Um palmo e pico de aço,
rude e glorioso pedaço
da espada de um general.
Cabo de prata estrangeira
- velha faca brigadeira
que nunca me deixou mal.
Nesse tempo eu era moço,
não tinha o sangue tão grosso
nem a memória tão fraca.
Índio gaudério sem marca
era maior que um monarca
quando empunhava essa faca.
Mas não era compra-briga,
desses que enchem a barriga
em bochinchos de galpão.
Mui amigo do sossego
não arriscava o pelego
em "rolos" sem precisão.
Mas quando lá volta e meia
me entreverava em peleia
por honra ou obrigação,
afrontava qualquer risco
e essa faca era um corisco
brigando na minha mão.
Sei que há quem ria disso:
- a faca tinha feitiço,
coisa botada, sei lá!
Se escapava da bainha
e ia brigar sozinha
se eu deixasse ela brigar!
Mas Dom Tempo barbaçudo
que dá sumiço em tudo,
coisa viva e coisa morta,
foi-se chegando ronceiro,
cruzou sem pressa o terreiro,
passou depois pela porta.
Quantas vezes já nem lembro,
vi enfeitar-se setembro
com as flores roxas do ipé.
Do moço de antigamente
resta este trapo de gente
que mal e mal fica em pé...
E a velha faca amigaça
me acompanhou na desgraça,
me aparceirou na miséria.
- Extraviada da bainha,
ainda lá pela cozinha
nas mãos da negra Quitéria.
Porto Alegre, cheia de junho.
E viva o frio!!!
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