus. Deixava ficar silente, por minutos que eram como anos e, somente, com um esforço muito maior do que empreendera minutos antes conseguia sair desse martírio, para uma garrafa de pura e um palheiro. Não sabia por quanto tempo ainda conseguiria montar. Muito menos se quando grudado no lombo de algum clinudo não seria ele a vítima. Vinham imagens de patas lhe esmagando a cabeça e aqueles que prezavam por sua vida a chorar. O que é do homem? O que é da vida? E uma lágrima teimosa salgando-lhe a fronte mostrando que um taura, na feição de um angico, pode um dia cair e não levantar.
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