terça-feira, março 07, 2006

Algumas coisas podem ser ditas e, por isso, o são. Outras, no entanto, são silentes porque se ditas perdem seu vigor, sua forma e significado. Quando saem da boca murcham como planta na ressolana da tarde, como taipa em tempo de seca - estéril, cindida, morta... Quem alguma vez ousou pronunciá-las sentiu o arrepio que vem nas noites de inverno, onde a coruja pia agourenta. Esses não são corajosos, tampouco destemidos, mas imprudentes que não sabem o valor de uma palavra não dita, do silêncio. Não são malditas essas palavras, mas bendição para aqueles que ouvem seus silenciosos sussurros; há alguns que as escutam tão bem que guardam algo de loucura no olhar, um brilho suspeito, incomodo, de quem guarda um segredo, um sortilégio. Param solitos, na frente do fogo, olhando para o nada - nada!? - na luz da retina vê-se o estranho brilho e se pode saber, então, que esse não-lugar, somente não está cá embaixo. Vez por outra movimentam os lábios em prece, talvez. Difícil de compreender: como podem não-estar, estando; como podem ouvir o indizível; como... como...
Segredos, mistérios, distâncias: coisas que o aos bons, aos doutores foi escondido.
Silêncios...
Ausência...
Na porta do rancho miro um piazito que brinca com um barro e gravetos, de repente ele pára, escuta, sorri e segue brincando.


Porto Alegre, nova de março.

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