quarta-feira, junho 28, 2006

Como eu posso andar tão entreverado com esses benditos estudos!?

Porto Alegre, nova de julho.

segunda-feira, junho 26, 2006

Velha Faca

Um palmo e pico de aço,
rude e glorioso pedaço
da espada de um general.
Cabo de prata estrangeira
- velha faca brigadeira
que nunca me deixou mal.

Nesse tempo eu era moço,
não tinha o sangue tão grosso
nem a memória tão fraca.
Índio gaudério sem marca
era maior que um monarca
quando empunhava essa faca.

Mas não era compra-briga,
desses que enchem a barriga
em bochinchos de galpão.
Mui amigo do sossego
não arriscava o pelego
em "rolos" sem precisão.

Mas quando lá volta e meia
me entreverava em peleia
por honra ou obrigação,
afrontava qualquer risco
e essa faca era um corisco
brigando na minha mão.

Sei que há quem ria disso:
- a faca tinha feitiço,
coisa botada, sei lá!
Se escapava da bainha
e ia brigar sozinha
se eu deixasse ela brigar!

Mas Dom Tempo barbaçudo
que dá sumiço em tudo,
coisa viva e coisa morta,
foi-se chegando ronceiro,
cruzou sem pressa o terreiro,
passou depois pela porta.

Quantas vezes já nem lembro,
vi enfeitar-se setembro
com as flores roxas do ipé.
Do moço de antigamente
resta este trapo de gente
que mal e mal fica em pé...

E a velha faca amigaça
me acompanhou na desgraça,
me aparceirou na miséria.
- Extraviada da bainha,
ainda lá pela cozinha
nas mãos da negra Quitéria.

Porto Alegre, cheia de junho.

E viva o frio!!!

sábado, junho 24, 2006

Mas ah mana véia...

Bueno, hoje além de ser dia de São João, alguém muito especial faz aniversário: minha irmã. Sempre foi pequenina, quando era criança meu pai a chamava de "roda baixa pneu de lambreta", e invocada, mas dona de um grande coração. Quando vim para o povo, ela, em seguida veio de atrás, o que me fez muito bem, pois ela sempe foi companheiraça. Lembro de quando erámos uns piá e faziamos arte a dá que um pau. Hoje, embora não tenha crescido muito, preserva a ingenuidade e a alegria da Didi que eu me lembro. Tem construído de forma responsável e com muito trabalho sua carreira, do que muito me orgulho. Mas acima de tudo, continua sendo a Mana que sempre foi, nunca faltando comigo em nada e, em todo o tempo, cuidando desse velho traste que insiste em ser desleixado consigo mesmo.
Mana, neste dia e em todos os outros, sejas mui feliz. Que o Patrão de nosotros todos continue a te mandar as cosas mais macanudas.

Um quebra costela do tamanho do Rio Grande.

Porto Alegre, cheia de junho.

sexta-feira, junho 23, 2006

Negro, venta rasgada e músculos rijos
Se criou livre
Hoje, encilhas de prata, mora na estância

Vinagre, bueno de boca e companheiraço
Tão livre quanto o outro foi
É divertimento de uma guriazinha ruiva, também

Lobuno, arcado, anca de vaca
Filho bastardo de um matungo
Puxa carroça
Senão já virou salame.

Porto Alegre, cheia de junho.

quarta-feira, junho 21, 2006

Bueno patrícios, tenho cá me atulhado de coisas para fazer: relatórios, monografias e afins, por esse motivo tenho sido relapso com o Capando. Quando a coisa garrar seu rumo normal volto a postar com a mesma assiduidade. O que posso adiantar e que a formatura está encaminhada e os trabalhos idem.
Como não poderia deixar de deixar de ofertar um regalo, já que meus posts andam pior que mondongo de ontonte, transcrevo este.

Desafio

Aparício da Silva Rillo

Há um potro dentro de mim, pedindo cancha.

Sinto-lhe o bater do coração inquieto
como um tambor a rufar em véspera de peleia braba.

No meu olhar o seu olhar de fogo se confunde
na ânsia de devassar a vastidão de todos os caminhos
que os seus cascos de bronze e asas não pisaram.

