Perdi a rima em algum lugar do caminho. As palavras ficaram sem aquela lógica que determina os versos rimados. Embora nunca tenha sido um grande versejador, este fato deu-me uma liberdade que muitas vezes, não obstante minha relutância, causa-me embaraço. Há um universo de sons, imagens e cores por descobrir e a cada novo escrito, sinto que este lugar, onde a palavra habita, é minha libertação e, ao mesmo tempo, minha prisão. Mas não é no dito que encontro abrigo, sossego, mas no indizível. O fato de que as coisas não estão definidas por completo é que possibilita a bendita insegurança que alguns chamam de fé. Não posso concordar com aqueles que precisam de uma norma para se agarrar, pois ela nos impede a descoberta, o desafio. Talvez, por isso, alguém há muito tempo tenha dito que com esperança se pode mover montanhas. Já que esses lugares "sólidos" podem se tornar mais do que um lugar de abrigo, mas um esconderijo e ninguém quer ver o seu ser descoberto, pois isso é sinônimo de vulnerabilidade. Agora, pensando melhor, não perdi a rima, apenas a deixei em algum lugar que durante muito tempo usei para me esconder.
Porto Alegre, cheia de junho.
P.S. Ainda peleando com Dom Jayme Caetano.
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