segunda-feira, maio 08, 2006

Uma verdade, somente...

Nunca devias ter saído donde saíste. Disse-lhe D. A vida lá fora, distante do pago é difícil e tu sabias bem, no entanto te enveredaste por esse caminho... e agora? Eu te pergunto: E agora!? No fundo T sabia que aquilo era verdade, mas a ilusão da cidade - suas luzes, suas mulheres, seus... - contudo, intuía também que não poderia voltar, tornara-se tão diferente que acabara por não ser de lugar nenhum. No campo estava feliz, mas sentia falta de algo e, no povo, não era de outra forma. Perdera a conta de quantas vezes entrouxou seus peçuelos... mas nunca tinha coragem suficiente para partir. Imaginava a vergonha que sentiria ao voltar derrotado, seria caçoado, mal visto... um perdedor. Pensava nos cobres que o pai gastara com a sua educação, do orgulho que o velho tinha ao contar aos amigos, no bolicho, que o filho seria doutor. E, agora, deparava-se com aquela verdade novamente, de ser um estranho onde quer que estivesse. O pior é que há tempos era um estranho para si, não reconhecia seus pensares e viveres tão diversos daqueles de outrora. Quando parava, refletindo quanto tudo começara a cambiar só encontrava cenas esparsas: livros, pessoas... Sentava-se por horas em sua sala de estudos a olhar uma das paredes brancas e nada, nada de entender o que se passava. Será esse meu destino, a dúvida... Se ao menos ainda tivesse alguma certeza, poderia agarrá-la com unhas e dentes e por ela viveria, talvez. Olhando fixamente para o amigo, ergueu os ombros e disse: quem sabe não devêssemos nunca ter saído mesmo de lá... mas, sua voz saiu tão fraca, quase um soluço, que o companheiro pensou que delirava...

Porto Alegre, nova de maio.

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