Potro de sangue ancestral,
telúrico em seu ímpeto selvagem,
maior porque contido no seu lance
como um cartucho que sente o gatilho pronto para o tiro.

Tudo o que fica além de meu passo de nômade prisioneiro,
tudo o que não alcança o meu braço de músculos dormidos,
tudo o que meu olhar não pressente na distância
- isso tudo a chamá-lo,
tudo a chamá-lo
como um toque de cincerro no silêncio da noite.

Seus ouvidos de animal selvagem
são sensíveis ao apelo da distância,
ao apelo da noite,
ao grito dos que rompem cancelas e aramados
para abrir a golpes de audácia o seu caminho de aventuras.

Há um potro dentro de mim, pedindo cancha...

No laço de chegada,
que fica sempre além,
e ainda mais além,
e sol não se põe nunca,
para vestir de ouro os que tiveram pata
para engolir todo o estirão da raia
que é um desafio de léguas pela frente.

Mas como custa arrebentar o laço
do andarível de partida desta cancha!

Porto Alegre, cheia de junho.

segunda-feira, junho 19, 2006

Esse excerto faz parte do poema "Canto de Adeus para o Peão de Estância", linda lírica de Aparício da Silva Rillo.

Não vou cantar teu vulto de legenda
perdido no impreciso dos tempos e das lendas.
Nas entrelinhas da História se retraça
à tintas de suor somado a sangue
a gesta que foste herói sem nome,
o bruto lutador temperado a minuano,
a fumos de cartucho e guascaços de sol.

Porto Alegre, cheia de junho.

domingo, junho 18, 2006

Perdi a rima em algum lugar do caminho. As palavras ficaram sem aquela lógica que determina os versos rimados. Embora nunca tenha sido um grande versejador, este fato deu-me uma liberdade que muitas vezes, não obstante minha relutância, causa-me embaraço. Há um universo de sons, imagens e cores por descobrir e a cada novo escrito, sinto que este lugar, onde a palavra habita, é minha libertação e, ao mesmo tempo, minha prisão. Mas não é no dito que encontro abrigo, sossego, mas no indizível. O fato de que as coisas não estão definidas por completo é que possibilita a bendita insegurança que alguns chamam de fé. Não posso concordar com aqueles que precisam de uma norma para se agarrar, pois ela nos impede a descoberta, o desafio. Talvez, por isso, alguém há muito tempo tenha dito que com esperança se pode mover montanhas. Já que esses lugares "sólidos" podem se tornar mais do que um lugar de abrigo, mas um esconderijo e ninguém quer ver o seu ser descoberto, pois isso é sinônimo de vulnerabilidade. Agora, pensando melhor, não perdi a rima, apenas a deixei em algum lugar que durante muito tempo usei para me esconder.

Porto Alegre, cheia de junho.

P.S. Ainda peleando com Dom Jayme Caetano.

sábado, junho 17, 2006

Repost

Tardezita, sabiás e bem-te-vis pulam de galho em galho cantado faceiros. Na porta do rancho, sentado na soleira um gaúcho, bombacha remangada traz numa mão a cuia e na outra um palheiro. É o fim de mais um dia de lida. Sobre a face ainda tem o sal do suor que se mistura, vez por outra, ao amargo do mate. Se estica para alcançar a cambona, serve mais um amargo e num pequeno assobio chama para perto o cusco ovelheiro, amigo e confidente. O cusco se vem manhoso, orelhas baixas e cola erguida, se senta aos pés do qüera e fica a lhe olhar. "É companheiro a vida anda braba" foi só o que disse. Mas o cão conhecia bem aquele jeito de dizer sentido e murchou ainda mais as orelhas. O céu que em matizes colorados dava lugar para a noite, parecia simplesmente ser um reflexo dos olhos daquele que sentado, teima em sentir saudades. E o mate já frio e lavado, deixava na boca um gosto de angústia. Deitou a cuia no pé da cambona, calçou as alpargatas e se foi para o rumo do lajeado. Tencionava que lavando o suor do dia lavaria sua alma e a água que correia entre suas mãos levaria para longe essa angústia matreira. No costado do lajeado tirou as alpargatas, a camisa e remangou as bombachas. Já se ia longe o sol e o último rubor escassiara, ficara ele e o cusco sob a lua clara que vinha repontada pela boieira. Deixou-se ficar por um tempo ouvindo o murmúrio da sanga, que num compasso marcado cantava serena para ele escutar. O cusco sestroso olhou bem no seus olhos e devagarito foi se chegando para junto da sanga querendo a sede matar. Um silêncio infinito embalado pela aguada e os grilos, seguia insistindo que era preciso pensar. Desistiu do seu primeiro plano e despido se atirou na sanga com gana, queria lavar a alma, os pensamentos...
Bem cedo, Nicácio cruzando no passo bombeou um cusco sentadito do lado de um corpo nu, que o mirava sentido como dizendo: "é companheiro a vida anda braba!".


