"Na madrugada alta e tranqüila, engrinaldada de estrelas, um homem a cavalo alcançava os arredores de Boa Ventura. O chacre rio repousava, soturno. Um frescor perfumado alertava os sentidos. O cavaleiro cuidava as sombras do caminho. No peito cerrado pela bronquite asmática que o torturava, abrigava ainda outra aflição, que crescia à medida que se aproximava de casa. Aquela cena e aquele estado de animo repetiam-se pela terceira vez. Ele não temia a cadeia, temia a vergonha de ser preso por roubo. Mas caiporismo, a desocupação, as exigências do sustento da família, a idade e a doença, sim, também a doença arrastaram-no àquilo: a roubar!"
Quem vive de changa não pode estar satisfeito com a sua dura sorte. Quem empeça um sonho e dá com os burros n'água sofre um suplício. E quem vive uma desilusão, não pode sonhar, nem experimentar aquilo que chamamos de esperança. Sem sonhos e esperança o taura vira bicho e o bicho vive de instinto.
Porto Alegre, crescente de outubro.
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