quinta-feira, julho 15, 2004

Agueceiro

Que aguaceiro brabo bateu! Bombeava pela janela a chuva empeçar e os clarões de relâmpago tronando no céu. Quando era piá não entendia direito e morria de medo desse rufar de patas que ouvia sobre minha cabeça. Hoje é dos dias de chuva que gosto mais. São nestes que o campo renasce e a vida que rebrota refazendo esperanças. Na campanha era assim: nos dias de chuva reuniam-se todos no galpão envolta do fogo ou nas cozinha crioulas derredor do fogão a lenha. Para contar causos e comer bolinho frito. E na comunhão dos campeiros com suas senhoras e filhos ninguém reclamava da chuva lá fora; pelo contrário sabiam que da chuva, a vida vingava. Hoje ninguém mais pára de trabalhar por causa de um dia nublado, aliás hoje ninguém mais pára por nada. Lidamos e lidamos esquecendo que a vida é mais que lidar. E das tardes de mate e bolo frito pouco ficou. E da comunhão destes dias menos ainda, solito o homem moderno tem por seus parceiros um punhado de fios e duas ou três telinhas... e os causos!? Poucos os sabem contar como o faziam os antigos. E a chuva lavando o telhado dos ranchos, lavando minh'alma, levando consigo aguadas de sonhos.

Porto Alegre, minguante de julho.

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