sexta-feira, julho 30, 2004

Contos da Fronteira- Historia veridica de fato

Lá para as bandas de Bagé, vivia um carroceiro, desses bem malandro e pachola. Por renguiar de uma perna, ganhou a alcunha de Zé Manco.
Zé Manco ganhava a vida com fretes e quando sobrava tempo, investia seu salário no passatempo preferido, beber cachaça, e quanto mais forte, melhor!
Quando sai para praticar seu hobbie deixava a carroça em casa. Era quase um esporte de tanto que caminhava de bar em bar em busca da canha perfeita, a saber, aquela que não perde o gosto, mesmo depois do 7º copo.
Pois bem, não é uma atividade fácil, geralmente se pratica em duplas, pois pode ser que precise de ajuda para voltar para casa, Zé Manco tirava por companheiro um moreno que chamaremos de João Tição.
Dia desses, despontava a figura dessa dupla descendo a av. Santa Tecla, a principal via de acesso a cidade de Bagé. Voltavam de mais uma inclusão pelos bolichos da vida, só que desta feita traziam mais um companheiro. Era uma ovelha, bem esfaqueada, tão cheia de furos que se enfiassem uma jarra d'água goela abaixo da bicha, ela se transmudava em garota-propaganda das Duchas Corona.
E iam os três ziguezagueando avenida abaixo, Zé Manco e João Tição a pé, e a nova companheira na garupa da bicicleta.

Pois bem que lá passava a camioneta da brigada, e o brigadeano logo desconfiou daquele trio, não teve dúvidas, arrastaram os três para a Delegacia de Combate ao Abigeato. Abigeato, para quem não está acostumado, é roubo de animal, principalmente gado.

Na hora do interrogatório, o delegado foi direto ao assunto que nem porco nas batatas.
--Me explique sr. José, o que o sr. estava fazendo com uma ovelha esfaqueada na garupa do seu veículo?

Então o Zé Manco inicia a sua explicação que ficou famosa na cidade. Proferia o arrazoado com o a pronúncia inconfundível de quem tinha bebido demais, algo como um padre falando com duas batatas quentes na boca.

-- Pois é sr. delegado, para o sr. ver como é que são as cousa... Nóis uns home de bem, trabalhador honesto, nunca fizemo mal a ninguém... estavamo atravessando um campo quando veio essa ovelha braba que deixaram solta querendo nos mordé. Ai tivemos que matar a bicha para nos defender.

Zé Manco não pode praticar seu esporte preferido naquela noite, pois passou ela na cadeia. De qualquer forma, já teve o bastante para aquele dia, só com muita cachaça mesmo para acreditar que ovelha mordia, ou que o delegado iria acreditar numa história dessas.

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