terça-feira, maio 16, 2006

Sob o telhado desse galpão


"Que culto estranho, que pampeano rito,
vivem em tais vultos que divergem tanto
é a liberdade que fundiu num grito
todas as vozes do Rio Grande santo"

Tem coisas que só o nativismo faz, unir os quatro qüeras que formam esse blog é uma delas. E já faz dois anos que estamos juntos, não dividindo quase nada além dessa paixão que bombeia o coração e circula por debaixo de cada palmo da pele que nos cobre. A paixão pelas coisas do Rio Grande, pelo povo que compõe essa nação dentro de uma nação, pela natureza rude e crua na qual o gaúcho brotou e cresceu imponente.
Paixão pelo assovio do minuano, que soa triste entre as árvores, pelo grito do quero quero, ecoando pelas coxilhas em busca de resposta, pelo barulho do capincho, sisudo, mergulhando na sanga, e a visão do pampa que se desenrola no horizonte despertando no gaúcho ao mesmo tempo a pequenez de sua própria existência, assim como a grandeza inegável de tem por fazer parte daquela paisagem.

O Rio Grande nos uniu, e nos mantêm unidos apesar de todas as outras cousas que nos mantêm diferentes, visões políticas, teológicas, metodológicas, étnicas e etárias, são logo postas de lado quando a cuia passa de mão em mão, quando a carne gorda assa na brasa e se assunta os últimos "causos" na beira do fogo.

Me lembro do primeiro templo dessa estranha religião, foi num galpão montado, imagine só, no coração da grande Porto Alegre. Um oásis bagual no meio da selva de pedra, onde nos reuníamos fugindo dos rostos frios e sem expressão, das regras sem significado nem calor humano que regem as relações dos gaúchos urbanos. Não apenas fugíamos, mas nas nossas idas ao galpão voltávamos para o lugar de onde saímos sem nunca o ter de fato deixado para trás. Voltávamos para a simplicidade nas relações, para o sorriso largo e generoso, para o cheiro de carne meio crua pingando no chão batido, para as conversas sem compromisso, para alegria de encontrar no outro, a mesma paixão que pulsa dentro do nosso peito.

O galpão, já não existe mais, mas até hoje permanece como um símbolo daquele outro, igualmente rústico, que carrego dentro desse meu coração velho.

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