Entordilhei-me sem, no entanto, ganhar um cabelo branco. Não é o passar dos dias que me deixa mais velho, que faz o contar desses. Mas os sonhos que ganho e perco pelo trilho que troteio. Eram muitos na infância, tema recorrente nos últimos postes, ahora são mais escassos e menos cheios de cor e ingenuidade. Posso dizer que, como o gosto comum, a primavera da vida já se me foi. Não possuo mais aquela amenidade e fecundidade doutros tempos. Embora não me tenham caído todas as folhas, conquanto isso seja mui útil para o reflorescer da existência, prefiro comparar esse período ao inverno que trás consigo o descanso para novas floradas... desse fato não estou completamente certo disso pois, como noutras coisas, o transcurso dessas não seguem seu sentido lógico e comum. Vou do verão à primavera e volto a esse, para mais tarde me encontrar num inverno que parece nunca terminar. De agora posso dizer que a geada tardia de agosto, que causa muitos mais estragos, bateu queimando o que tinha de sobrado da planta, do campo. É provável que nos próximos dias tenha de gastar muita energia para rebrotar, contudo, talvez não rebrote e, então, nova lavoura tenha de ser feita. Agradeço ao campo por ter me dado além de lembranças, fundamentos para metaforzear a existência.
Sigo pois, neste caminho dos que sempre renascem, dos que sempre precisam do morrer de uma idéia para ganhar outras novas. Ainda que esse não seja o mais simples e fácil labor, prefiro ficar com as palavras do sábio homem: "é preciso morrer para germinar".
Porto Alegre, cheia de março.
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