Quando nasceu, mirado, descolorido e careca seus pais já traçaram seu destino: ser mais um... Cresceu entre os bons, os bonitos, os tauras e ele se contentava em ser mais um, apenas mais um. Chegada a idade de entrar para a escola foi matriculado: sentava-se no meio da sala e, até hoje, nenhum dos seus colegas lembra o seu nome. E, então, foi ficando rapazote soltando os curnio e foi, também, a essa época que começou a nutrir um sonho, seu único sonho: ser ginete. Decidira-se por essa carreira, pois vira o respeito e a notoriedade que esses indivíduos tinham com os homens e, principalmente, com as mulheres. Observava os trejeitos, a linguagem, porte e o garbo com que os ginetes da estância se portavam. Estando sozinho tentava imitar e sentia-se medíocre, extremamente medíocre. Cuidava para que ninguém soubesse do seu intento, o que, por sinal, não lá muito difícil, já que com ninguém falava. Numa manhã cedito tomou coragem, pegou aperos, vestiu as botas, a bombacha e foi ao potreiro. Montou e caiu, montou e caiu, montou e caiu... até que exaustou e machucado, desistiu. Isso se repetiu por semanas a fio, até que um dia um dos peões o flagrou. Pobre guri, achincalhado por todos. Tanto sofreu com as desfeitas que lhe faziam que numa manhã tomou uma resolução: calçou as botas, esporas e tirador, não se esquecendo do lenço encarnado e se boleou para o potreiro. Escolheu logo o malacara mais maleva de toda a tropilha, tanto tentou que conseguiu montar - foram dois corcovos e o tombo e as patas do malacara vindo de encontro ao seu peito. Ali, no chão, viu o céu tingir-se de rubro! Sozinho, sentindo que se ia desta vida, soltou um grunido, misto de gemido e cólera, aos céus que lhe tinham sido tão injustos: Não consegui, eu não consegui.
Porto Algre, nova de março.
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