Porto Alegre, cheia de junho.

terça-feira, junho 13, 2006

Don Jayme, na maioria das vezes, tem razão!

Esse ar de rebeldia
Que nós guascas ostentamos,
É uma tendência que herdamos
Dos índios da tolderia,
Na bárbara teimosia
De ser Brasil - sentimento
Arraigado no pensamento,
Arraigado no coração,
Espécie de certidão
Anterior ao nascimento.


Porto Alegre, cheia de junho.

sexta-feira, junho 09, 2006

Retrato...

Um verso como retrato descolorido
É o que preciso

Deve ter uma casa grande
Velhos de braços dados
E crianças, muitas crianças
As mulheres de vestido acinturado
E os homens de bombachas

Todos sorriem
Porque parecem felizes
Pois, nos retratos

A felicidade pode ser perene.


Porto Alegre, cheia de junho.

quinta-feira, junho 08, 2006

Chacarera del triste

Patrícios, ouvi essa música outro dia e a achei buenaça. Por isso resolvi compartilhar.

Para qué quiero vivir
con el corazón deshecho,
Para qué quiero la vida
después de lo que me haz hecho.
Yo te di mi corazón
el tuyo vos me entregaste,
con engaños hacia el mío, prenda,
lo despedazaste.

Ay, ¿por qué fuiste tan cruel?
si tu franqueza esperaba,
¿por qué jugaste conmigo?, prenda,
si te idolatraba.
Yo del mundo olvidé
desengaños y amarguras
pero lo que vos me hiciste, prenda,
en mi alma perdura.

Cantando me pasaré
muy triste ésta chacarera.
Pueda ser de que me alegre
en el instante en que muera.
Seguí guitarra, seguí,
seguí como yo, llorando,
compañera hasta la muerte
seguí mi alma consolando.

No hay remedio, yo lo sé,
¿para qué voy a buscarlo?
tan deshecha tengo el alma,
que inútil será lograrlo.
Segui, guitarra, seguí,
prenda, por lo que me hiciste
'rabiando' toda la noche
la chacarera del triste.

Porto Alegre, cheia de junho.

quarta-feira, junho 07, 2006

Agora empecei com gana a monografia que há alguns meses tenho enrolado. Bueno, espero que o resultado seja macanudo. Fora isso, aulas nas escolas, disciplinas na pós e por aí vai... o pouco tempo que me sobra serve para postar alguma bobagem. Como eu e o Don Jayme andemô tomando mate diariamente, vou deixar para ustedes uma coisa que ele me disse outro dia.

Meu orgulho de gaúcho
É ser guasca Missioneiro
E o velho Santo Padroeiro
Que levo por onde andar...
Meu Templo é qualquer lugar,
Pois para chiru que se preza
Lombilho é banco de reza
E o peito tábua de altar!

(De fogão em fogão, 1958, p. 28)

Porto Alegre, cheia de junho.

terça-feira, junho 06, 2006

E eu cá...

Bueno, patrícios eu cá ando entertido com uma pesquisa que parce não ter fim... Agora além da bendita estética tive que me "inlhar" com história e sociologia, la pucha! Só espero que o Don Jayme não me mande um raio na minha cabeça, sabem como é, ele deve ser achicado com o Patrão lá de riba.

Porto Algre, cheia de junho.

P.S. Que baita frio hoje, tá de regueá cusco.