sábado, maio 06, 2006

O copo que trazia já pela metade a canha amarelida que bebericava aos pouquitos, atirado na cadeira de palha bombeava o bolicho: pobre, sujo, enfumaçado... Levantava-o à altura dos olhos e ficava a ver o tosco lugar através da canha... impressionava-se como tudo cambiava de cor e forma, não que estivesse borracho, somente faceiro depois daquele trago. Ficou a rir de si, não lembrava da desgraça que lhe assaltara dias antes, agora tudo se tornara amarelado e disforme sob as "lentes" que utilizava. Como seria bueno se o mundo, a vida, fosse assim simples - quando quiséssemos vê-la de outra forma teríamos que somente trocar de mirada, de óculos... e seriam vários, de muitas cores e formas, permitindo inúmeras combinações: lentes de bem-querer, lentes de paz, de desejo... que colocadas uma pós outra produziriam novas e inimagináveis sensações.
Recostado na cadeira o copo erguido à altura dos olhos... um cusco late e sucumbe seu devaneio. Sou só um borracho que insiste em querer ver o mundo através de um copo de canha... e baixando o copo até os lábios tomou num gole o que ainda restava da cachaça.

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