terça-feira, outubro 19, 2004

E o gaúcho...

"O que eu vinha enxergando desde tempito largo (...) era que nós todos, os pobres da campanha, ia acabá emangueirados, como capão pra consumo. E sabem onde? Aqui mesmo, na aldeia, neste cisco."
(Cyro Martins, Porteira Fechada p. 40)
O trecho foi extraído de um romance, mas a realidade não é diferente do relatado. O campo transformou-se, e muito. Hoje tratores, motos e colhedeiras fazem o que faziam homens, cavalos e peães. Contudo, o que mudou no campo não foram realmente as tecnologias e técnicas de produção. Na verdade a mudança aconteceu há muito tempo. Não foram as máquinas que tiraram o homem do campo, foi a ganância de uns em detrimento a liberdade de outros. Durante longos anos o gaúcho sentiu-se livre e senhor de si mesmo. Quando o patrão botou cerca e casa grande na campanha e a sua liberdade se tornou ainda mais virtual. E quando se precisou de mais espaço para o gado quem saiu não foi o patrão, é claro. Apinharam-se no povo, embretados nas vilas e changueando alguns trocados. Assim foi, assim é e assim será. E a liberdade!? Esta é cada vez menor, cada vez mais distante e cada vez mais virtual. E o gaúcho!? Bem, o gaúcho...

Porto Alegre, nova de outubro.

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