sexta-feira, outubro 08, 2004

"Maria enche a caneca de leite "proquê" o carreteiro de meio-dia tava salgado." Maria foi até o balde de leite, tirado pela manhã da vaca salina que dava uns bons dez litros. Alcançou a caneta loçada para Nicácio que num gole tomou-a toda. "a la pucha que a sede não mermou". Deu um olhada na volta e rumou para o catre: "pode ser que despois da sesteada o mal-estar diminua". Maria as voltas com a frangaiada, remoía a desfeita que Nicácio lhe fizera na noite passada. "Precisava chegar borracho!? Precisava ter me batido!? Por acaso sou china de regimento!?" e o milho triturado ia bater no chão enquanto Maria pensava as galinhas e galos comiam e cacarejavam.
Nicácio ainda dormia quanto Maria fez a trouxa, roupa mesmo não tinha apenas alguns trapos que o Nicácio lhe dera, e sem bombear para trás seguiu pelo trilho que ia dar no lajeado. Caminhando sentiu-se tão distante de seu rancho, como se estivesse a léguas dali, nem uma lembrança mais restara daquele lugar... ilusão, pura e simples ilusão. De repente o que vem a sua mente são seus dezesseis anos quando Nicácio fora buscá-la na casa de seu pai, depois os filhos o aborto... Lembranças, e a cada passo a frente parecia que voltava dois para trás. Só voltou a si quando pisou na água fria do lajeado.
Nicácio acordou suado, esgualepado por causa da borracheira, lavou o rosto e no pátio foi entrar Maria que dava comida para as galinhas e os galos que cacarejavam.

Porto Alegre, minguante de outubro.

Nenhum comentário: