quarta-feira, setembro 01, 2004

A lua que me lembro

Durante algum tempo a lua foi um tema constante em meus escritos. Pensando novamente sobre o tema descubro que a lua que bombeio hoje não é mais a mesma de outrora. Por quê? Não é porque ela perdeu sua poesia, simplesmente, não é mais a mesma que via antes. Não que ela tenha cambiado de forma ou de lugar, é que agora na cidade parece pra mim menos encantadora. Antes ela descobria silhuetas campexanas e agora as únicas que vejo são as dos prédios de apartamentos, que não trazem poesia alguma ao luar.
Mas ao mesmo tempo me lembro das noites enluaradas na campanha, quando as coxilhas, o umbu, a gadaria eram os vultos que ela destapava. Ali é onde os luares são mais verdadeiros. Só quem cruzou coxilhas em noite de lua cheia sabe do que falo. Só quem viu seu reflexo no lagoão entende o que digo. E é desta lua que sinto saudade. Saudade das pescarias sob sua luz difusa, saudade da barriga branca dos jundiás, reveladas por ela, ferrados na sanga rasa. Quantas e quantas vez me deixei ficar na beira do fogo, só mirando aquela que ao longe parceriada pelas estrelas compunha milongas sem precisar cantar. Quanto mais a saudade se aquerencia em meu peito, mais distante ela fica de minha morada.
Um dia quem sabe de volta ao campo, que é meu lugar, não sinta mais saudade da lua que sempre teimei em mirar.

Porto Alegre, cheia de setembro.

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