sexta-feira, abril 21, 2006

Discussão à Quatro Mãos

Ontem, em um dos jornais gaúchos, noticiou-se o desligamento do primeiro CTG, dentre os 1.456 filiados ao MTG, por razões "disciplinares". O motivo alegado pelo então presidente do movimento, Manoelito Savaris, é o descumprimento da carta de princípios da entidade tradicionalista. Bueno, em resumo, a gurizada ficou se atracando no maxixe, naquele esfrega-esfrega dos inferno e o MTG, que é mais conservador que embalagem de Maizena, mandou que parassem - segundo o noticioso foram várias advertências verbais, uma por escrito para, por fim, concretizar-se no desligamento junto a entidade.
Conversando com o compadre Marcador decidimos por fazer uma pequena discussão, apontando nossas opiniões - nem tão divergentes assim - sobre o assunto.

Curador: Bueno, do que eu penso sobre maxixes e afins todos sabem, mas não custa nada reforçar, a saber, uma bosta. Quanto ao assunto do desligamento do CTG em Canoas, acredito que a atitude do MTG não é a mais adequada, justamente por pensar que a cultura, não somente a nossa, deve ser inclusiva e não excludente. Uma atitude tão rígida e extrema parece a mim um autoritarismo desmedido. O MTG não pode continuar se comportando como um pai-carrasco que se prende a uma cartilha, que de original e histórica tem muito pouco, fazendo dela sua bíblia. Será que tanta normatização, tantos preceitos e regras não engessaram nossa cultura? Não fomos sempre livres? Não pechamos todos aqueles que quiseram nos aprisionar? Enquanto a entidade que é o sumo pontífice da tradição expulsa seus fiéis maxixeros, por serem hereges, importa carnavalescos do Rio de Janeiro para produzir carros alegóricos no 20 de setembro... se isso não é um contra-senso, então não sei o que é.

Marcador: Bueno... ao contrário do meu nobre amigo, eu discordo. Creio que cada caso é um caso e vice-versa. O fato é o seguinte, a maioria dos CTGs se tornaram clubinhos de tradicionalistas. Cada um a revelia faz o curso de formação e deseja abrir o "seu" CTG. Depois da abertura das portas descobrem que custa caro manter uma entidade cultural. Entretanto para mantê-las resolvem sacrificar o que ela tem de mais importante, seus princípios folclóricos e tradicionais em prol do sustento. É bem verdade que o MTG e seu "ordenamento jurídico" não buscou auxiliar o CTG em suas necessidades, mas pelo que vejo está se importando não com a sobrevivência da entidade, mas sim com a quantidade de jovens pagantes que vão ouvir o baile do maxixe. A que custo, a que preço...

Curador: Não posso deixar de concordar com o compadre, essas questões de sustento dos CTGs e a sua relação com a música comercial é muitas vezes, senão na maioria, um dos motivos que faz com que nossos bailes se tornem uma pouca vergonha. Contudo, hoje são os maxixeros, amanhã os boleteros e assim por diante: a questão é simples, por que não admitimos que a cultura gaúcha é plural, por exemplo eu não ouço vaneiras, e aceitamos os reboladores de salão, ou, então, continuamos trancando o pé e querendo viver numa época que nem certeza que existiu temos. Patrícios, não estou cá a defender os que gostam de dar uma requebrada, somente quero refletir uma outra possibilidade que não seja tão extrema quanto uma exclusão.

Marcador: O meu questionamento, cumpadre, é se de fato foi a decisão mais certa excluí-los. Creio que o mais correto seria manter o referido CTG mais dias de suspensão, com a ressalva dos mesmos perderem os direito de associado ao MTG. Isto é, suspender suas participações em regionais, eliminatórias, etc. A idéia seria abrir mais tempo para o diálogo, para a conversa com fins de buscar uma resolução de conflito de uma forma mais serena. Não basta enviar cartas, nem fazer reprimendas em público, há que ser mais dialogal, mais compreensivo. Quanto à música, eu sou contra por razões de lógica musical. Mas isso é outra discussão.

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